UOL


São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em gravação, delegado-geral é citado por investigador preso

DA REPORTAGEM LOCAL

O investigador Ivan Raymondi Barbosa, um dos quatro policiais civis presos por suposta participação em uma rede de corrupção, afirmou, em escuta telefônica feita pela Procuradoria da República de Brasília, que o delegado-geral da Polícia Civil paulista, Marco Antonio Desgualdo, também recebia propina do maior contrabandista de cigarros do país, Roberto Eleutério da Silva, conhecido como Lobão.
A informação partiu da CPI da Pirataria da Câmara dos Deputados, que ouviu nos últimos dois dias, em São Paulo, quatro policiais supostamente envolvidos no esquema -entre eles, Barbosa.
Entre as cerca de 40 mil conversas gravadas pela Procuradoria da República de Brasília nos últimos nove meses aparecem escutas de telefonemas de Barbosa.
Segundo relatório sobre uma dessas escutas, o investigador afirmou, em conversa com outro policial, que a equipe da qual fazia parte -do 33º DP (Pirituba)- tinha mexido com uma pessoa que daria um "carnê mensal" ao delegado-geral. Essa pessoa, segundo a CPI, seria Lobão, preso no último dia 3. "Não há acusação comprovada contra o delegado-geral. Há citações sobre ele nas escutas. Mas é preciso investigar", afirmou o presidente da CPI da Pirataria, deputado Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP).
Segundo a CPI, as afirmações de Barbosa surgiram depois que ele, o delegado Nicola Romanini -que também teve prisão decretada-, e outros policiais foram remanejados do 33º DP após uma tentativa de extorquir dinheiro de Lobão, no ano passado.
O desmembramento da equipe e a transferência para outros distritos seria, segundo a CPI, uma "punição" determinada por Lobão pelo fato de os policiais pedirem US$ 40 mil para liberar dois caminhões carregados com cigarros contrabandeados.

Plano
Nas escutas telefônicas, Barbosa chega a citar apelidos de outros delegados que seriam ligados ao comando da polícia e que também participariam de um esquema de distribuição de propina.
O investigador fala ainda de um plano arquitetado em fevereiro passado para tentar pressionar o comando da polícia a reunir novamente a equipe do 33º DP. Segundo a CPI, Barbosa queria se encontrar com Lobão e gravar a conversa com uma microcâmera.
Nessa conversa, o investigador tentaria fazer com que o contrabandista citasse nomes de policiais do segundo e primeiro escalão que receberiam propina.
Barbosa chegou, segundo a CPI, a pedir a um delegado números de telefone de funcionários de uma emissora de televisão para tentar conseguir o equipamento e divulgar a conversa, caso a chantagem não desse certo.
As escutas não revelam se a filmagem da conversa chegou a ser feita pelo investigador.
Ontem, Barbosa prestava depoimento à CPI quando foi questionado sobre essa suposta tentativa de chantagem. Ele não respondeu e disse que, dali em diante, só iria falar em juízo.


Texto Anterior: Outro lado: Secretaria só se pronunciará após investigação
Próximo Texto: Propina e intimidação eram armas de Lobão
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.