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MUNDO ANIMAL
34,2% dos cães registrados na capital paulista não possuem raça definida; entre os gatos, índice é de 74,6%
Vira-latas são os preferidos dos paulistanos
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Um poodle de pedigree ou um
gato persa puro-sangue podem
ser muito chiques, mas os vira-latas é que são os melhores amigos
dos paulistanos. Pelo menos é o
que revelam, até agora, as informações do RGA (Registro Geral
do Animal) -a carteira de identidade que todos os bichos domésticos devem, de acordo com uma
lei municipal, possuir.
Dos 181,8 mil cães que já têm
RGA na cidade de São Paulo,
34,2% são vira-latas. Entre os gatos, essa parcela é ainda maior:
74,6% dos 31,2 mil animais registrados pertencem à categoria
SRD, ou sem raça definida. E esses
percentuais podem até estar sendo subestimados, já que cabe ao
proprietário informar qual é a raça do bicho na hora em que o documento é feito, o que leva muitos
animais mestiços -portanto sem
raça- a "ganhar" uma.
"Ilustre companheira"
A informação de que São Paulo
é uma cidade de vira-latas pode
até causar surpresa, mas a capital
paulista tem uma "ilustre" companheira na mistura de raças
-pelo menos entre os animais.
Em Nova York, o licenciamento
de cães também apontou que os
mestiços são os animais preferidos da população.
Em São Paulo, existem duas
possíveis explicações para esse
"pódio" dos vira-latas, na avaliação da veterinária Luciana Hardt
Gomes, assessora da direção do
CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) da prefeitura.
A primeira é que os donos de
animais com pedigree podem estar simplesmente ignorando o
documento de identidade porque
seus bichos já têm uma série de
certificados em clubes e entre os
criadores, enquanto os SRD não
possuem nenhuma dessas garantias de "nascença".
A outra seria a maior consciência dos donos de vira-latas.
Como os bichos sem raça são
geralmente adotados com a intermediação de entidades oficiais e
de organizações não-governamentais (ONGs) de proteção aos
animais, seus proprietários acabam sendo o alvo principal das
campanhas de posse responsável
-que, aos poucos, começam a
dar resultados, defende a veterinária Fernanda Cabello Campos,
fundadora da ONG Território Selvagem, uma das muitas que fazem eventos de adoção.
Os resultados apresentados pelo
cadastramento dos animais
-ainda que representem somente 12,12% do total estimado de
cães (1,5 milhão) e 9,5% do número de gatos (230 mil) na cidade de
São Paulo- caem como uma luva no discurso dos defensores dos
bichos: vira-lata é melhor.
As associações de proteção, as
ONGs que trabalham com animais e até os organismos públicos
costumam se colocar em posição
contrária à venda de filhotes de
pedigree e estimulam a adoção de
bichos de todas as idades e sem
raça, a maioria dos quais é encontrada nas ruas. Os ganhos, sustentam, são muitos.
Os benefícios
Para o futuro dono, começam
no preço: os animais sem raça não
custam nada, enquanto os de pedigree não saem por menos de algumas centenas de reais (algumas
vezes chegam aos milhares).
Além desse benefício financeiro, os vira-latas são mais "espertos e carinhosos" e "geralmente
têm uma saúde mais resistente",
afirmam, respectivamente, proprietários e veterinários.
Para a cidade, os benefícios são
à saúde pública. Cães e gatos
abandonados nas ruas -a grande maioria deles vira-latas- são
potenciais vetores de doenças
graves como raiva e leishmaniose,
além de outras tantas menos conhecidas. Adotados, eles não apenas ganham carinho e comida,
mas também vacinas, vermífugos
e cuidados como a castração, deixando de ser uma ameaça.
Menos animais na rua significa
também um número menor de
sacrifícios no CCZ. O número de
animais abandonados que são
mortos por dia já caiu de 100 para
cerca de 80, mas a marca ainda é
alta, afirma a veterinária Gomes.
Ranking
Entre os cães preferidos dos
paulistanos, a maior parte é formada por animais pequenos e
considerados de família, o que reflete a crescente verticalização.
A "medalha de prata" fica com o
poodle (20% dos registrados), a
de bronze com o cocker (6,1%).
Entre os cães de guarda, prevalece a tradição: pastores alemães
são os primeiros da lista (4,2%,
aparecendo logo após os cockers).
Os rotweillers estão em sétimo lugar na classificação geral (3%), e
os pit bulls representam só 1,35%
do universo. Com menos de 1%
estão cães como doberman, pequinês e beagle.
No ranking de Nova York, depois dos vira-latas vêm os labradores (8º lugar em São Paulo) e,
em terceiro, os pastores alemães.
Os pit bulls, que mantinham o segundo lugar até o ano passado,
caíram para o quinto posto.
Dos gatos paulistanos, depois
dos vira-latas, os mais encontrados são os siameses (19%), os persas (5%) e os angorás (0,73%).
Nos EUA, eles não têm de ser registrados, logo não há estatísticas.
O RGA é um dos pilares do programa de saúde do animal da Prefeitura de São Paulo. As informações sobre os bichos (idade, sexo,
se são castrados ou não, endereço) ajudam a desenvolver ações
de vacinação, castração e prevenção a surtos de doenças.
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