|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ingestão de cálcio após os 40 é menor que a necessária
Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
|
Reiko, 77, e Paulo Togashi, 82, que mudaram os hábitos alimentares |
Consumo diário é quase três vezes menor do que o recomendado, diz pesquisa
Segundo o estudo, fraturas relacionadas à osteoporose são duas vezes e meia mais comuns em mulheres com dieta pobre nesse nutriente
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A ingestão diária de cálcio pelos brasileiros acima de 40 anos
é quase três vezes menor do
que a recomendação médica
para a prevenção de fraturas
causadas pela osteoporose
(perda óssea). O consumo médio é de 400 mg, enquanto o
correto seria entre 1.000 a
1.500 mg -um copo de 300 ml
de leite tem, em média, 300 mg
do mineral.
A constatação é do primeiro
estudo epidemiológico feito para verificar os principais fatores de risco para fratura óssea
na população brasileira. Envolveu 2.420 pessoas (1.695 mulheres e 725 homens) acima de
40 anos de idade, de 120 municípios brasileiros.
A pesquisa, coordenada pela
Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo) com patrocínio
da Wyeth Consumer Healthcare, também mostrou que as fraturas são duas vezes e meia
mais freqüentes em mulheres
com dieta pobre em cálcio.
Os dados mostram que 85%
dos homens e 70% das mulheres acima de 40 anos que já tinham sofrido fratura em regiões como vértebra, fêmur, antebraço, úmero e costela -típicas da osteoporose-, não sabiam ou não tinham diagnóstico da doença.
Segundo o médico Marcelo
Pinheiro, coordenador do estudo e reumatologista da Unifesp,
é comum as pessoas sofrerem
fraturas relacionadas à osteoporose, receberem tratamento
ortopédico e não serem encaminhadas para o tratamento da
causa da fratura.
"Podemos concluir que esse
tipo de fratura não tem sido valorizada nem pela população
nem pela maioria dos médicos.
Há falta de informação e educação sobre a doença."
Reincidência
Quem já sofreu fratura relacionada à osteoporose corre
três vezes mais riscos de sofrer
nova fratura. "É fundamental
alertar as pessoas que, na presença de uma fratura de baixo
impacto, principalmente após
os 40 anos, questionem seu
médico sobre a possibilidade de
ter ou não osteoporose", orienta Geraldo Castelar, diretor
científico da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
Marcelo Pinheiro explica que
a perda óssea de homens e mulheres tem causa distinta. Enquanto nas mulheres o maior
problema é a baixa ingestão de
cálcio e vitamina D, nos homens é o sedentarismo.
A vitamina D é responsável
pela absorção intestinal do cálcio. Sua produção é estimulada
pela exposição solar -até por
volta dos 60 anos, tomar de 15 a
20 minutos por dia de sol em
superfícies como os braços e as
pernas já é o suficiente para
manter os níveis adequados
desse nutriente no organismo.
Segundo Pinheiro, embora
90% dos entrevistados já tenham ouvido falar em osteoporose e 85% acreditem nas formas de prevenção da doença,
80% ainda não modificaram
seus hábitos de vida, ou seja,
permanecem com baixa ingestão de cálcio e sem praticar atividade física. "O problema não
é de classe social. É um hábito
cultural", avalia o médico.
O sobrepeso também preocupa. Entre as pessoas com
maior poder aquisitivo avaliadas na pesquisa, 60% estão acima do peso. Quanto maior o Índice de Massa Corpórea (IMC),
mais chances há de ocorrer
doenças associadas à osteoporose, como hipertensão, diabetes, artrite e dislipidemias.
No total, 75% dos pesquisados brasileiros são sedentários.
A falta de atividade física pode
elevar a probabilidade de fratura em até 15%.
Durante o estudo, os pesquisadores observaram um alto
consumo de cafeína em todas
as classes sociais. Segundo Pinheiro, o café também é um dos
vilões porque aumenta a perda
de cálcio pelos rins e, ao mesmo
tempo, diminui a absorção do
nutriente pelo intestino.
Mulheres
A menopausa provoca alterações no ciclo de remodelação
óssea (troca de osso velho por
osso novo). Com a falta de estrógeno, a perda de osso passa a
ser maior do que a formação.
Dos 30 até os 45 anos, a mulher
perde em torno de 1% a 3% de
osso ao ano. Por volta dos 45,
50 anos, essa perda aumenta
para em torno de 5% a 7%.
Na pesquisa, ficou demonstrada a associação entre fratura
e dieta pobre em cálcio. Enquanto as mulheres sem fratura relataram ingerir 400 mg de
cálcio por dia, as que apresentavam fratura no seu histórico
clínico ingeriam 300 mg/dia.
Em ambos os casos, a ingestão estava aquém das recomendações diárias. "A dieta desempenha um papel mais relevante
nas mulheres do que nos homens, independentemente da
classe social", diz Pinheiro.
Segundo o estudo, 51% das
mulheres estão acima do peso e
85% praticaram alguma atividade física no último ano, mas
poucas fazem exercícios regularmente. Das entrevistadas,
46% são fumantes -consomem, em média, dez cigarros
por dia.
Texto Anterior: Feriado: Acidentes matam 9 na região de Ribeirão Próximo Texto: Idoso de 82 anos só descobriu ter a doença após cair Índice
|