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São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2003

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POLÍCIA SOB SUSPEITA

Contrabandista fazia ameaças a policiais e a eventuais delatores, segundo gravações de conversas telefônicas

Propina e intimidação eram armas de Lobão

DA REPORTAGEM LOCAL

Um homem que ameaça, por telefone, policiais que não cumprem acordos e que promete punir seus delatores. Assim trabalhava o contrabandista Roberto Eleutério da Silva, o Lobão, segundo escutas telefônicas realizadas pela Procuradoria da República de Brasília.
Com cerca de 300 caminhões transportando cargas em todo o país e com mais de cem agentes públicos na folha de pagamento, a maioria em São Paulo -segundo a CPI da Pirataria e o Ministério Público Federal-, Lobão usava o telefone para repreender e ameaçar policiais que tentavam extorquir mais dinheiro, além do que ele já pagava de propina.
Em conversa por telefone com o agente policial Jean Wagner Cabral, do 10º DP (Penha), preso anteontem, por exemplo, o contrabandista rejeita que o policial, já arrependido, devolva o dinheiro que tinha extorquido.
Ele sugere que o agente devolva para o delegado de sua região, que receberia a propina regularmente. "Não, eu não quero, você vai levar para lá, na mão do doutor, que já ligou para mim", diz o contrabandista no grampo.
Escutas telefônicas também mostram um Lobão disposto a punir seus delatores. Em um dos casos, o contrabandista encarrega um homem de descobrir o paradeiro de uma mulher em Pernambuco, que teria repassado informações a policiais.
O homem promete encontrar a mulher rapidamente. "Eu já tenho vontade de matar ela mesmo", diz o homem ao contrabandista. Em outro grampo, Lobão liga para um policial e pede informações sobre três homens que estariam envolvidos no roubo de suas cargas.
"Nós temos que segurar quando ele for aí e dar uma pendurada nele", disse o contrabandista, referindo-se a um desses homens. O policial concorda.
"Nós vamos levantar os dois para o alto", diz o contrabandista, em outro grampo, sobre a punição a dois dos três homens citados em conversas anteriores. "Só não adianta aperrear na hora em que surge o trabalho, tem que ser bem na bola do meio", diz Lobão, em código que, para a Procuradoria da República, significa uma intenção de punir seus delatores.
Segundo a investigação, esses três homens estariam repassando informações sobre dias e horários de saída de seus carregamentos.
As escutas telefônicas feitas pela Procuradoria da República embasaram a prisão de Lobão, no último dia 3, pela Polícia Federal de São Paulo. Outros quatro policiais civis -incluindo Cabral- tiveram a prisão temporária decretada por suspeita de prevaricação, formação de quadrilha, estelionato e concussão (extorsão cometida por funcionário público). (GILMAR PENTEADO)


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