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MOACYR SCLIAR
Em defesa do pau de galinheiro
A vida produz muita coisa, inclusive dejetos, é o que lembra o pau de galinheiro, e ao fazê-lo, ensina uma lição "Pau de galinheiro." Expressão usada pelo senador Demóstenes Torres, DEM-GO, após a votação que absolveu Renan
Calheiros.
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Se há degeneração e se a Casa pode ser
comparada a um pau de galinheiro, o que
entra na zona de perigo não é ela, mas a
ordem democrática. Elio Gaspari. 16 de
setembro de 2007
"NÓS, MILITANTES da ADGGAS, Associação de Defesa dos Galos, Galinhas
e Aves Similares, estamos vindo a
público para expressar nossa preocupação diante de insistentes comentários feitos nos últimos dias
acerca deste milenar dispositivo conhecido como pau de galinheiro.
Não são comentários elogiosos,
muito pelo contrário. Como é costume, o pau de galinheiro serve de metáfora para expressar o desgosto de
pessoas diante daquilo que consideram sujeira ou imoralidade. Cada
um tem o direito de criar ou citar as
metáforas que quiser, mas, no caso,
comete-se uma injustiça contra a
qual temos o dever de protestar.
A primeira coisa que podemos dizer em defesa do pau de galinheiro é
que ele é modesto. O pau de galinheiro não é uma plataforma, não é
um pedestal. Figurões jamais usariam o pau de galinheiro para se colocar acima do comum dos mortais.
O pau de galinheiro não proporciona espaço para megalomanias. Mais:
o pau de galinheiro é roliço. Exige de
quem sobre ele se encarapita um
grau de equilíbrio que, entre os humanos, raramente é atingido.
O pau de galinheiro é útil. Ao longo dos tempos tem proporcionado
suporte para incontáveis gerações
de galináceos. Do pau de galinheiro,
galos sem conta entoaram seu canto
vibrante, aquele canto que anuncia a
todas as criaturas, nelas incluídas os
humanos, o raiar de um novo dia,
com suas promessas e esperanças.
Sobre o pau de galinheiro igualmente empoleiravam-se as galinhas, estas heróicas aves que não apenas
põem ovos como se sacrificam para
que pessoas possam ter sua canja
(canja que também serve de condescendente metáfora: a canja de um
cantor é apenas uma espécie de
amostra grátis, que tem de ser compensada depois com shows pagos).
Agora: dos humanos tudo pode se
esperar. Galinhas e galos já não são
mais criados em galinheiros, e sim
em aviários. Ali o confinamento é a
regra. Não existe espaço para nenhuma dignidade galinácea, e a melhor prova disto é que nos aviários
não há pau de galinheiro. Ou seja,
não há mais nenhuma garantia de
apoio. Há sim a certeza do sacrifício
iminente. Quando se vai o pau de galinheiro, vai-se a última esperança
das aves cativas. O pau de galinheiro
é um símbolo da passada dignidade.
É verdade, sim, que dejetos caem
sobre o pau de galinheiro. Mas o que
queriam, vocês? Que galos e galinhas usassem o banheiro? Que recorressem ao papel higiênico? Mas
que galinheiro tem WC, que galinheiro tem papel higiênico? Sujo, o
pau de galinheiro apenas dá testemunho das funções vitais de um organismo igual a qualquer outro. A vida produz muita coisa, inclusive dejetos, é o que lembra o pau de galinheiro, e ao fazê-lo, ensina uma útil
e profunda lição.
Fica, pois, o apelo. Falem do pau
de galinheiro, falem quanto vocês
quiserem. Mas falem com um mínimo de respeito. A humildade também merece consideração."
MOACYR SCLIAR escreve, às segundas-feiras, um texto
de ficção baseado em notícias publicadas na Folha
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