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Estatuto exclui cota e incentivo a quem contratar negros
Proposta que garantia incentivo fiscal foi retirada ontem do texto; estatuto depende da sanção de Lula
Para ministro da Igualdade Racial, texto servirá de base para que o Executivo implemente medidas afirmativas
Sergio Lima/Folhapress
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Comissão de Constituição e Justiça, que aprovou o estatuto
JOHANNA NUBLAT
NOELI MENEZES
DE BRASÍLIA
Sete anos após tramitar no
Congresso Nacional, o Estatuto da Igualdade Racial foi
aprovado ontem pelo Senado com um texto esvaziado
nos pontos mais polêmicos.
O texto segue agora para sanção do presidente Lula.
Até a referência genérica a
cotas na educação foi retirada do texto, que agora fala só
em ações afirmativas a serem
promovidas pelo setor público e incentivadas no privado.
O texto traz uma série de
garantias à igualdade racial
em setores variados. Simplifica o crédito agrícola para
negros e garante a viabilidade de acesso a financiamentos públicos e privados.
Ela assegura, ainda, medidas contra a discriminação
racial: a previsão de ouvidorias da União para receber
denúncias e a possibilidade
de o juiz suspender páginas
na internet que difundam o
preconceito racial.
Mas os pontos que traziam
alterações práticas e imediatas foram rejeitados ao longo
dos sete anos de tramitação
da proposta no Congresso.
Em 2009, ainda na Câmara, a proposta perdeu o artigo
que criava cota de 20% de negros na programação diária
das TVs e peças publicitárias.
Ontem, o texto foi ainda
mais desidratado pelo relator
Demóstenes Torres (DEM-GO), perdendo a previsão de
incentivos fiscais para empresas que contratassem um
determinado percentual de
negros e a cota para candidaturas nos partidos políticos.
Para o ministro Eloi Araújo
(Igualdade Racial), o projeto
servirá de base para que o
Executivo crie medidas afirmativas e para respaldar a defesa de ações que tramitam
hoje no Supremo Tribunal
Federal -de inconstitucionalidade das cotas no ensino
superior e da demarcação de
terras dos quilombolas.
Uma das ações do governo
federal, diz, poderá ser a criação de mecanismos que ampliem a presença de negros
na administração pública.
O ex-ministro da pasta, deputado Edson Santos (PT-RJ),
disse que, agora, o Executivo
poderá regulamentar políticas de cotas por decreto.
TEXTO POSSÍVEL
Para o autor da proposta,
senador Paulo Paim (PT-RS),
o texto aprovado não é ideal,
mas "um avanço e tem toda a
simbologia para que na sociedade brasileira ninguém
mais seja discriminado".
Alvo de críticas de parte do
movimento negro por ter esvaziado a proposta, Demóstenes disse que preferia ter
deixado a votação para depois das eleições, mas que
houve pressão de Paim e do
governo para aprovação.
"Por mais de dez anos, lutamos pela aprovação de um
estatuto que recuperasse
nossa a dignidade do negro.
Demóstenes destrói toda a
possibilidade da política de
ação afirmativa, das cotas,
da inserção negra no mercado de trabalho", diz Cleide
Hilda de Lima Souza, da
Coordenação Nacional de
Entidades Negras.
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