São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE / TIREÓIDE

Selênio pode reduzir doenças da tireóide após a gravidez

Uso do mineral, que atua no sistema imunológico e na destruição dos radicais livres, reduz em até três vezes o risco de mulheres desenvolverem tireoidites

Médicos recomendam a grávidas que façam exame para dosar os hormônios da tireóide na gestação e após o parto para mapear disfunção


CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O uso regular de selênio, um mineral que atua no sistema imunológico e na destruição dos radicais livres, pode reduzir em até três vezes as chances de as mulheres desenvolverem doenças da tireóide após a gravidez, segundo um estudo italiano recém-divulgado em congresso internacional de endocrinologia, nos EUA.
As mulheres com propensão genética a desenvolver doenças da tireóide têm mais chances de ter problemas após a gestação. O sistema imunológico passa a fabricar anticorpos que combatem a tireóide, como se fosse um órgão estranho.
A glândula se inflama e há uma queda na produção de hormônios. Em mais da metade dos casos, a tireoidite do pós-parto pode levar ao hipotireoidismo ou à tireoidite de Hashimoto, uma doença auto-imune.
No estudo do endocrinologista italiano Roberto Negro, os pesquisadores avaliaram 2.143 grávidas. Dessas, 169 manifestaram sinais (tinham anticorpos antitireoidianos) de que o organismo já tinha começado a fabricar anticorpos contra a tireóide. Metade desse grupo recebeu 200 microgramas de selênio por 12 meses (durante a gestação e no pós-parto) e a outra metade não.
Negro afirma que as mulheres que tomaram o selênio tiveram três vezes menos chances de desenvolver tireoidite após o parto. Mas ele é cauteloso quanto à indicação em larga escala do mineral. "Embora os resultados desse estudo sejam promissores, ainda não há justificativa para generalizar o uso do selênio nas mulheres grávidas", disse ele à Folha.

Utilização
O mesmo cuidado tem o endocrinologista Mario Vaisman, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). "O uso do selênio pode vir a ser uma indicação futura para aquelas grávidas que já têm sinais da tireoidite. Mas ainda precisamos de mais estudos", afirmou o médico.
A endocrinologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, Maria Fernanda Barca, se diz muito entusiasmada com o estudo italiano e já avalia a indicação para suas pacientes grávidas que apresentam sinais de tireoidite.
Um estudo desenvolvido pela endocrinologista no HC constatou que 13% das gestantes tinham doenças da tireóide.
"Há mais de dez anos não havia avanços nessa área, especialmente no que diz respeito à profilaxia. O uso do selênio poderá não só prevenir, mas também melhorar a evolução da doença", acredita a médica. Segundo ela, o uso de selênio não traz riscos à gravidez.
Ela explica que, durante a gestação, as células imunológicas costumam ficar bloqueadas para que o organismo não rejeite o bebê. "Depois da gravidez, há um rebote da imunidade e, conseqüentemente, maior agressão à tireóide."
Tanto Vaisman quanto Barca defendem que todas as grávidas façam exame para dosar os hormônios da tireóide durante a gestação. Hoje, o exame não faz parte do rastreamento de rotina das grávidas. No Japão, os médicos já dosam os hormônios durante a gravidez e no pós-parto.
"Às vezes, um estado nervoso depressivo passa por depressão pós-parto e, na verdade, a mulher está com uma disfunção tireoidiana", explica Vaisman.
A dona-de-casa Daniela Muniz dos Santos, 32, descobriu a tireoidite quando estava no sexto mês de gestação do primeiro filho. "Eu engordei muito, sentia apatia, desânimo e o volume da tireóide estava visivelmente aumentado", conta.
Com o diagnóstico de hipotireoidismo, ela passou a tomar hormônios para manter a função da tireóide, mas, na segunda gravidez, a glândula voltou a apresentar disfunção, mesmo com o medicamento.


Texto Anterior: Cornélio Campina (1908-2008): Mestre das danças semidesaparecidas
Próximo Texto: Incidência de casos é maior a partir dos 35 anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.