São Paulo, domingo, 17 de abril de 2011

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Aumento de armas eleva homicídios, diz pesquisador

Estudo feito por Daniel Cerqueira, do Ipea, aponta que as mortes crescem quando a população não é desarmada

Para ele, no entanto, a proposta de realizar um novo plebiscito sobre a venda de armas de fogo no país é um equívoco

JANAINA LAGE
DO RIO

A cada aumento de 1% nas armas disponíveis, sobe em 2% o número de homicídios. Os dados são do doutorado de Daniel Cerqueira, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
O estudo comprova que o maior acesso a armas cria as condições necessárias para o crescimento no número de crimes interpessoais. O pesquisador afirma que a proposta de novo plebiscito sobre a venda de armas é um equívoco e que a prioridade seria aprimorar o Estatuto do Desarmamento.

 

Folha - Em que medida o aumento de armas contribui para a alta na criminalidade?
Daniel Cerqueira
- Realizamos um estudo que mostra que 1% a mais de armas significa um aumento de 2% no total de homicídios. De outro lado, a retirada de armas não produz efeito sobre os crimes contra o patrimônio, perpetrados por bandidos profissionais. Os crimes interpessoais envolvem conflito, discussão ou questões passionais, e a posse de armas pode fazer diferença.

O massacre de Realengo trouxe de volta as discussões sobre o desarmamento. Como o senhor avalia a discussão?
Nos países desenvolvidos, as discussões sobre políticas públicas são feitas baseadas em argumentos racionais. Levam em conta trabalhos científicos e a mensuração dos resultados em programas para a redução de homicídios. Aqui a discussão é basicamente reativa e emocional. Após uma tragédia, aparecem ideias brilhantes, sem comprovação.

Como o sr. analisa o resultado do referendo de 2005?
O referendo colocou em pauta dois direitos: a liberdade individual e a segurança pública. A discussão foi totalmente equivocada.
De um lado, as pessoas a favor da arma de fogo diziam: "Ah, você vai desarmar o pai de família e deixar o bandido armado". Do outro, diziam: "Temos de banir as armas porque queremos paz". Os dois se limitaram ao aspecto emotivo, sem promover uma discussão sobre os custos destes direitos.

Como o sr. vê a proposta de uma nova consulta?
É um equívoco. Há seis anos a maioria já decidiu que é a favor da venda de armas. Vamos gastar tempo e energia, em vez de melhorar o Estatuto do Desarmamento.


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