São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2004

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SEGURANÇA

Apesar de menores índices de criminalidade, zona sul carioca é mais protegida pela polícia que bairros pobres

Área nobre do Rio tem mais policiamento

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

A distribuição do policiamento na região metropolitana do Rio privilegia os bairros da zona sul da capital em detrimento as áreas mais pobres, onde a população e os índices criminalidade são mais elevados.
Dados fornecidos por associações vinculadas à PM (Polícia Militar) revelam grandes discrepâncias: os efetivos dos batalhões da zona sul são proporcionalmente (comparados ao tamanho da população) maiores- às vezes até em números absolutos- do que os localizados no subúrbio, zona oeste e Baixada Fluminense, áreas bem mais violentas.
A zona sul, onde vivem 708.732 pessoas, possui 1 policial para cada 324 habitantes. A Baixada Fluminense, cuja população é cinco vezes maior (3.598.727 pessoas), tem 1 PM para 1.278 habitantes.
Comparando batalhão a batalhão, as discrepâncias são ainda maiores. Um dos exemplos é o do 23º Batalhão, que abrange seis bairros e favelas da Rocinha e do Vidigal, cuja população somada é de 230.400 pessoas.
O efetivo da unidade é de 1.177 homens, superior ao do 20º Batalhão, em Mesquita (Baixada Fluminense), que abrange outros quatro municípios e conta com 1.005 homens para garantir a segurança de uma população quase sete vezes maior (1.602.424).
Apesar do efetivo maior, a região do 23º Batalhão apresenta uma média mensal de 2,8 homicídios (a terceira menor) enquanto a área do 20º é a que tem a maior- 73,8 assassinatos por mês, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública.
A desigualdade se repete quando o efetivo do 23º é comparado ao do 14º Batalhão (Bangu, zona oeste). A unidade, que responde por 12 bairros cuja população somada é de 786.874 habitantes, conta com 737 PMs e média de 30 homicídios por mês, dez vezes mais do que no Leblon.
Mesmo com o policiamento maior do que em outras áreas mais violentas e populosas, a região do Leblon vem registrando vários episódios de violência nos últimos meses, como a guerra entre traficantes da Rocinha e Vidigal, que começou na Semana Santa, além do arrastão na praia do Leblon, no final de setembro.
O presidente da Associação de Moradores do Leblon, João Fontes, disse que não há policiais nas ruas. "Falta policiamento ostensivo e preventivo. Os episódios ocorridos nos últimos meses nos deixaram com vergonha de ser carioca", declarou Fontes.

Copacabana
O 19º Batalhão, que abrange os bairros de Copacabana e do Leme (zona sul), tem o efetivo numérico (417) quase igual ao do 21º (São João de Meriti, Baixada Fluminense), que possui 423 policiais, embora a população seja quase três vezes menor (161.178 e 461.638 respectivamente).
Em compensação, a média de homicídios em São João de Meriti é de 15 por mês enquanto que na área do 19º, é de 1,4 assassinatos por mês, em média, o menor índice na região metropolitana.
O 2º Batalhão, responsável pelos bairros de Botafogo, Flamengo, Catete, Glória e Cosme Velho, todos na zona sul, conta com 587 policiais, número superior ao do 15º Batalhão, em Duque de Caxias, que tem 529.
Não foi levado em conta, porém, que o batalhão de Caxias abrange uma área com 830.679 habitantes, quase três vezes mais do que a do 2º, que tem 317.154 pessoas. Nem que Duque de Caxias registra 98 assaltos a pedestres por mês contra 47,2 na região do batalhão de Botafogo.
O 9º Batalhão, que fica no subúrbio de Rocha Miranda, apresenta a maior média mensal de roubos a pedestres no Rio. São 200 por mês. Apesar disso, tem 1 policial para cada 1.256 habitantes, o quarto pior efetivo proporcional da região metropolitana.
As favelas localizadas na zona sul também recebem maior atenção da polícia. Quando explodiu a guerra entre quadrilhas rivais da Rocinha, durante a Semana Santa, a Secretaria de Segurança mobilizou 1.300 homens para ocupar a favela nas semanas seguintes.
Na semana passada, quando houve confrontos entre traficantes na favela Vigário Geral (subúrbio), que já foi palco de várias chacinas, apenas 120 policiais ocuparam a comunidade.

Ofício
"Enviei um ofício ao comando da Polícia Militar para saber qual é o critério utilizado para a distribuição do policiamento", disse o economista Eduardo Fauze, coordenador do Movimento Baixada Livre, que defende a estadualização da região.
Segundo Fauze, Nova Iguaçu e Duque de Caxias têm excelente potencial econômico e deveriam receber mais atenção.
O diretor da Associação Nacional dos Policiais Militares, tenente Melquisedec do Nascimento, disse que a zona sul é privilegiada pois lá "moram os protagonistas teóricos da segurança pública".


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