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GUERRA URBANA /ACORDO
Governo nega acordo, mas confirma que advogada teve acesso à cúpula da facção, que está em isolamento em presídio do interior
Comitiva foi de avião negociar com o PCC
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
CRISTIANO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA AGÊNCIA FOLHA, EM
PRESIDENTE PRUDENTE
Durante a onda de atentados e
rebeliões nos presídios, o governo
paulista encaminhou, de avião,
uma comitiva para negociar com
a cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital), presa em Presidente Bernardes (589 km de SP).
No último domingo, o corregedor dos presídios da Secretaria da
Administração Penitenciária, um
delegado representando a Secretaria da Segurança Pública, um
coronel da Polícia Militar e uma
advogada dos presos participaram de uma conversa de cerca de
40 minutos com o líder máximo
do PCC, Marcos Willians Herbas
Camacho, o Marcola, e outros sete integrantes da cúpula da facção.
Em um episódio inédito, um
avião da Polícia Militar foi usado
para levar, às pressas, na tarde de
domingo, três integrantes da comitiva de São Paulo para Presidente Prudente (565 km de SP).
De lá, o grupo -que teve ainda
a adesão do coronel Aílton Araújo
Brandão, comandante da PM na
região- rumou para a cidade vizinha de Presidente Bernardes,
onde a cúpula da facção está presa
desde o último sábado.
O governo nega ter negociado
com o PCC o fim dos ataques e rebeliões, mas só ontem admitiu ter
enviado a comitiva para conversar com Marcola. Anteontem, o
comando da facção ordenou o
fim da onda de violência.
Integrantes da comitiva, no entanto, apresentam versões contraditórias sobre o diálogo com os líderes do PCC. A advogada Iracema Vasciaveo, que representava
as famílias dos presos, afirma que
os integrantes do governo apenas
a acompanharam "em uma demonstração de boa vontade" e
não fizeram nenhum pedido à cúpula da facção. Segundo ela, os líderes do PCC foram retirados das
celas e os representantes do governo apenas ouviram a conversa.
O coronel Brandão faz outro relato: "O que foi pedido a ele [Marcola] era o seguinte: tem de parar
[os ataques]. Deixei bem claro:
tem de haver a rendição incondicional. Se não houvesse esse ato, a
PM e a Polícia Civil iam fechar cada vez mais o cerco em cima dos
bandido".
Brandão admitiu que Marcola
pediu banho de sol para os 765
presos do PCC encaminhados para Presidente Venceslau (620 km
de SP), mas o coronel negou acordo. A Folha também apurou que
os líderes pediam visita íntima e a
entrada de televisores no RDD
(Regime Disciplinar Diferenciado) -sistema mais rígido que veta esses dois pedidos.
Quebra de norma
O secretário da Administração
Penitenciária, Nagashi Furukawa,
afirmou que o encontro foi permitido para que a advogada verificasse o estado de saúde dos líderes do PCC. "Parece que vocês
[jornalistas] estão tristes que os
ataques tenham acabado. Foi
uma ação excepcional numa situação excepcional", afirmou, em
resposta a perguntas sobre a legalidade do encontro.
Segundo ele, os três representantes do governo foram enviados
para garantir que a advogada apenas observasse o estado dos presos e não passasse informações.
A visita a Marcola quebrou procedimento padrão da própria Secretaria da Administração Penitenciária, que prevê um regime de
observação para os presos que
chegam a cada unidade. Nesse regime, banhos de sol e visitas de familiares e de advogados são suspensos por até 30 dias.
O governador de São Paulo,
Cláudio Lembo (PFL), afirmou
ontem que foi ele quem autorizou
a visita a Marcola na cadeia. "Eu
autorizei porque a lei permite o
contato com o advogado mesmo
no RDD e para preservar os direitos humanos", disse Lembo.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou
ontem, em Nova York, que é um
erro negociar com facções criminosas e defendeu o enfrentamento. Ele disse não acreditar que o
governo paulista tenha negociado
com o PCC. "Não sou favorável a
negociações. A longo prazo, isso
dá mais força aos criminosos."
O ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, disse temer a "legislação de pânico", feita em decorrência de momentos de crise.
Dizendo acreditar que a situação
em São Paulo tenha melhorado e
reiterando a oferta de ajuda ao Estado, Thomaz Bastos não crê em
acordo. "Recuso a acreditar que o
governo de São Paulo ou qualquer autoridade tenha feito acordo com esses criminosos", disse.
Colaboraram ANDRÉ CARAMANTE, FABIO SCHIVARTCHE e ALFREDO FEIERABEND, da Reportagem Local
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