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ANÁLISE
Solução depende de pena alternativa e Justiça ágil
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Não é preciso mais do que
uma passada de olhos pela aritmética prisional para constatar
quão complicado é o problema
carcerário no país em geral e
em São Paulo em particular.
Dos 469.546 presos do Brasil
(dados de junho de 2009), o Estado concentra 158.704, ou seja, 33,8%. Em termos demográficos, São Paulo representa
21,6% dos habitantes do país.
E a população carcerária
paulista só cresce. Em junho de
2008, eram 145.096 -um ganho líquido de 1.134 presos por
mês. Apenas acomodá-los exigiria construir um presídio e
meio a cada quatro semanas.
O problema dessa conta é
que ela visa à manutenção do
"statu quo" -que não é nada
bom. Ela não considera, por
exemplo, a necessidade de reduzir a superlotação carcerária
nem que existem no país entre
200 mil e 400 mil mandados de
prisão que não são executados
devido à falta de vagas.
Outro ponto é que nossas polícias prendem pouco. Uma
baixa na criminalidade passaria
por uma polícia e um Judiciário
capazes de solucionar mais delitos, identificar seus autores e
condená-los na forma da lei.
Reportagem da "Economist"
publicada em 2008 diz que a taxa de elucidação de homicídios
no Brasil é de 8%. Nos EUA, ela
é de 65% e, no Japão, 90%.
Se tivéssemos uma polícia e
um Poder Judiciário mais eficientes -e se espera que um dia
o sejam-, precisaríamos de
ainda mais vagas no sistema.
A menos que queiramos
transformar o país num imenso
canteiro de construção de presídios, é preciso ampliar a aplicação de penas alternativas e
agilizar a soltura de presos que
já cumpriram suas sentenças.
Nesse cenário, ao lado da melhoria da polícia, faz-se necessário o fortalecimento da Defensoria, bem como a promoção da
cultura de penas alternativas.
Apesar dos avanços nos últimos
anos, muitos magistrados ainda
relutam em aplicá-las.
É claro que mesmo essas políticas têm um limite. Se soltássemos todos os condenados em
São Paulo por crimes não violentos, como furto, liberaríamos apenas 22% das vagas.
Até que as forças da demografia atuem e consolidem uma população mais idosa e, portanto,
menos propensa ao crime, a
questão prisional continuará
como um saco sem fundo.
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