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SAÚDE / TIREÓIDE
Selênio pode reduzir doenças da tireóide após a gravidez
Uso do mineral, que atua no sistema imunológico e na destruição dos radicais livres, reduz em até três vezes o risco de mulheres desenvolverem tireoidites
Médicos recomendam a grávidas que façam exame para dosar os hormônios da tireóide na gestação e após o parto para mapear disfunção
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O uso regular de selênio, um
mineral que atua no sistema
imunológico e na destruição
dos radicais livres, pode reduzir
em até três vezes as chances de
as mulheres desenvolverem
doenças da tireóide após a gravidez, segundo um estudo italiano recém-divulgado em congresso internacional de endocrinologia, nos EUA.
As mulheres com propensão
genética a desenvolver doenças
da tireóide têm mais chances
de ter problemas após a gestação. O sistema imunológico
passa a fabricar anticorpos que
combatem a tireóide, como se
fosse um órgão estranho.
A glândula se inflama e há
uma queda na produção de hormônios. Em mais da metade
dos casos, a tireoidite do pós-parto pode levar ao hipotireoidismo ou à tireoidite de Hashimoto, uma doença auto-imune.
No estudo do endocrinologista italiano Roberto Negro, os
pesquisadores avaliaram 2.143
grávidas. Dessas, 169 manifestaram sinais (tinham anticorpos antitireoidianos) de que o
organismo já tinha começado a
fabricar anticorpos contra a tireóide. Metade desse grupo recebeu 200 microgramas de selênio por 12 meses (durante a
gestação e no pós-parto) e a outra metade não.
Negro afirma que as mulheres que tomaram o selênio tiveram três vezes menos chances
de desenvolver tireoidite após
o parto. Mas ele é cauteloso
quanto à indicação em larga escala do mineral. "Embora os resultados desse estudo sejam
promissores, ainda não há justificativa para generalizar o uso
do selênio nas mulheres grávidas", disse ele à Folha.
Utilização
O mesmo cuidado tem o endocrinologista Mario Vaisman,
professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). "O uso do selênio pode vir a
ser uma indicação futura para
aquelas grávidas que já têm sinais da tireoidite. Mas ainda
precisamos de mais estudos",
afirmou o médico.
A endocrinologista do Hospital das Clínicas de São Paulo,
Maria Fernanda Barca, se diz
muito entusiasmada com o estudo italiano e já avalia a indicação para suas pacientes grávidas que apresentam sinais de
tireoidite.
Um estudo desenvolvido pela endocrinologista no HC
constatou que 13% das gestantes tinham doenças da tireóide.
"Há mais de dez anos não havia avanços nessa área, especialmente no que diz respeito à
profilaxia. O uso do selênio poderá não só prevenir, mas também melhorar a evolução da
doença", acredita a médica. Segundo ela, o uso de selênio não
traz riscos à gravidez.
Ela explica que, durante a
gestação, as células imunológicas costumam ficar bloqueadas
para que o organismo não rejeite o bebê. "Depois da gravidez,
há um rebote da imunidade e,
conseqüentemente, maior
agressão à tireóide."
Tanto Vaisman quanto Barca
defendem que todas as grávidas
façam exame para dosar os hormônios da tireóide durante a
gestação. Hoje, o exame não faz
parte do rastreamento de rotina das grávidas. No Japão, os
médicos já dosam os hormônios durante a gravidez e no
pós-parto.
"Às vezes, um estado nervoso
depressivo passa por depressão
pós-parto e, na verdade, a mulher está com uma disfunção tireoidiana", explica Vaisman.
A dona-de-casa Daniela Muniz dos Santos, 32, descobriu a
tireoidite quando estava no
sexto mês de gestação do primeiro filho. "Eu engordei muito, sentia apatia, desânimo e o
volume da tireóide estava visivelmente aumentado", conta.
Com o diagnóstico de hipotireoidismo, ela passou a tomar
hormônios para manter a função da tireóide, mas, na segunda gravidez, a glândula voltou a
apresentar disfunção, mesmo
com o medicamento.
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