|
Próximo Texto | Índice
Sabesp passa a explorar serviços de lixo
Após mudar estatuto, empresa vai operar aterros em Itapecerica da Serra e São João da Boa Vista; estatal pretende atuar em outros Estados
Líder da oposição, Enio Tatto diz que a estatal deveria primeiro melhorar serviço de água e do esgoto antes de entrar em outro mercado
Luciano Amarante-3.jun.08/Folha Imagem
|
|
Caminhões de lixo em Itapecerica da Serra (Grande São Paulo), município que enfrenta problemas com seu aterro
ROGÉRIO PAGNAN
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Sabesp, estatal paulista
responsável pelos serviços de
água e esgoto em 365 das 645
cidades do Estado, entrou no
bilionário mercado de lixo.
A empresa, vinculada à administração José Serra (PSDB),
assinou neste mês um protocolo de intenções para implantar
e operar o aterro sanitário de
São João da Boa Vista e fará o
mesmo hoje com Itapecerica
da Serra (Grande São Paulo). A
expectativa é que inicie o serviço nos próximos 90 dias.
Essas duas cidades -ambas
geridas pelo PMDB, são o primeiro passo para a Sabesp
atuar nos serviços de lixo não
só em São Paulo mas também
em outros Estados e países.
Para isso, a Sabesp alterou
seu estatuto com base na lei estadual 1.025/07, que criou a
Agência de Regulação dos Serviços de Saneamento e Energia
e autoriza sua participação nos
mercados de "drenagem, serviços de limpeza urbana (coleta,
por exemplo), manejo de resíduos sólidos e energia".
O presidente da Sabesp, Gesner Oliveira, diz que está em estudo uma relação de cidades
em que a empresa poderá participar de licitações do lixo, inclusive em parcerias. Segundo
ele, essas mudanças não têm o
objetivo nem abrem caminho
para privatização. "Ao contrário. Isso fortalece a empresa."
Falta de terrenos
A falta de áreas para a construção de aterros é um problema sério em várias regiões. Para o prefeito de Itapecerica,
Jorge Costa (PMDB), a Sabesp,
por ser uma estatal, terá mais
condições políticas para negociar a construção de aterros regionais, com várias prefeituras.
Ele diz que a ideia é operar
um aterro que atenderá, além
de Itapecerica, outras cinco cidades (Taboão da Serra, Embu-Guaçu, Embu, São Lourenço e
Juquitiba). "A despesa [R$ 240
mil/mês] cairá pela metade.
Hoje levamos o lixo para um
particular a 54 km daqui."
O prefeito de São João, Nelson Mancini (PMDB), afirma
que propôs à Sabesp para que
ela assumisse o aterro ainda em
2005, dentro da negociação de
renovação do contrato do abastecimento de água da cidade.
"Tenho ojeriza à terceirização.
Mesmo tendo participação privada, a Sabesp ainda é estatal e
seu objetivo não é estritamente
a obtenção do lucro." Somente
o Estado de São Paulo produz
por dia cerca de 40 mil toneladas de lixo, conforme dados da
ABLP (Associação Brasileira de
Resíduos Sólidos e Limpeza
Pública). Trata-se de um mercado dominado por grandes
empreiteiras e no qual não são
raras denúncias de corrupção.
A cidade de São Paulo, maior
geradora de resíduos do país,
com 15 mil toneladas diárias,
despende por mês R$ 41 milhões em coleta e destinação final do lixo e outros R$ 25 milhões com a varrição, contrato
que inclui a lavagem de calçadas, conforme a prefeitura. São
R$ 792 milhões/ano.
Informada pela Folha dos
planos da Sabesp para o setor, a
diretoria da ABLP disse que
não poderia comentar o assunto ontem porque não tinha detalhes do projeto, mas vai colocar o caso em discussão.
O promotor de Ribeirão Preto Aroldo Costa Filho, que participou da investigação de uma
suposta máfia do lixo no interior de São Paulo, disse considerar positiva a participação da
Sabesp nesse mercado. "Isso
diminui as chances de uma
eventual fraude nas licitações e
a fiscalização de uma empresa
pública é muito mais fácil."
Já o líder da oposição na Assembleia, Enio Tatto (PT), critica a expansão da empresa. "A
Sabesp não faz nem o que deveria fazer, que é cuidar do abastecimento de água e do tratamento do esgoto. Não sou contra a empresa entrar em novos
negócios, mas precisa primeiro
resolver o que deveria ser a sua
prioridade."
A iniciativa da Sabesp também coincide com um avanço
na fiscalização dos aterros sanitários do Estado pela Cetesb
(agência ambiental paulista),
órgão ligado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente.
O próprio aterro municipal
de Itapecerica da Serra foi fechado em 2008 pela Cetesb e,
por isso, a prefeitura teve de
contratar um aterro particular.
Serra participará hoje da assinatura do protocolo que
transfere para a Sabesp o aterro de Itapecerica.
Próximo Texto: Foco: Sumiço de ilha de 20 mil metros quadrados intriga biólogo e governo do Rio Índice
|