|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLÍCIA SOB SUSPEITA
Contrabandista fazia ameaças a policiais e a eventuais delatores, segundo gravações de conversas telefônicas
Propina e intimidação eram armas de Lobão
DA REPORTAGEM LOCAL
Um homem que ameaça, por
telefone, policiais que não cumprem acordos e que promete punir seus delatores. Assim trabalhava o contrabandista Roberto
Eleutério da Silva, o Lobão, segundo escutas telefônicas realizadas pela Procuradoria da República de Brasília.
Com cerca de 300 caminhões
transportando cargas em todo o
país e com mais de cem agentes
públicos na folha de pagamento, a
maioria em São Paulo -segundo
a CPI da Pirataria e o Ministério
Público Federal-, Lobão usava o
telefone para repreender e ameaçar policiais que tentavam extorquir mais dinheiro, além do que
ele já pagava de propina.
Em conversa por telefone com o
agente policial Jean Wagner Cabral, do 10º DP (Penha), preso anteontem, por exemplo, o contrabandista rejeita que o policial, já
arrependido, devolva o dinheiro
que tinha extorquido.
Ele sugere que o agente devolva
para o delegado de sua região, que
receberia a propina regularmente.
"Não, eu não quero, você vai levar
para lá, na mão do doutor, que já
ligou para mim", diz o contrabandista no grampo.
Escutas telefônicas também
mostram um Lobão disposto a
punir seus delatores. Em um dos
casos, o contrabandista encarrega
um homem de descobrir o paradeiro de uma mulher em Pernambuco, que teria repassado informações a policiais.
O homem promete encontrar a
mulher rapidamente. "Eu já tenho vontade de matar ela mesmo", diz o homem ao contrabandista. Em outro grampo, Lobão liga para um policial e pede informações sobre três homens que estariam envolvidos no roubo de
suas cargas.
"Nós temos que segurar quando
ele for aí e dar uma pendurada nele", disse o contrabandista, referindo-se a um desses homens. O
policial concorda.
"Nós vamos levantar os dois para o alto", diz o contrabandista,
em outro grampo, sobre a punição a dois dos três homens citados
em conversas anteriores. "Só não
adianta aperrear na hora em que
surge o trabalho, tem que ser bem
na bola do meio", diz Lobão, em
código que, para a Procuradoria
da República, significa uma intenção de punir seus delatores.
Segundo a investigação, esses
três homens estariam repassando
informações sobre dias e horários
de saída de seus carregamentos.
As escutas telefônicas feitas pela
Procuradoria da República embasaram a prisão de Lobão, no último dia 3, pela Polícia Federal de
São Paulo. Outros quatro policiais
civis -incluindo Cabral- tiveram a prisão temporária decretada por suspeita de prevaricação,
formação de quadrilha, estelionato e concussão (extorsão cometida por funcionário público).
(GILMAR PENTEADO)
Texto Anterior: Em gravação, delegado-geral é citado por investigador preso Próximo Texto: PF da Paraíba encontra dois galpões suspeitos Índice
|