São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

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EDUCAÇÃO

Estudo da UFMG usou dados do Provão e de rendimento semestral; alunos de escolas públicas se concentram à noite

Qualidade independe de horário de curso

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Estudo realizado pela diretoria de Avaliação Institucional da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) concluiu que a qualidade dos cursos noturnos oferecidos pela instituição é a mesma que a dos cursos diurnos. Em alguns casos, o desempenho dos alunos noturnos, a maior parte oriunda de escolas públicas, é até melhor do que os dos cursos diurnos.
"A suposição de que os alunos dos cursos noturnos teriam desempenho pior, porque são os que têm capital cultural mais baixo e a maioria fez escola pública, não se verificou", disse Maria do Carmo de Lacerda Peixoto, diretora de Avaliação Institucional.
O levantamento reforça a decisão de maio de 2003 do Conselho Universitário da UFMG de investir mais nos cursos noturnos, como forma de democratizar o acesso à universidade pública, embora isso não isente a instituição de debater a questão das cotas, disse Lacerda Peixoto.
O estudo está amparado em duas análises: nas médias dos resultados obtidos no Exame Nacional de Cursos (o Provão do MEC) de 1997 a 2002 e no RSG (rendimento semestral global), calculado a partir do rendimento dos estudantes em todas as disciplinas no mesmo período.
A pesquisa comparou as notas dos provões realizados pelos estudantes de nove cursos diurnos e noturnos. Pelo RSG, foram oito cursos analisados.
Pelo rendimento semestral, alunos noturnos de química, física e pedagogia se saíram melhor que os colegas do turno diurno. No Provão, os alunos da noite de letras, história e direito tiveram melhor resultado. Nos cursos com rendimento menor, a diferença média não foi tão significativa.
A UFMG oferece atualmente 13 cursos noturnos e mais 46 diurnos. São 2.850 alunos noturnos, o que representa 12,8% do total na graduação. É à noite que os estudantes vindos das escolas públicas médias se concentram mais.

Assustador
"Avaliando o curso noturno com o diurno, o acréscimo de alunos provenientes de escola pública é uma coisa assustadora", disse Lacerda Peixoto, que deu exemplos: em 2003, na engenharia mecânica noturna eram 63% de alunos oriundos de escola pública, contra 23% na diurna. Em ciências biológicas, eram 70% no noturno e 25% no diurno.
"E eu estou pegando cursos mais concorridos. A própria clientela que se inscreve para o vestibular representa percentual mais elevado de ensino de escola pública, não tem cota que garanta 70% de escola pública", afirmou a diretora.
A diretora disse que o estudo reforça a política de ampliação dos cursos noturnos, sem deixar de discutir as cotas, até porque há cursos como medicina, medicina veterinária e odontologia que, pelas suas características, só funcionariam bem no turno diurno.
As cotas também seriam importantes para garantir o ingresso de alunos oriundos de escolas públicas em cursos que têm baixa representação desses estudantes. Trabalho realizado pela UFMG no ano passado mostra que em 14 cursos oferecidos pela universidade o contingente de egressos da escola pública era inferior a 30%. Em outros 15 cursos variava entre 30% e 50%. A maioria dos cursos (27) tinham mais de 50%.


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