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TRÂNSITO
Ex-funcionário da CET afirma que pedidos eram feitos por assessores, e anulação ocorria fora dos trâmites normais
Demitido diz que anulou multas de políticos
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-funcionário da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego)
de São Paulo, demitido sob a acusação de comandar um esquema
de anulação de multas de trânsito,
Hugo Carlos de Almeida, 43, afirma que era procurado por pessoas que se apresentavam como
assessores de políticos e de partidos para que ele deferisse recursos e cancelasse penalidades.
Em entrevista à Folha, Almeida
diz ter anulado, depois de ser procurado por telefone, multas, por
exemplo, do vereador Abou Anni
(PV), do suplente de vereador Ricardo Teixeira (PSDB) -que trabalha na Secretaria das Subprefeituras da administração José Serra/Gilberto Kassab- e de uma
pessoa que se disse ligada ao vereador Bispo Atílio (PRB).
Cita ainda um assessor de confiança do DTP (Departamento de
Transportes Públicos), órgão ligado à Secretaria dos Transportes.
"O próprio pessoal do PSDB andou pedindo. Teve vereador do
PT, do PV. Sempre pela assessoria", disse ele, sem querer dar detalhes nem citar mais nomes.
A comissão de sindicância que
investigou a anulação indevida de
6.554 multas, que totalizariam R$
1,08 milhão, também detectou 26
empregados da CET entre os beneficiados pelos cancelamentos
-alguns em cargos de chefia.
Almeida tinha a função de analisar a chamada defesa prévia de
multas, instância instituída em
2004 para avaliar só aspectos formais, como os erros flagrantes
nos autos de infração. Por exemplo, um motorista multado por
desrespeito ao rodízio às 12h,
quando a restrição não existe.
A investigação municipal detectou que ele cancelou, entre 2004 e
2005, milhares de multas que não
se enquadravam nessa regra, algumas sem a documentação mínima exigida, muitas com a mesma caligrafia nos recursos e com
argumentos que, ainda que procedentes, só poderiam ser julgados pelas Jaris -juntas que avaliam as questões de mérito, como
a justificativa do motorista de que
não estava naquele lugar ou de
que estava sendo assaltado.
Almeida, que foi chefe do protocolo do DSV (Departamento de
Operações do Sistema Viário),
que valida as multas aplicadas por
fiscais da CET, nega ter agido com
má-fé ou recebido qualquer vantagem para a anulação das multas.
Ele diz que, durante sete meses,
a máquina que fornecia imagens
dos autos de infração feitos por
fiscais ficou quebrada, sem permitir que ele verificasse a consistência das multas. "Na dúvida, a
decisão é sempre a favor do réu."
O ex-funcionário, afastado no
final de 2005, também diz que, em
alguns casos, analisou questões de
mérito dos recursos dos motoristas, e não só erros formais, por
considerar que há brechas na legislação. Nesses casos entraram as
multas ligadas a alguns políticos.
"Argumentos procedentes"
Almeida afirma que decidiu
anulá-las por considerar que os
argumentos dos assessores de
partidos que ligavam em seu telefone, mesmo sem o conhecer pessoalmente, eram procedentes e
que a penalidade era injusta.
Ou seja, boa parte dessas multas
até pode ter sido aplicada pela
CET de forma indevida, merecendo ser anulada. A irregularidade
seria seu cancelamento fora dos
procedimentos normais exigidos
para qualquer cidadão, por uma
instância sem esse poder e depois
de contatos com quem julga.
"É diferente quando se ouve alguém argumentando por telefone. Se ele não fizesse assim, certamente passaria despercebido."
A multa de Abou Anni é um caso emblemático. O próprio vereador afirmou à Folha que estranhou a forma como ela foi anulada e negou que seus assessores tenham feito qualquer solicitação.
Ele conta que a infração por estacionamento foi aplicada no ano
passado, quando ele estava num
hospital. O cartão de zona azul foi
colocado no pára-brisa, e, mesmo
assim, diz Abou Anni, um fiscal
da CET multou seu veículo e ainda deixou a cópia do auto de infração em cima do símbolo que
identifica seu veículo oficial.
O vereador do PV achou a situação "absurda" e resolveu denunciá-la. Diz ter enviado uma carta à
cúpula da CET pedindo uma investigação do caso e que só soube
que a multa fora cancelada por
não ter recebido nada para pagar.
Nega que algum assessor seu tenha ligado para Almeida. "Vai ver
foi alguém do governo. Talvez viram a besteira que esse fiscal cometeu e tentaram corrigir."
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