São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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DESAPARECIDOS

Não-localização da vítima, falta de evidências e equipe de investigação reduzida dificultam comprovação

"Sem corpo, não há crime", diz delegado

DA SUCURSAL DO RIO

O titular da Delegacia de Homicídios, Paulo Passos, disse que a ausência do corpo dificulta muito a comprovação do crime. "Em princípio, se não há corpo, não há crime", afirmou.
Esse princípio pode ser flexibilizado, de acordo com o delegado, se, mesmo sem a localização do corpo da vítima, houver evidências do crime, como testemunhas ou relatos precisos sobre o desaparecimento de uma pessoa.
O delegado afirmou que os casos de desaparecimentos que não foram solucionados vêm se mantendo num patamar estável nos últimos anos, com uma pequena queda no ano passado.
Foram 630 em 1999, 619 em 2000, 570 em 2001 e 329 casos até maio de 2002 (57,7% do total verificado no ano passado).
São computados sumiços de crianças, idosos e portadores de deficiências mentais. Os dados deste ano não incluem os casos da Baixada Fluminense, que a delegacia ainda não recebeu para que fossem computados.

Verão
Passos afirma que não é possível falar ainda em recrudescimento do problema, pois o número de casos costuma diminuir quando termina o verão. "Temos casos de pessoas que desaparecem somente durante o verão, para ficar nas praias, e depois voltam para casa", observa Passos.
O delegado afirmou que todos os casos que recebe são investigados -apesar de reconhecer que a equipe é reduzida. De acordo com ele, a Delegacia de Homicídios tem apenas 11 homens para fazer investigações sobre os casos de desaparecimentos.
"O que posso pedir às pessoas é que, quando forem registrar os desaparecimentos, dêem todos os detalhes para facilitar a investigação", afirma Passos.
O chefe de Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, disse que serão investigados os casos de todos os corpos encontrados no cemitério clandestino da favela da Grota.
Para a advogada Cristina Leonardo, diretora do Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, justificar com a falta de um corpo os problemas de investigação favorece a impunidade.
"A ausência do corpo não pode ser utilizada como desculpa para que não haja uma investigação correta, seja por falta de estrutura, seja por envolvimento da polícia", afirma Cristina.
De acordo com ela, o Centro recebeu, no ano passado, mais de mil denúncias de desaparecimentos em todo o Estado.



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