São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

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PLANOS DE SAÚDE

Para representante das empresas, reajuste de 82% decorre da política governamental de conter aumentos

Segurados já ganharam muito, diz Fenaseg

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os beneficiários de seguros-saúde anteriores à lei que regulamentou o setor "economizaram muito dinheiro" nos últimos anos, afirma o diretor de Saúde da Fenaseg (federação das seguradoras), Horácio Catapreta, 57. Isso em razão de o governo ter autorizado índices de reajuste abaixo do que queriam as empresas, explica.
Para Catapreta, o melhor argumento contra reclamações sobre os aumentos de até 82% praticados por seguradoras como Bradesco Saúde e SulAmérica neste mês foi dado por um amigo seu, atingido pelos reajustes.
"Ele disse: "Olha, durante esses anos todos eu aproveitei e guardei dinheiro, porque eu sabia que uma hora ia ter um ajuste"."
Com base numa liminar deferida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em agosto do ano passado, que permitiu que seguradoras e empresas de planos de saúde não seguissem os reajustes determinados pelo governo nos planos anteriores à lei que regula o setor, a Bradesco e a SulAmérica expediram mais de 300 mil cartas a beneficiários nos últimos meses, avisando sobre o citado "ajuste". São integrantes de carteiras consideradas desequilibradas. Leia a seguir trechos da entrevista.
 

Folha - Os 300 mil segurados que receberam as cartas são residuais?
Horácio Catapreta
- Sim, é residual. Mas deixa eu fazer uma analogia. As pessoas com mais de 60 anos na população brasileira são 10%. Portanto, 90% da população brasileira tem menos de 60 anos. Mas quando essas pessoas começam a utilizar a assistência médica, elas gastam aproximadamente quatro a seis vezes mais que o outro grupo. Se extrapolarmos para dentro das carteiras, o processo é mais ou menos o mesmo. Em muitos deles [os idosos] são quase a totalidade. Isso representa um custo bastante elevado. Esses planos tiveram de ter suas vendas interrompidas quando entrou em vigor a nova legislação [em 99].
Eles ficaram congelados e a tendência ao longo do tempo é apresentar um índice de utilização extremamente elevado. Esse problema começou a se manifestar em 1997 e de lá para cá a política do governo foi de conter os reajustes. Resultado: isso terminou por explodir. De julho de 2000, quando a ANS começou a controlar, a média de aumento solicitado foi de 85%, e o concedido, 50%.

Folha - A Fenaseg fala, em uma nota [divulgada há alguns dias] sobre risco de continuidade.
Catapreta
- É muito importante que as coisas mais duras sejam ditas, é preciso tomar providências.

Folha - O senhor acha que 82%, cravados, são viáveis?
Catapreta
- Os participantes dos planos e seguros normalmente não são um estrato do quadro geral do país, até porque a decisão de ter um plano privado de saúde é sobretudo de natureza econômica. As pessoas que têm dificuldade em arcar com esse novo valor devem procurar a seguradora.

Folha - Se havia a possibilidade de olhar caso a caso, foi leal enviar as cartas?
Catapreta
- Você acha que o governo foi justo com as pessoas ao determinar que elas pagassem menos e depois jogou isso para o STF decidir? O governo impôs e disse a todos os segurados que ele estava fazendo uma benesse para eles e durante esse anos todos eles economizaram muito dinheiro.

Folha - A população?
Catapreta
- Sim, todas as pessoas que pagam planos de saúde e que pagaram os valores determinados economizaram.
Agora chegou o momento em que é importante todos sentarem, fazerem as contas e ver como vai ser o futuro.

Folha - Mas vocês sabiam da decisão do STF desde agosto.
Catapreta
- Várias providências foram adotadas. Foram negociações. Com a ANS, internamente, dentro de cada seguradora. Eu não sei até que ponto seria viável negociar com todos os segurados.

Folha - Não daria para ser via entidade de defesa do consumidor?
Catapreta
- Acho complicado. Não conheço nenhuma experiência desse tipo. Você conhece? Pois é, poderíamos, mas é falha nossa. Realmente não pôde ser feito.

Folha - A maioria não tem entendido os aumentos. O usuário tem condição de saber de onde vem o índice de custo hospitalar?
Catapreta
- Na verdade, isso ninguém mede. Isso é medido internamente em cada seguradora. Antes de serem enviadas as cartas as planilhas foram enviadas à ANS, em abril.

Folha - O senhor conhece gente que teve esse tipo de reajuste e fica questionando?
Catapreta
- Muitos, muitos. Aliás, um deles me deu o melhor argumento, que até mencionei para você. Ele disse: "Olha, durante esses anos todos eu aproveitei e guardei dinheiro porque eu sabia que uma hora ia ter um ajuste".
É um amigo meu que mora aqui no Rio. Ele disse: "Eu sempre achei que eu estava pagando pouco para a assistência médica que as seguradoras me prestavam".


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