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PLANOS DE SAÚDE
Para representante das empresas, reajuste de 82% decorre da política governamental de conter aumentos
Segurados já ganharam muito, diz Fenaseg
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os beneficiários de seguros-saúde anteriores à lei que regulamentou o setor "economizaram muito
dinheiro" nos últimos anos, afirma o diretor de Saúde da Fenaseg
(federação das seguradoras), Horácio Catapreta, 57. Isso em razão
de o governo ter autorizado índices de reajuste abaixo do que queriam as empresas, explica.
Para Catapreta, o melhor argumento contra reclamações sobre
os aumentos de até 82% praticados por seguradoras como Bradesco Saúde e SulAmérica neste
mês foi dado por um amigo seu,
atingido pelos reajustes.
"Ele disse: "Olha, durante esses
anos todos eu aproveitei e guardei
dinheiro, porque eu sabia que
uma hora ia ter um ajuste"."
Com base numa liminar deferida pelo STF (Supremo Tribunal
Federal) em agosto do ano passado, que permitiu que seguradoras
e empresas de planos de saúde
não seguissem os reajustes determinados pelo governo nos planos
anteriores à lei que regula o setor,
a Bradesco e a SulAmérica expediram mais de 300 mil cartas a beneficiários nos últimos meses,
avisando sobre o citado "ajuste".
São integrantes de carteiras consideradas desequilibradas. Leia a
seguir trechos da entrevista.
Folha - Os 300 mil segurados que
receberam as cartas são residuais?
Horácio Catapreta - Sim, é residual. Mas deixa eu fazer uma analogia. As pessoas com mais de 60
anos na população brasileira são
10%. Portanto, 90% da população
brasileira tem menos de 60 anos.
Mas quando essas pessoas começam a utilizar a assistência médica, elas gastam aproximadamente
quatro a seis vezes mais que o outro grupo. Se extrapolarmos para
dentro das carteiras, o processo é
mais ou menos o mesmo. Em
muitos deles [os idosos] são quase
a totalidade. Isso representa um
custo bastante elevado. Esses planos tiveram de ter suas vendas interrompidas quando entrou em
vigor a nova legislação [em 99].
Eles ficaram congelados e a tendência ao longo do tempo é apresentar um índice de utilização extremamente elevado. Esse problema começou a se manifestar em
1997 e de lá para cá a política do
governo foi de conter os reajustes.
Resultado: isso terminou por explodir. De julho de 2000, quando
a ANS começou a controlar, a média de aumento solicitado foi de
85%, e o concedido, 50%.
Folha - A Fenaseg fala, em uma
nota [divulgada há alguns dias] sobre risco de continuidade.
Catapreta - É muito importante
que as coisas mais duras sejam ditas, é preciso tomar providências.
Folha - O senhor acha que 82%,
cravados, são viáveis?
Catapreta - Os participantes dos
planos e seguros normalmente
não são um estrato do quadro geral do país, até porque a decisão
de ter um plano privado de saúde
é sobretudo de natureza econômica. As pessoas que têm dificuldade em arcar com esse novo valor devem procurar a seguradora.
Folha - Se havia a possibilidade
de olhar caso a caso, foi leal enviar
as cartas?
Catapreta - Você acha que o governo foi justo com as pessoas ao
determinar que elas pagassem
menos e depois jogou isso para o
STF decidir? O governo impôs e
disse a todos os segurados que ele
estava fazendo uma benesse para
eles e durante esse anos todos eles
economizaram muito dinheiro.
Folha - A população?
Catapreta - Sim, todas as pessoas que pagam planos de saúde e
que pagaram os valores determinados economizaram.
Agora chegou o momento em
que é importante todos sentarem,
fazerem as contas e ver como vai
ser o futuro.
Folha - Mas vocês sabiam da decisão do STF desde agosto.
Catapreta - Várias providências
foram adotadas. Foram negociações. Com a ANS, internamente,
dentro de cada seguradora. Eu
não sei até que ponto seria viável
negociar com todos os segurados.
Folha - Não daria para ser via entidade de defesa do consumidor?
Catapreta - Acho complicado.
Não conheço nenhuma experiência desse tipo. Você conhece? Pois
é, poderíamos, mas é falha nossa.
Realmente não pôde ser feito.
Folha - A maioria não tem entendido os aumentos. O usuário tem
condição de saber de onde vem o
índice de custo hospitalar?
Catapreta - Na verdade, isso
ninguém mede. Isso é medido internamente em cada seguradora.
Antes de serem enviadas as cartas
as planilhas foram enviadas à
ANS, em abril.
Folha - O senhor conhece gente
que teve esse tipo de reajuste e fica
questionando?
Catapreta - Muitos, muitos.
Aliás, um deles me deu o melhor
argumento, que até mencionei
para você. Ele disse: "Olha, durante esses anos todos eu aproveitei e
guardei dinheiro porque eu sabia
que uma hora ia ter um ajuste".
É um amigo meu que mora aqui
no Rio. Ele disse: "Eu sempre
achei que eu estava pagando pouco para a assistência médica que
as seguradoras me prestavam".
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