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"BOAS-VINDAS"
Universidade investiga caso de calouros obrigados a ingerir pimenta e entrar em chafariz sujo na Sé
Aluno é recebido com trote violento na USP
AFRA BALAZINA
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Calouros da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São
Paulo) sofreram trote violento.
Eles foram obrigados a tomar banho na fonte da praça da Sé (centro de São Paulo) na segunda-feira passada. A água estava com
forte cheiro de urina, segundo relato de um dos estudantes.
A faculdade reconhece que houve trote violento e trabalha para
identificar e punir os veteranos
responsáveis.
Um dos alunos novatos ouvidos
pela Folha, que tem 17 anos e não
quis se identificar com receio de
retaliação, contou que os veteranos entraram na sala de aula e levaram os calouros do largo São
Francisco (onde fica a faculdade)
até a Sé, amarrados com barbante
uns aos outros pela cueca, para
entrar na água suja do chafariz.
Segundo ele, os estudantes eram
coagidos a beber cachaça e molho
de pimenta, além de comer cebola
crua e churrasquinho grego.
"Fui obrigado a ir. Não tinha como fugir dos veteranos porque só
existe uma saída na sala. A gente
ficou encurralado", afirmou.
De acordo com o estudante, os
calouros tiraram a camisa e os sapatos na faculdade e foram descalços ao local do banho. Como
não podia voltar para casa porque
precisava fazer um trabalho na faculdade, o aluno tomou uma chuveirada no banheiro da USP e esperou a roupa secar no corpo.
A mãe do calouro classificou os
veteranos de "bandidos". Ontem,
a mãe de outro novato se reuniu
com o diretor da faculdade,
Eduardo Cesar Silveira Vita Marchi, para denunciar o trote.
Outro calouro, também de 17
anos, afirmou que ficou apreensivo principalmente no começo do
trote. Ele disse que o chão da fonte
estava escorregadio. "Algumas
pessoas caíram."
Segundo ele, como não havia
maneira nenhuma de escapar, o
jeito foi encarar o trote do banho
como uma brincadeira. O aluno
disse que conseguiu esconder sua
camiseta e seu tênis na mochila
-por isso, não precisou esperar
para ir embora após o banho na
água suja. As meninas novatas do
curso acompanharam todo o percurso, mas não participaram da
imersão na fonte da Sé.
Outro trote foi um leilão de sapatos, que aconteceu na segunda-feira retrasada. Os veteranos tiraram os calçados dos calouros e,
depois, venderam os pares para
os donos. O preço máximo obtido
por um sapato foi R$ 10. A maioria pagou entre R$ 3 e R$ 5.
Desde 1999, quando um calouro
de medicina da USP morreu afogado durante uma festa dos estudantes do curso, a universidade
proíbe os trotes violentos. São
considerados violentas todos as
brincadeiras feitas contra a vontade dos estudantes.
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