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País é o que mais desperdiça aula com bronca
Docentes de escolas no Brasil gastam 18% do tempo das classes para manter disciplina; pesquisa abrangeu 23 países
Bulgária é o país onde
os professores conseguem aproveitar melhor o
tempo das aulas, seguido por Estônia e Hungria
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Os professores brasileiros
são os que mais desperdiçam
com outras atividades o tempo
que deveria ser dedicado ao ensino. No período em que deveriam estar dando aula, eles
cumprem tarefas administrativas (como lista de chamada e
reuniões) ou tentam manter a
disciplina em sala de aula (em
consequência do mau comportamento dos alunos).
A conclusão é de um dos mais
detalhados estudos comparativos sobre as condições de trabalho de professores de 5ª a 8ª
séries de 23 países, divulgado
ontem pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). A pesquisa foi feita em 2007 e 2008.
O resultado não surpreendeu
Roberto de Leão, presidente da
Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação.
"Não li a pesquisa, mas é fato
que muito do tempo do professor é roubado por tarefas que
não deveriam ser dele. Ele precisa muitas vezes fazer a função
de psicólogo, pai ou assistente
social, já que todos os problemas sociais acabam convergindo para a escola."
Mozart Neves Ramos, presidente-executivo do movimento Todos Pela Educação, conta
que, quando foi secretário de
Educação em Pernambuco, vivenciou isso na prática.
"Fizemos uma pesquisa com
o Banco Mundial que mostrou
que boa parte do tempo do professor era para resolver questões que deveriam ser de responsabilidade de outros profissionais. Mas também detectamos que se perdia tempo com o
professor falando de outros assuntos, em vez de tratar do conteúdo daquela disciplina."
O relatório da OCDE mostra
que a maioria (71%, maior percentual registrado) dos professores brasileiros começou a dar
aulas sem ter passado por um
processo de adaptação ou monitoria. A média dos países nesse quesito é de 25%.
Os brasileiros também são
dos que mais afirmam (84%)
que gostariam de participar de
cursos de desenvolvimento
profissional. Esse percentual
só é maior no México (85%).
As informações foram colhidas em questionários respondidos por diretores e professores
de escolas (públicas e privadas)
selecionadas por amostra. No
Brasil, 5.687 professores responderam ao questionário,
aplicado em 2007 e 2008.
Leão e Ramos concordam
com o diagnóstico de que poucos professores passam por um
processo de adaptação.
"Muitas vezes, o secretário
tem que preencher logo as vagas após um concurso para não
deixar alunos sem aula. É como
trocar o pneu do carro em movimento, quando o ideal seria
ter um tempo para preparar
melhor o profissional que começará a dar aulas", diz Ramos.
Esse problema se agrava com
a constatação na pesquisa de
que os professores brasileiros
trabalham com turmas com
número de alunos (32) acima
da média (24). Apenas no México, na Malásia e na Coreia do
Sul essa relação é maior.
Eles também têm menos experiência em sala de aula do
que a média -só 19% dão aula
há mais de 20 anos; a média de
todas as nações comparadas é
36%. Estão abaixo da média
(89,6%) ainda no nível de satisfação com o trabalho: 84,7%, o
quarto menor índice.
Diretores
A pesquisa investigou a visão
dos diretores sobre problemas
que afetam o aprendizado. O
Brasil fica acima da média em
questões como absenteísmo de
docentes, atrasos e falta de formação pedagógica adequada.
Também foram listados problemas relacionados a alunos,
como vandalismo, agressões ou
trapaças no momento da prova.
A indisciplina se mostrou um
problema mundial. Na média
dos países, 60% dos diretores
afirmaram ter, em alguma medida, distúrbios em sala de aula
provocados pelo problema.
O México tem o maior percentual (72%); o Brasil tem
exatamente o índice da média.
Diretores brasileiros foram
dos que mais relataram ter
pouca ou nenhuma autonomia
para contratar, demitir ou promover professores por seu desempenho em sala de aula. No
Brasil, só 27% disseram que podem escolher os professores. A
média dos países é de 68%.
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