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TRANSPORTE
Fraude representa 0,5% dos registros diários do sistema, que faz aniversário amanhã, mas causa prejuízo de R$ 15 milhões/ano
Bilhete único tem 25 mil viagens suspeitas
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os paulistanos conseguem atravessar a cidade de São Paulo de
ponta a ponta utilizando somente
duas conduções.
No entanto, desde a implantação do bilhete único -que completa um ano amanhã-, existem
em média 840 registros por dia de
utilização do cartão inteligente
em oito ônibus ou lotações no intervalo de duas horas. É como se
um passageiro ficasse menos de
15 minutos em cada veículo, já
que ainda perde tempo na calçada
à espera do seguinte.
No total, se considerados os bilhetes que passam em cinco ou
mais catracas em uma única viagem -aproveitando a vantagem
das baldeações gratuitas-, essa
quantidade sobe para 25.286.
O número representa 0,5% de
todos os registros diários do bilhete único. Parece pouca coisa
diante dos mais de 5 milhões de
usuários. Num ano inteiro, entretanto, considerada a tarifa atual
de R$ 2, equivale a mais de R$ 15
milhões -dinheiro suficiente para a compra de cem ônibus novos.
Na prática, essas são as viagens
do bilhete único feitas de graça e
que estão sob suspeita de fraude
ou distorção -já que os técnicos
duvidam que um usuário comum
use cinco ou mais conduções simplesmente para se deslocar a algum destino dentro da cidade.
Tempo de ajustes
Entre as fraudes já detectadas
estão a de ambulantes que comercializam cartões nas proximidades de pontos ou terminais, oferecendo a passagem por preços menores em troca da devolução do
bilhete pela janela -que, a partir
daí, pode ser usado em outras catracas, no intervalo de até duas
horas, sem débito adicional.
Na avaliação de especialistas, a
proporção de viagens sob suspeita não é significativa, porém é um
dos aspectos que mereceriam ser
alvo de ajustes neste primeiro aniversário do bilhete único.
Jaime Waisman, professor da
Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), avalia
que "fazer um grande investimento para combater uma proporção pequena de fraude muitas
vezes não compensa". Ressalva,
no entanto, que limitar as transferências gratuitas em "um número
razoável" seria uma forma mais
simples de evitar as distorções.
O especialista afirma que um teto de quatro conduções no intervalo de duas horas seria suficiente
para disciplinar a utilização do
cartão. "É muito improvável que
alguém precise mais do que isso
para chegar a algum lugar", afirma ele, que sugere ainda a restrição à possibilidade de ir e voltar
com um mesmo bilhete sem pagar uma nova tarifa. "São coisas
pontuais. O fato é que está todo
mundo feliz", diz Waisman, citando tanto os passageiros como
os empresários de ônibus.
O consultor Horácio Augusto
Figueira se mostra favorável a
uma outra forma de controle: impor um limite mínimo de tempo
para que um bilhete possa ser usado gratuitamente na próxima
condução. Ou seja, só seria possível passar na catraca do quinto
ônibus 15 minutos depois de ele
ter passado na catraca do quarto.
Integração
A possibilidade de ajustes no bilhete único já foi motivo de debate
no governo José Serra (PSDB),
que teme os efeitos políticos, porém, de mudar um projeto da ex-prefeita Marta Suplicy (PT) com
altos índices de aprovação tanto
de usuários como de especialistas.
Oficialmente, os tucanos só
anunciam como mudança a ampliação do bilhete único para as
redes de metrô e trem, prometida
para este ano, mas que também
poderá ser motivo de desgaste
-já que, diferentemente da expectativa criada na campanha, a
tendência é que seja adotada uma
tarifa mais próxima de R$ 3,60,
mesmo valor do passe que já permite atualmente uma viagem de
ônibus e outra de metrô, com desconto de só R$ 0,50 sobre os valores somados de cada transporte.
Pesquisa do Datafolha realizada
no começo de abril apontava um
índice de aprovação geral do bilhete único de 93%, superior aos
81% de junho de 2004, um mês
depois de sua implantação.
O levantamento sinalizava que a
satisfação é menor -69% de ótimo e bom- em relação à facilidade para comprar e recarregar
os créditos do cartão inteligente.
Apesar de 7,8 milhões de bilhetes já terem sido distribuídos, a
falta deles nas casas lotéricas e
postos autorizados virou motivo
de reclamações nos últimos meses, além de servir de incentivo à
criação de um mercado paralelo
de cartões vazios.
Leia mais sobre bilhete único na
www.folha.com.br/especial/2005/bilheteunico
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