São Paulo, sábado, 17 de maio de 2008

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Foco

Após dois anos, reforma da 1ª vila operária de SP começa a sair do papel

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Prédio da Vila Maria Zélia, o 1º alvo de intervenção na vila; obras de restauro já foram iniciadas

MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os cabelos de seu Dedé já passaram do ombro. Morador da Vila Maria Zélia, a primeira vila operária de São Paulo, Edélcio Pereira Pinto, 59, prometeu deixar crescer seu rabo-de-cavalo até que o local começasse a ser restaurado. Sua ida ao barbeiro deve ocorrer logo -a reforma do conjunto de prédios históricos, no Belenzinho (zona leste de SP), foi iniciada na semana passada.
Inaugurada em 1917, a vila -que comemora 91 anos hoje, com festejos a partir das 20h- serviu de moradia para os funcionários do industrial Jorge Street, dono da Companhia Nacional de Tecidos de Juta. Entre 1936 e 1937, em tempos de Estado Novo, chegou a abrigar um presídio político.
Tombada em 1992 pelo Conpresp e pelo Condephaat (órgãos de conservação do patrimônio municipal e estadual, respectivamente), a vila esperava pelo início dos restauros desde 2006, quando, após anos de negociações, foi firmado um acordo entre a prefeitura e o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), a quem pertencem as instalações. Pelo pacto firmado, a posse de alguns dos edifícios foi cedida por um período de cinco anos à prefeitura, para que assim fosse executada a revitalização.
Nesta primeira etapa, serão destinados R$ 190 mil do Funcap (Fundo de Proteção do Patrimônio Cultural e Ambiental Paulistano), que centraliza o dinheiro arrecadado com multas aplicadas em casos de desrespeito ao patrimônio histórico municipal.
A verba será usada para a primeira das reformas previstas -e única já em andamento-, a do prédio "multiuso", onde funcionavam lojas de chapéus e calçados, armazém de secos e molhados, salão de festas, sorveteria e restaurante, entre outros.
"É uma obra preliminar, porque o prédio estava em condições perigosas", afirma Leila Diêgoli, arquiteta do DPH (Departamento do Patrimônio Histórico) que está acompanhando o processo.
Depois da reforma inicial, que deve durar até novembro, é que será iniciado o restauro de fato. Além desse imóvel, outros serão recuperados, como os que abrigavam antigamente duas escolas -uma para meninos e outra para meninas- e um açougue.
Casas históricas também passarão por melhorias -cerca de 600 pessoas ainda vivem no local, que já chegou a ter, no passado, cerca de 2.100 moradores. Quase todas as casas, porém, estão descaracterizadas em relação à vila original.
Nos edifícios, o novo convive com o antigo: uma das casas foi cenário do filme "O Corintiano", de 1966, com Mazzaropi, enquanto a parede de uma das escolas abriga um grafite de Os Gêmeos, dois reverenciados grafiteiros brasileiros.

Novas funções
Há estudos para que sejam instaladas nesses imóveis escolas técnicas, como as do Centro Paula Souza, o que ainda está em negociação com a Secretaria Municipal de Cultura. Em um dos prédios, está instalado o grupo 19 de Teatro, que até 18 de maio encena ali a peça "Arrufos", em meio a uma arquibancada decorada com tecidos e luminárias, montada em uma dos armazéns da vila.
O nome Maria Zélia é uma homenagem à filha de Jorge Street. A vila foi projetada pelo arquiteto Pedaurrieux, com inspiração em cidades européias do início do século 20. No local, viveram muitos imigrantes portugueses, italianos, poloneses e espanhóis.


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