São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2010

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Impasse leva hospital centenário à ruína

Tombada, unidade precisa atender a exigências do Iphan e da Anvisa, que não chegam a acordo sobre reformas

Com apenas 40% da área funcionando, local atende mais de 10.000 pacientes por mês e não possui dívidas

DIANA BRITO
DO RIO

Fundado por dom Pedro 2º e pela princesa Isabel em meados do século 19, o Hospital Escola São Francisco de Assis da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) impressiona pelo aspecto de abandono em plena avenida Presidente Vargas, principal via central do Rio.
Um impasse entre o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e a UFRJ deixa "incompatível" a manutenção do monumento como unidade de saúde.
"Como o prédio é tombado [desde 1983] pelo Iphan, não pode fazer uma pintura numa sala com a tinta indicada pela Anvisa, por exemplo", afirmou à Folha a ex-vice-diretora do hospital, Carla Luzia França Araújo.
"Não tem como atender ao Iphan pela questão do tombamento e a Anvisa com as normas de segurança para o controle de infecção. É o principal motivo de tanta dificuldade durante esses anos para fazer um restauro adequado", conclui.
Segundo o superintendente do Iphan no Rio, Carlos Andrade, a questão nunca foi levada ao órgão.
"É claro que poderíamos verificar o impacto da pintura. Uma tinta mal usada pode fazer a argamassa cair. A outra queda de braço é que eles querem começar as obras não por onde está caindo, mas onde vai permitir que o hospital volte a funcionar. Ora, meu Deus, são recursos do Ministério da Cultura. Tenho que priorizar o prédio."
A coordenadora de Infraestrutura e Serviços de Saúde da Anvisa, Regina Barcellos, aponta dificuldades de manutenção na unidade, mas disse acreditar que tudo pode ser resolvido com uma reunião entre "as duas áreas em confronto".
Moradores do Rio dizem se sentir "envergonhados" com o prédio caindo aos pedaços, com infiltrações, pichações, janelas corroídas, vidros quebrados e plantas nascendo na fachada. Impossível imaginar que lá dentro funcione um hospital.
"Pensei que era um prédio antigo abandonado", disse o soldado da Aeronáutica, Rafael Ribeiro, 18, que foi ao hospital por indicação do Instituto Estadual de Hematologia do Rio.
Mas se por fora o hospital parece um doente terminal, "por dentro pulsa um coração forte", afirma a direção da unidade, que é referência no tratamento de portadores do vírus HIV.
O professor de infectologia da UFRJ, Mauro Schechter, afirma que o hospital possui uma das maiores produções científicas em HIV/Aids da América Latina e do Caribe e atende pelo menos 1.000 pacientes regulares na área.
Mesmo com 40% dos sete mil metros quadrados do conjunto desativados devido à má conservação, o lugar presta serviços de atendimento ambulatorial para o SUS (Sistema Único de Saúde), atende pelo menos 10.000 pacientes por mês e não tem dívidas.


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