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Impasse leva hospital centenário à ruína
Tombada, unidade precisa atender a exigências do Iphan e da Anvisa, que não chegam a acordo sobre reformas
Com apenas 40% da área funcionando, local atende mais de 10.000 pacientes por mês e
não possui dívidas
DIANA BRITO
DO RIO
Fundado por dom Pedro 2º
e pela princesa Isabel em
meados do século 19, o Hospital Escola São Francisco de
Assis da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro)
impressiona pelo aspecto de
abandono em plena avenida
Presidente Vargas, principal
via central do Rio.
Um impasse entre o Iphan
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a
Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) e a UFRJ
deixa "incompatível" a manutenção do monumento como unidade de saúde.
"Como o prédio é tombado
[desde 1983] pelo Iphan, não
pode fazer uma pintura numa sala com a tinta indicada
pela Anvisa, por exemplo",
afirmou à Folha a ex-vice-diretora do hospital, Carla Luzia França Araújo.
"Não tem como atender ao
Iphan pela questão do tombamento e a Anvisa com as
normas de segurança para o
controle de infecção. É o
principal motivo de tanta dificuldade durante esses anos
para fazer um restauro adequado", conclui.
Segundo o superintendente do Iphan no Rio, Carlos
Andrade, a questão nunca foi
levada ao órgão.
"É claro que poderíamos
verificar o impacto da pintura. Uma tinta mal usada pode
fazer a argamassa cair. A outra queda de braço é que eles
querem começar as obras
não por onde está caindo,
mas onde vai permitir que o
hospital volte a funcionar.
Ora, meu Deus, são recursos
do Ministério da Cultura. Tenho que priorizar o prédio."
A coordenadora de Infraestrutura e Serviços de
Saúde da Anvisa, Regina
Barcellos, aponta dificuldades de manutenção na unidade, mas disse acreditar
que tudo pode ser resolvido
com uma reunião entre "as
duas áreas em confronto".
Moradores do Rio dizem se
sentir "envergonhados" com
o prédio caindo aos pedaços,
com infiltrações, pichações,
janelas corroídas, vidros
quebrados e plantas nascendo na fachada. Impossível
imaginar que lá dentro funcione um hospital.
"Pensei que era um prédio
antigo abandonado", disse o
soldado da Aeronáutica, Rafael Ribeiro, 18, que foi ao
hospital por indicação do
Instituto Estadual de Hematologia do Rio.
Mas se por fora o hospital
parece um doente terminal,
"por dentro pulsa um coração forte", afirma a direção
da unidade, que é referência
no tratamento de portadores
do vírus HIV.
O professor de infectologia
da UFRJ, Mauro Schechter,
afirma que o hospital possui
uma das maiores produções
científicas em HIV/Aids da
América Latina e do Caribe e
atende pelo menos 1.000 pacientes regulares na área.
Mesmo com 40% dos sete
mil metros quadrados do
conjunto desativados devido
à má conservação, o lugar
presta serviços de atendimento ambulatorial para o
SUS (Sistema Único de Saúde), atende pelo menos
10.000 pacientes por mês e
não tem dívidas.
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