São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2010

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BARBARA GANCIA

Tiririca S.A.


Se o filho da Erenice é Israel Guerra, o irmão é o Guerra do Paraguai e a prima é a Guerra das Malvinas?

BOSTA POR bosta, vote em Pedro Geraldo Costa. Peço desculpas pelo termo chulo logo na entrada, mas estou na menopausa, digo, a propaganda eleitoral, na forma aviltante que se apresenta, dia após dia a nos martelar a orelha, me faz lembrar o antislogan ouvido na infância.
Não sei nem ao menos que aparência tinha o deputado, não acompanhei sua trajetória e quero crer que a piada tenha surgido mais pela gostosura da cadência da frase do que por motivo específico.
Lembro de uma carta que publiquei anos atrás na Barbara Responde da extinta "Revista da Folha": tanto fazia se eu respondesse a ou b ao leitor. Então dei ao título da missiva apenas o nome Pedro Geraldo Costa. Ora, pra quê?
No dia seguinte à publicação da coluna recebi uma longa mensagem manuscrita enumerando as supostas qualidades do político. Começava assim: "Sou filho do deputado Pedro Geraldo Costa e queria dizer à senhora que Costa é a sua coluna". Fiz por merecer, não fiz?
A prática do voto deveria estar nos aperfeiçoando como democratas. A cada eleição, o que se esperaria é que estivéssemos mais conscientes, que fossemos aprendendo os macetes.
Mas o que acontece neste 2010? A seleção do Dunga abriu alas para a eleição Tiririca e, em meio ao deboche de um horário eleitoral cujo efeito, na prática, é reforçar a ideia de que estamos participando de um sistema degradado de araque, ainda temos de aguentar a redescoberta da pólvora.
De tempos em tempos as pessoas acordam e entram em parafuso. É só sair uma denúncia de propina um pouco mais bem fundamentada ou uma notícia sobre como Zeca Diabo ameaça colocar um freio nas liberdades individuais, para certa camada se dar conta de que não foi uma boa ideia passar os últimos anos dormindo e confiando o destino nas mãos da oposição.
Ah, se arrependimento matasse! Mas, vem cá: desde que me conheço por gente, bem, a título de estabelecer um parâmetro, digamos que desde que Shigeaki Ueki comandava a Petrobras, pouco mudou no "modelo de negócio" do poder.
Não diziam na época do governo Collor que a corrupção havia passado dos limites pois, em vez de os 10% habituais, certos grupos estavam cobrando pedágio de 30%? What's new pussycat?
Qualquer empresário tapuia menos insignificante já ouviu falar em espionagem industrial, a oferta desse artigo é abundante em qualquer calçada da av. Paulista. Gravação de conversa, compra e venda de informações sigilosas, será que isso surgiu agora? Quando foi mesmo que o pitbull que guarda o chamado poste búlgaro tentou negociar dossiê sobre a ex-primeira-dama?
Por sinal, se o filho da Erenice é o Israel Guerra, isso significa que o irmão dele é o Guerra do Paraguai? E a prima é a Guerra das Malvinas?
E já que estamos com a boca na Erenice, lembrei do Waldomiro Diniz. Depois que esvaziou suas gavetas no Planalto, alguém se iludiu que sua mesa tivesse ficado vazia? Nosso imenso comodismo falou mais alto ou foi a crença de que algum paladino da Justiça iria olhar por nós? Quem sabe os marines ainda venham nos salvar, não é mesmo? Ou o Esquadrão Classe A.

barbara@uol.com.br

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