São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 2000

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VIOLÊNCIA
Para governador, que antes dizia que crimes eram isolados, mortes são uma resposta à identificação de traficantes
Policiais sofrem represália, diz Garotinho

PEDRO DANTAS
DA SUCURSAL DO RIO

O governador do Rio, Anthony Garotinho, afirmou ontem que os assassinatos recentes de policiais no Estado são uma ação organizada do tráfico de drogas. Segundo ele, as mortes são uma represália a um trabalho de identificação de traficantes desenvolvido em sigilo há quatro meses pela Secretaria de Segurança, que resultará em mais de 200 pedidos de prisão preventiva nos próximos dias.
"Houve uma reação por parte dos criminosos que não tinham passagem pela polícia, que se sentiram mapeados. Já temos todos identificados, com locais de atuação e tipos de crimes, todos ligados à venda de drogas e armas", declarou o governador, que antes dizia que os assassinatos eram crimes isolados.
O trabalho de identificação foi coordenado pelo subsecretário de Planejamento da secretaria, coronel Lenine de Freitas, que teve auxílio de delegados e do serviço reservado da Polícia Civil. Segundo Garotinho, a pesquisa durou quatro meses e identificou mais de 200 jovens de 16 a 25 anos ligados ao crime organizado.
No Rio, 80 policiais já foram mortos desde o início do ano. Boa parte dos casos aconteceu nos últimos dois meses. No dia 5 de outubro, 200 policiais civis protestaram em frente ao prédio da Chefia da Polícia Civil, no centro do Rio.
O governador rejeitou a versão de que a maioria das mortes seria devido a um acerto de contas entre traficantes e policiais corruptos. "Pode até ser que um ou outro policial tenha morrido por acerto de contas, mas a maioria morreu por represália dos traficantes ao trabalho da polícia."
Na próxima sexta-feira, ele se reunirá na Academia de Polícia Militar com todos os delegados e comandantes da PM.
"Vou dizer a eles que a polícia do Rio não deve se sentir amedrontada pelo comportamento dos criminosos. Já esperávamos essa reação e não recuaremos."
O governador anunciou ainda que uma comissão de 15 policiais civis e militares irá apurar as circunstâncias das mortes. Uma outra comissão com assessores das secretarias de Administração e de Segurança Pública irá agilizar o pagamento das pensões aos familiares dos policiais mortos.
Na noite de anteontem, o inspetor de polícia civil Obertal Bessa Filho, 56, foi morto ao reagir a uma tentativa de assalto ao lado da Vila Olímpica do morro da Mangueira (zona norte).
Três homens usaram tapumes de obras da Prefeitura do Rio para bloquear o carro do policial, que estava acompanhado da mulher e da filha de quatro anos. Ambas ficaram feridas no tiroteio.


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