São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

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CIDADE SITIADA

Sede do governo estadual foi atingida por tiros de fuzil, e granada explodiu em shopping; policial morreu baleado

Traficantes atacam palácio e polícia no Rio

Marcelo Sayão/Agência O Globo
Marca de tiro no Palácio Guanabara


Marco Antonio Rezende/Folha Imagem
Camionete pichada


SABRINA PETRY
FERNANDA DA ESCÓSSIA
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Em ações coordenadas, traficantes armados com granadas e fuzis atacaram, entre 21h50 de terça-feira e 2h de ontem, o Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, o shopping Rio Sul (Botafogo, zona sul), uma delegacia, no centro, e dois carros de polícia. Os ataques começaram depois de uma tentativa de fuga no presídio Bangu 3, na zona oeste da cidade.
As ações foram iniciadas em Bangu 3. Dentro da penitenciária, presos armados com três fuzis, cinco pistolas e cinco quilos de explosivos tentaram derrubar o muro dos fundos. Do lado de fora, quatro carros com traficantes armados se posicionaram para dar cobertura a uma fuga.
O objetivo das ações, de acordo com o chefe da Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, seria resgatar líderes da facção criminosa CV (Comando Vermelho), aliados do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, promovendo uma fuga em massa do presídio. Beira-Mar está isolado no Batalhão de Choque da PM desde 13 de setembro, com mais seis presos do CV.
Os principais presos a serem resgatados seriam Isaías Costa Rodrigues, o Isaías do Borel, Adair Marlon Duarte, o Aldair da Mangueira, e Rodrigo Barbosa da Silva, o Rolinha do Alemão.
Um policial militar de guarda na guarita de Bangu 3 reagiu a tiros, junto com guardas penitenciários. A tentativa de fuga fracassou, mas gerou uma rebelião que só terminou na manhã de ontem.
Os traficantes que atacaram o presídio conseguiram fugir. O grupo, segundo a polícia, teria sido liderado por Adriano Ferreira dos Santos, 20, o Tienéia, da favela Mandela, em Manguinhos, preso ontem de manhã. Ele negou participação no episódio.
Momentos depois do ataque ao presídio, criminosos deram início a ações em diversos pontos da cidade. Entre 23h e 23h30, traficantes ordenaram que moradores do morro da Providência entrassem num ônibus que os levaria até o complexo de Bangu. O ônibus foi abordado por PMs. Os passageiros contaram à polícia que receberam ordens, mas não sabiam a razão de irem a Bangu.
À meia-noite, um carro da Polícia Civil foi atacado por um grupo de criminosos em São Cristóvão (zona norte). Houve troca de tiros, e o policial Roberto Santana da Rocha, 52, foi morto. No Campo de São Cristóvão foram localizadas duas picapes pretas sem placa e com inscrições "ADA" e "Bonde do Linho", referências à facção Amigo dos Amigos e ao traficante líder do Terceiro Comando. As inscrições podem ser uma tentativa de despiste, pois a ADA e o TC são rivais do CV.
Às 0h40, dois homens em um táxi pararam em frente ao shopping Rio Sul, e um deles atirou uma granada. A explosão abriu um buraco na calçada e estilhaçou uma vitrine. Ninguém se feriu, e os homens conseguiram fugir.
À 1h15, dois homens em um táxi -os mesmos que atacaram o shopping, segundo a polícia-, dispararam tiros de fuzil contra o Palácio Guanabara. A fachada do prédio, que era guardado por seis PMs, foi atingida por nove tiros.
Cinco minutos depois, os mesmos criminosos atacaram um carro do 1º BPM (Batalhão de Polícia Militar) na entrada do túnel Santa Bárbara, ferindo um policial. A seguir, a 6ª Delegacia de Polícia, na Cidade Nova (zona central), foi alvejada, supostamente pelos mesmos homens.
Segundo o chefe de Polícia Civil, as ações aconteceram para desviar a atenção da polícia do complexo de Bangu, onde ocorria a tentativa de fuga.
"O CV está sem liderança nas ruas, e essa operação foi determinada para libertar alguns líderes. As ações que se seguiram eram para despistar a polícia. Como a fuga foi frustrada, não sabemos se elas também aconteceram como retaliação", disse Teixeira.
As ações teriam sido articuladas numa reunião na Rocinha (zona sul), com a presença dos traficantes Luciano Barbosa da Silva, o Lulu da Rocinha, André Anchieta, o Menininho do Jacarezinho, e Márcio Batista da Silva, o Dinho Porquinho, de Manguinhos.
Segundo a PM, também houve registro de "bondes" -comboios de traficantes- durante a madrugada. Até o início da noite, duas pessoas haviam sido presas: Tienéia, acusado de liderar a tentativa de resgate em Bangu 3, e Marcelo da Silva Santos, acusado de ter jogado a bomba no Rio Sul. Ele portava uma granada.


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