São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 2005

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TRANSPORTE

Fraude representa 0,5% dos registros diários do sistema, que faz aniversário amanhã, mas causa prejuízo de R$ 15 milhões/ano

Bilhete único tem 25 mil viagens suspeitas

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os paulistanos conseguem atravessar a cidade de São Paulo de ponta a ponta utilizando somente duas conduções.
No entanto, desde a implantação do bilhete único -que completa um ano amanhã-, existem em média 840 registros por dia de utilização do cartão inteligente em oito ônibus ou lotações no intervalo de duas horas. É como se um passageiro ficasse menos de 15 minutos em cada veículo, já que ainda perde tempo na calçada à espera do seguinte.
No total, se considerados os bilhetes que passam em cinco ou mais catracas em uma única viagem -aproveitando a vantagem das baldeações gratuitas-, essa quantidade sobe para 25.286.
O número representa 0,5% de todos os registros diários do bilhete único. Parece pouca coisa diante dos mais de 5 milhões de usuários. Num ano inteiro, entretanto, considerada a tarifa atual de R$ 2, equivale a mais de R$ 15 milhões -dinheiro suficiente para a compra de cem ônibus novos.
Na prática, essas são as viagens do bilhete único feitas de graça e que estão sob suspeita de fraude ou distorção -já que os técnicos duvidam que um usuário comum use cinco ou mais conduções simplesmente para se deslocar a algum destino dentro da cidade.

Tempo de ajustes
Entre as fraudes já detectadas estão a de ambulantes que comercializam cartões nas proximidades de pontos ou terminais, oferecendo a passagem por preços menores em troca da devolução do bilhete pela janela -que, a partir daí, pode ser usado em outras catracas, no intervalo de até duas horas, sem débito adicional.
Na avaliação de especialistas, a proporção de viagens sob suspeita não é significativa, porém é um dos aspectos que mereceriam ser alvo de ajustes neste primeiro aniversário do bilhete único.
Jaime Waisman, professor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), avalia que "fazer um grande investimento para combater uma proporção pequena de fraude muitas vezes não compensa". Ressalva, no entanto, que limitar as transferências gratuitas em "um número razoável" seria uma forma mais simples de evitar as distorções.
O especialista afirma que um teto de quatro conduções no intervalo de duas horas seria suficiente para disciplinar a utilização do cartão. "É muito improvável que alguém precise mais do que isso para chegar a algum lugar", afirma ele, que sugere ainda a restrição à possibilidade de ir e voltar com um mesmo bilhete sem pagar uma nova tarifa. "São coisas pontuais. O fato é que está todo mundo feliz", diz Waisman, citando tanto os passageiros como os empresários de ônibus.
O consultor Horácio Augusto Figueira se mostra favorável a uma outra forma de controle: impor um limite mínimo de tempo para que um bilhete possa ser usado gratuitamente na próxima condução. Ou seja, só seria possível passar na catraca do quinto ônibus 15 minutos depois de ele ter passado na catraca do quarto.

Integração
A possibilidade de ajustes no bilhete único já foi motivo de debate no governo José Serra (PSDB), que teme os efeitos políticos, porém, de mudar um projeto da ex-prefeita Marta Suplicy (PT) com altos índices de aprovação tanto de usuários como de especialistas.
Oficialmente, os tucanos só anunciam como mudança a ampliação do bilhete único para as redes de metrô e trem, prometida para este ano, mas que também poderá ser motivo de desgaste -já que, diferentemente da expectativa criada na campanha, a tendência é que seja adotada uma tarifa mais próxima de R$ 3,60, mesmo valor do passe que já permite atualmente uma viagem de ônibus e outra de metrô, com desconto de só R$ 0,50 sobre os valores somados de cada transporte.
Pesquisa do Datafolha realizada no começo de abril apontava um índice de aprovação geral do bilhete único de 93%, superior aos 81% de junho de 2004, um mês depois de sua implantação.
O levantamento sinalizava que a satisfação é menor -69% de ótimo e bom- em relação à facilidade para comprar e recarregar os créditos do cartão inteligente.
Apesar de 7,8 milhões de bilhetes já terem sido distribuídos, a falta deles nas casas lotéricas e postos autorizados virou motivo de reclamações nos últimos meses, além de servir de incentivo à criação de um mercado paralelo de cartões vazios.


Leia mais sobre bilhete único na www.folha.com.br/especial/2005/bilheteunico


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