São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2008

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Cavernas fecham, afetam turismo e Vale do Ribeira esvazia

Há pelo menos 30 pousadas vazias, 250 monitores sem trabalho e diversas escolas cancelaram excursões ao local

Cavernas estão fechadas há quase um mês por ordem do Ibama; os três parques afetados são o Petar, o Jacupiranga e o Intervales

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Caverna do Diabo, no Vale do Ribeira, em SP, que está fechada a cerca de um mês por ordem do Ibama


AFRA BALAZINA
ENVIADA ESPECIAL AO VALE DO RIBEIRA

A Páscoa pode ser amarga para boa parte da população do Vale do Ribeira que depende do turismo de cavernas para sobreviver. Há pelo menos 30 pousadas vazias, 250 monitores sem trabalho e diversas escolas com excursões canceladas, enquanto o governo federal e o estadual tentam entrar em um acordo a respeito da visitação das grutas em três parques do Estado.
As cavernas estão fechadas há quase um mês por determinação do Ibama (instituto ambiental federal). Os três parques afetados são o Petar, o Jacupiranga (onde fica a caverna do Diabo) e o Intervales. A cidade mais atingida é Iporanga, com 4.600 moradores.
O motivo da interdição, segundo o Ibama, é a falta de plano de manejo (estudo para mapear riscos de degradação do ambiente e as condições de segurança para os turistas).
Sônia Aparecida Santos, dona da pousada Casa de Pedra, define assim a situação: "Estamos num pedaço de paraíso com todos os problemas do inferno".
Em meio à mata atlântica, com trilhas perfumadas por lírios brancos e cheias de bromélias vermelhas, cachoeiras e cavernas, ela conta que há cheques de donos de pousadas "voltando", dívidas crescendo e desistências nas reservas.
Algumas hospedarias deram férias para funcionários. Na Pousada das Cavernas, há cinco quartos reservados para a Páscoa, dos 24 existentes -os turistas ainda aguardam para saber se as cavernas vão reabrir.
"Normalmente, a pousada encheria, como no Carnaval. Deveríamos receber 80 alunos antes do feriado, mas já desmarcaram", conta o administrador Geferson Rodrigues, 30.
A Pousada da Diva -a maior de Iporanga, com 55 quartos- teve cancelamento da reserva de uma escola com 180 alunos recentemente.
"Esperamos que reabram as cavernas antes do feriado. Senão, o prejuízo será incalculável", diz Wanilda de Andrade, filha da proprietária.
O monitor ambiental Renato Castro, 41, morador de Apiaí, diz sofrer com a situação. "Minha mulher também é guia. Então, estamos nós dois sem trabalho", afirma ele, que recebe de R$ 80 a R$ 100 para levar um grupo com até dez pessoas para visitar o interior das cavernas da região.

Fora dos parques
Com as grutas fechadas dentro de parques, turistas acabam indo para as cavernas localizadas em áreas particulares -há cerca de 30 na região.
A mais procurada é a Laje Branca. O proprietário da área não cobra entrada, e monitores levam visitantes para conhecer a caverna e fazer rapel.
Guias se negaram, entretanto, a levar a reportagem da Folha até a caverna. Eles temem que a Laje Branca também seja fechada pelo Ibama.
As cavernas são consideradas bens da União. Mesmo em áreas privadas, sua exploração requer licenciamento ambiental do governo federal.
Clayton Lino, espeleólogo que integra a entidade Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, considera estranho o fato de a interdição ter ocorrido apenas em cavernas dentro de parques. "As grutas de parques no Vale do Ribeira não estão abandonadas, estão entre as mais controladas do país."
Ele afirma, ainda, que foram necessárias décadas de trabalho para criar infra-estrutura na região -com a construção de pousadas e formação de monitores. "É um impacto social enorme numa das regiões mais carentes. É uma grande irresponsabilidade."


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