São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

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CIDADE SITIADA

Detentos usaram um túnel para chegar perto de muro do presídio, que iriam explodir; reação policial impediu fuga

Arsenal de presos tinha fuzis e explosivos

DA SUCURSAL DO RIO

Três fuzis, cinco pistolas, três granadas, 5 kg de explosivos, estoques (facas artesanais), 11 carregadores de fuzil, oito de pistola e 327 balas para armas de diferentes calibres foram entregues ontem à polícia por presos da penitenciária Bangu 3 (zona oeste), após o fim da rebelião iniciada na noite anterior, quando a PM (Polícia Militar) conseguiu impedir uma tentativa de fuga em massa.
As armas foram quebradas pelos presos, que mantiveram dois agentes penitenciários reféns durante toda a madrugada. Eles foram liberados por volta das 9h sem ferimentos. Quatro presos ficaram levemente feridos.
Em Bangu 3, há 896 presos da facção criminosa CV (Comando Vermelho), que tem o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, como um de seus principais líderes.
Beira-Mar está preso no BPChoque (Batalhão de Choque) da PM desde 13 de setembro, dois dias depois de ter participado de uma rebelião em Bangu 1 que terminou com a morte de quatro traficantes de facções rivais.
Em Bangu 3 estão importantes líderes do CV, como Isaías Costa Rodrigues, o Isaías do Borel, Alexander da Silva, o Polegar, Adair Marlon Duarte, o Aldair da Mangueira, e Leonardo Marques da Silva, o Sapinho da Providência.
Durante a vistoria feita pela polícia em Bangu 3, foi descoberto um túnel que começava dentro de uma das celas da galeria 1 e desembocava perto do muro da parte de trás do presídio.
A cerca de 100 metros do muro há outro muro que circunda todo o complexo penitenciário. Colado a ele, há um depósito de lixo e uma favela. Era por ali que os presos planejavam fugir.
Os 5 kg de explosivos do tipo C-4, que tem alto poder de destruição, seriam usados para abrir buracos nos muros. Quatro Blazers, com criminosos armados, esperavam no depósito de lixo para resgatar os presos.
Segundo o delegado-titular da 34ª Delegacia de Polícia, Leonilson Ribeiro, dezenas de presos chegaram pelo túnel até o muro interno do presídio, por volta das 21h30. "Eles só não conseguiram fugir porque um PM que estava na torre os viu e atirou", disse.
Os presos e os criminosos que esperavam no depósito de lixo trocaram tiros com policiais que guardavam o complexo. Com a ação policial, a fuga foi frustrada.
"Tudo foi orquestrado de dentro para fora. A intenção era fugir. Como não deu, eles fizeram a rebelião. As ações isoladas na cidade [ataques a delegacias, carros de polícia, shopping e sede do governo] foram feitas para confundir a polícia e desviar a atenção para a fuga", afirmou o delegado.
Ribeiro abriu inquérito e vai ouvir os presos e os 17 agentes penitenciários de plantão, principalmente os dois mantidos reféns, André Rocha de Arruda e Cláudio Nunes Cortes.
"Não há dúvidas de que houve algum tipo de conivência. Não há outra explicação para o armamento que estava lá dentro."
O delegado suspeita, a princípio, de seis presos à frente do planejamento. Além de Sapinho da Providência e Isaías do Borel, estão na lista dos suspeitos José Carlos Elias, o Popeye, Marcos José Monteiro, o Cebolinha, Márcio Cândido da Silva, o Porca Russa, e Jorge Luiz Pereira Soares.
Segundo Ribeiro, eles participaram das negociações com a polícia, durante a rebelião. O delegado disse ainda que os presos destruíram os setores administrativos do presídio.
(TALITA FIGUEIREDO)


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