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TRANSPORTES
Manifestantes entraram em confronto com policiais no viaduto do Chá, perto da prefeitura
Perueiros em greve depredam ônibus e tumultuam o centro
CARLOS IAVELBERG
VICTOR RAMOS
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os perueiros de São Paulo fizeram ontem uma greve geral que
não só deixou mais de 2 milhões
de passageiros sem condução como resultou em ações violentas
na capital paulista inteira e em novos confrontos com a PM em
frente à sede da prefeitura.
Os 6.500 motoristas de lotação,
responsáveis por 40% das viagens
do transporte municipal, paralisaram os serviços em protesto por
reajuste da remuneração. Alguns
líderes divergiam, mas a maioria
decidiu retornar ao trabalho hoje
e colocar cartazes nos veículos
com a inscrição "estado de greve".
A categoria voltou a se concentrar no viaduto do Chá, diante do
gabinete do prefeito José Serra
(PSDB). Durante cinco horas, a
área se transformou em praça de
guerra -repetindo cenas de confrontos entre perueiros e PM
ocorridas no mês passado. Em todas as regiões, 53 ônibus foram
atingidos -39 depredados, dez
incendiados, três tiveram pneus
esvaziados e um foi furtado.
Os 600 manifestantes que se
deslocaram até a área central a
partir das 8h levaram ao bloqueio
do trânsito do viaduto do Chá e da
rua Líbero Badaró por várias vezes -agravando os congestionamentos. A Polícia Militar usou
bombas de efeito moral, sprays de
pimenta e balas de borracha -e
chegou a prender alguns.
Ao menos oito ônibus foram
depredados somente no centro, a
maior parte ainda com os passageiros dentro -sendo atingidos
por estilhaços de vidro. As pessoas se jogavam no chão dos coletivos para se proteger. Uma delas
chegou a usar um guarda-chuva
para tapar a janela sem vidro.
Num dos veículos, nem a chegada da PM foi suficiente para acalmar os usuários. Mesmo com os
manifestantes já afastados, a abertura da porta do ônibus fazia os
passageiros saírem correndo, em
fuga, muitos deles chorando.
O comércio da região permaneceu fechado nos momentos de
conflitos, entre 11h e 16h. Na periferia, coletivos foram incendiados
por homens encapuzados.
À noite, os líderes dos perueiros
prometiam voltar ao trabalho hoje, depois de determinação do
TRT (Tribunal Regional do Trabalho), que anunciou ainda uma
tentativa de conciliação amanhã.
Os protestos fazem dos perueiros um dos maiores motivos de
desgaste do governo tucano. Os
motoristas de lotação já tinham
feito uma greve de dois dias em janeiro -algo inédito desde que
passaram por licitação e receberam os termos de permissão de
serviço, em julho de 2003.
Pedras e correria
Às 9h30, os manifestantes eram
300 e ocupavam a calçada em
frente à prefeitura. Às 11h, quando
chegavam a 600, segundo a PM,
começaram a invadir as pistas do
viaduto do Chá. Depois, cinco
ônibus elétricos foram apedrejados e tiveram vidros quebrados.
Pela primeira vez no dia, a polícia avançou sobre a manifestação,
disparando balas de borracha e
bombas de efeito moral. Os manifestantes responderam atirando
pedras contra os policiais. Houve
correria e as lojas fecharam. Após
duas horas de trégua, houve novos confrontos. A situação só ficou calma perto das 17h, quando
lideranças dos perueiros pediram
que todos voltassem às garagens.
Os perueiros reivindicam reajuste da remuneração e alegam
que os repasses da prefeitura aos
operadores chegaram até mesmo
a cair após a elevação da tarifa cobrada dos usuários, de R$ 1,70 para R$ 2,00, no começo deste mês.
Até então, havia uma regra transitória pela qual eles recebiam tudo aquilo que arrecadavam -em
valores que passavam de R$ 70
milhões num mês-, mas não ganhavam pelas baldeações gratuitas do bilhete único nem pela condução de idosos, por exemplo.
A partir de 5 de janeiro, a prefeitura passou a adotar as regras dos
contratos firmados em julho de
2003, pela qual eles devem ganhar
entre R$ 0,63 e R$ 0,93 por passageiro, incluindo as gratuidades.
Esse montante, porém, ficaria
neste mês próximo de R$ 55 milhões, segundo os operadores.
A gestão Serra admite que esses
valores precisam ser revistos, mas
alega que a definição só se dará
com a conclusão de estudos de reformulação das linhas do transporte. Enquanto isso, aceita negociar algo próximo de R$ 70 milhões -considerado insuficiente
pelos perueiros, que dizem precisar de, no mínimo, R$ 98 milhões.
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