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ADMINISTRAÇÃO
Mais de um ano após a apreensão de documentos das cooperativas, não foram apresentadas provas de irregularidades
Prefeitura perde a guarda de papéis do PAS
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais de um ano depois da
apreensão de milhares de documentos das cooperativas do PAS,
a Prefeitura de São Paulo e o Ministério Público não terminaram
suas apurações e não apresentaram provas suficientes para convencer a Justiça a manter o material recolhido. Em 20 de agosto a
Secretaria Municipal da Saúde
perdeu a guarda dos papéis.
"(...) Nos sete volumes destes
autos da medida cautelar [o mandado de busca e apreensão dos
papéis], passado mais de um ano,
em nenhuma oportunidade se indicou a existência de conduta criminosa e muito menos qual o andamento do inquérito policial,
que deveria ter sido iniciado e
após (sic) ou em seguida à
apreensão presente", afirma a juíza do Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária, órgão que autorizou a
apreensão) Ivana David Boriero
no despacho que determina a devolução dos papéis.
No último dia 24 de junho a secretaria requisitou a prorrogação
da apreensão por mais um ano,
alegando que não terminara as
apurações. O Ministério Público,
em uma solicitação feita no dia seguinte, pediu a apreensão definitiva dos papéis.
No seu pedido, a secretaria informava que "à medida que o exame se aprofunda, surgem aspectos e elementos insuspeitados, os
quais (...) passam a demandar novas e específicas investigações."
A própria solicitação, no entanto, comprova que, apesar de a
pasta ter a guarda dos papéis desde 5 de julho do ano passado, somente em 3 de junho deste ano,
quase um ano depois, um mutirão de procuradores do município foi convocado para analisá-los
sob o aspecto jurídico.
O promotor Silvio Antônio
Marques, um dos que assinam o
último pedido de prorrogação do
Ministério Público, disse que não
foi solicitada a abertura de inquérito policial até hoje porque o órgão ainda aguarda um laudo a
cargo de seus técnicos. Afirmou,
no entanto, que os documentos
teriam auxiliado em uma série de
investigações em curso -informação que não foi dada à Justiça.
Denúncias de que documentos
estavam sendo destruídos poucos
dias antes da extinção do sistema
motivaram o pedido de busca e
apreensão de livros, registros fiscais e contábeis, disquetes e outros objetos das cooperativas.
O PAS, implantado em 1995, na
gestão de Paulo Maluf (PPB),
transferiu a gerência das unidades
de saúde do município para entidades privadas, cooperativas de
profissionais de saúde.
A prefeitura, até o plano ser extinto pelo PT em junho de 2001,
transferia dinheiro para as cooperativas administrarem as unidades. O PT foi o principal crítico do
PAS e denunciante de desvios dos
recursos públicos.
O único trabalho apresentado à
Justiça relacionado à apreensão
dos documentos é um relatório
parcial de superfaturamento de
remédios e materiais hospitalares
feita por cinco dentistas que tinham, originalmente, a incumbência de apenas zelar pelos papéis e encaminhar cópias aos órgãos interessados. Num esforço
pessoal, o grupo, sem a ajuda de
advogados ou contadores, verificou notas fiscais de compras feitas
pelo PAS de 1996 a 2001 e conseguiu demonstrar superfaturamento de até 4.000% na compra
de itens pelo sistema.
A prefeitura acertou com as
cooperativas um cronograma de
devolução dos documentos, iniciado em 30 de setembro, com
previsão de terminar somente no
fim do próximo mês.
O histórico da apreensão é marcado por um embate entre a Secretaria Municipal da Saúde e a
Secretaria da Fazenda do Estado.
Segundo documentos enviados
pela Fazenda à juíza, o órgão, que
realizou a apreensão em parceria
com polícia, prefeitura e Ministério Público, autorizada pelo Dipo
em 26 de junho de 2001, informa
que só teve acesso aos documentos a partir do dia 19 de dezembro
de 2001, pouco antes de expirar o
primeiro prazo da apreensão, de
180 dias, conforme comprova ofício do secretário da Saúde, Eduardo Jorge, apresentado pela Fazenda à juíza. A secretaria da saúde só
começou a organizar o material a
partir de setembro.
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