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São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2003

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MUNDO ANIMAL

34,2% dos cães registrados na capital paulista não possuem raça definida; entre os gatos, índice é de 74,6%

Vira-latas são os preferidos dos paulistanos

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um poodle de pedigree ou um gato persa puro-sangue podem ser muito chiques, mas os vira-latas é que são os melhores amigos dos paulistanos. Pelo menos é o que revelam, até agora, as informações do RGA (Registro Geral do Animal) -a carteira de identidade que todos os bichos domésticos devem, de acordo com uma lei municipal, possuir.
Dos 181,8 mil cães que já têm RGA na cidade de São Paulo, 34,2% são vira-latas. Entre os gatos, essa parcela é ainda maior: 74,6% dos 31,2 mil animais registrados pertencem à categoria SRD, ou sem raça definida. E esses percentuais podem até estar sendo subestimados, já que cabe ao proprietário informar qual é a raça do bicho na hora em que o documento é feito, o que leva muitos animais mestiços -portanto sem raça- a "ganhar" uma.

"Ilustre companheira"
A informação de que São Paulo é uma cidade de vira-latas pode até causar surpresa, mas a capital paulista tem uma "ilustre" companheira na mistura de raças -pelo menos entre os animais. Em Nova York, o licenciamento de cães também apontou que os mestiços são os animais preferidos da população.
Em São Paulo, existem duas possíveis explicações para esse "pódio" dos vira-latas, na avaliação da veterinária Luciana Hardt Gomes, assessora da direção do CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) da prefeitura.
A primeira é que os donos de animais com pedigree podem estar simplesmente ignorando o documento de identidade porque seus bichos já têm uma série de certificados em clubes e entre os criadores, enquanto os SRD não possuem nenhuma dessas garantias de "nascença".
A outra seria a maior consciência dos donos de vira-latas.
Como os bichos sem raça são geralmente adotados com a intermediação de entidades oficiais e de organizações não-governamentais (ONGs) de proteção aos animais, seus proprietários acabam sendo o alvo principal das campanhas de posse responsável -que, aos poucos, começam a dar resultados, defende a veterinária Fernanda Cabello Campos, fundadora da ONG Território Selvagem, uma das muitas que fazem eventos de adoção.
Os resultados apresentados pelo cadastramento dos animais -ainda que representem somente 12,12% do total estimado de cães (1,5 milhão) e 9,5% do número de gatos (230 mil) na cidade de São Paulo- caem como uma luva no discurso dos defensores dos bichos: vira-lata é melhor.
As associações de proteção, as ONGs que trabalham com animais e até os organismos públicos costumam se colocar em posição contrária à venda de filhotes de pedigree e estimulam a adoção de bichos de todas as idades e sem raça, a maioria dos quais é encontrada nas ruas. Os ganhos, sustentam, são muitos.

Os benefícios
Para o futuro dono, começam no preço: os animais sem raça não custam nada, enquanto os de pedigree não saem por menos de algumas centenas de reais (algumas vezes chegam aos milhares).
Além desse benefício financeiro, os vira-latas são mais "espertos e carinhosos" e "geralmente têm uma saúde mais resistente", afirmam, respectivamente, proprietários e veterinários.
Para a cidade, os benefícios são à saúde pública. Cães e gatos abandonados nas ruas -a grande maioria deles vira-latas- são potenciais vetores de doenças graves como raiva e leishmaniose, além de outras tantas menos conhecidas. Adotados, eles não apenas ganham carinho e comida, mas também vacinas, vermífugos e cuidados como a castração, deixando de ser uma ameaça.
Menos animais na rua significa também um número menor de sacrifícios no CCZ. O número de animais abandonados que são mortos por dia já caiu de 100 para cerca de 80, mas a marca ainda é alta, afirma a veterinária Gomes.

Ranking
Entre os cães preferidos dos paulistanos, a maior parte é formada por animais pequenos e considerados de família, o que reflete a crescente verticalização.
A "medalha de prata" fica com o poodle (20% dos registrados), a de bronze com o cocker (6,1%).
Entre os cães de guarda, prevalece a tradição: pastores alemães são os primeiros da lista (4,2%, aparecendo logo após os cockers). Os rotweillers estão em sétimo lugar na classificação geral (3%), e os pit bulls representam só 1,35% do universo. Com menos de 1% estão cães como doberman, pequinês e beagle.
No ranking de Nova York, depois dos vira-latas vêm os labradores (8º lugar em São Paulo) e, em terceiro, os pastores alemães. Os pit bulls, que mantinham o segundo lugar até o ano passado, caíram para o quinto posto.
Dos gatos paulistanos, depois dos vira-latas, os mais encontrados são os siameses (19%), os persas (5%) e os angorás (0,73%). Nos EUA, eles não têm de ser registrados, logo não há estatísticas.
O RGA é um dos pilares do programa de saúde do animal da Prefeitura de São Paulo. As informações sobre os bichos (idade, sexo, se são castrados ou não, endereço) ajudam a desenvolver ações de vacinação, castração e prevenção a surtos de doenças.


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