São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 2005

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"BOAS-VINDAS"

Universidade investiga caso de calouros obrigados a ingerir pimenta e entrar em chafariz sujo na Sé

Aluno é recebido com trote violento na USP

AFRA BALAZINA
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Calouros da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) sofreram trote violento. Eles foram obrigados a tomar banho na fonte da praça da Sé (centro de São Paulo) na segunda-feira passada. A água estava com forte cheiro de urina, segundo relato de um dos estudantes.
A faculdade reconhece que houve trote violento e trabalha para identificar e punir os veteranos responsáveis.
Um dos alunos novatos ouvidos pela Folha, que tem 17 anos e não quis se identificar com receio de retaliação, contou que os veteranos entraram na sala de aula e levaram os calouros do largo São Francisco (onde fica a faculdade) até a Sé, amarrados com barbante uns aos outros pela cueca, para entrar na água suja do chafariz. Segundo ele, os estudantes eram coagidos a beber cachaça e molho de pimenta, além de comer cebola crua e churrasquinho grego.
"Fui obrigado a ir. Não tinha como fugir dos veteranos porque só existe uma saída na sala. A gente ficou encurralado", afirmou.
De acordo com o estudante, os calouros tiraram a camisa e os sapatos na faculdade e foram descalços ao local do banho. Como não podia voltar para casa porque precisava fazer um trabalho na faculdade, o aluno tomou uma chuveirada no banheiro da USP e esperou a roupa secar no corpo.
A mãe do calouro classificou os veteranos de "bandidos". Ontem, a mãe de outro novato se reuniu com o diretor da faculdade, Eduardo Cesar Silveira Vita Marchi, para denunciar o trote.
Outro calouro, também de 17 anos, afirmou que ficou apreensivo principalmente no começo do trote. Ele disse que o chão da fonte estava escorregadio. "Algumas pessoas caíram."
Segundo ele, como não havia maneira nenhuma de escapar, o jeito foi encarar o trote do banho como uma brincadeira. O aluno disse que conseguiu esconder sua camiseta e seu tênis na mochila -por isso, não precisou esperar para ir embora após o banho na água suja. As meninas novatas do curso acompanharam todo o percurso, mas não participaram da imersão na fonte da Sé.
Outro trote foi um leilão de sapatos, que aconteceu na segunda-feira retrasada. Os veteranos tiraram os calçados dos calouros e, depois, venderam os pares para os donos. O preço máximo obtido por um sapato foi R$ 10. A maioria pagou entre R$ 3 e R$ 5.
Desde 1999, quando um calouro de medicina da USP morreu afogado durante uma festa dos estudantes do curso, a universidade proíbe os trotes violentos. São considerados violentas todos as brincadeiras feitas contra a vontade dos estudantes.


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