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MOACYR SCLIAR
A vingança do Barney
O senhor Obama vai trazer um poodle; um bicho medroso, que vai se esconder debaixo da cama na primeira confusão
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Barney, o cachorro do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, mordeu
um repórter nos arredores da Casa
Branca. O repórter da agência de notícias Reuters Jon Decker tentou acariciar
a cabeça do cachorro quando foi mordido no dedo. Folha Online
Uma dentre várias promessas que o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, fez foi comprar um cachorro para suas filhas. No início da campanha, prometeu que iria comprar um filhote, perdendo ou ganhando as eleições.
Já eleito, ele anunciou que os EUA terão
um novo "primeiro-cão" em janeiro,
quando deve tomar posse. Em recente
pesquisa realizada pelo American Kennel Club, o clube de cães do país, a maioria dos cerca de 42 mil votantes disse que
os Obama deveriam escolher um autêntico poodle. Lisa Paterson, porta-voz do
AKC, disse que raças amigáveis com as
crianças são as ideais para a família Obama porque têm pêlos antialérgico e um
temperamento social estável.
"Quando os tempos ficam difíceis - durante um
mau momento na economia ou quando
as pressões presidenciais estão no topo-
esses cães servem como companhias
pessoais e proporcionam relaxamento e
alegria para nosso líderes", completou a
porta-voz.
Folha Online
"MEU NOME É BARNEY . Sou
um cachorro, não sei
falar a linguagem de
vocês, humanos. Mas, se eu soubesse, teria muita coisa para dizer. Coisas das quais certamente muitos de
vocês não iriam gostar.
Para começar, eu protestaria contra a maneira pela qual a opinião pública, e a mídia, sobretudo, trataram
meu chefe, o presidente George W.
Bush. Vocês simplesmente acabaram com a carreira política dele. Vocês não o apoiaram e o resultado é
que ele teve essa baixíssima taxa de
aprovação. Agora: do meu ponto de
vista ele estava inteiramente certo.
Fez muito bem em invadir o Iraque,
os caras estavam pedindo. Deveria
até ter invadido mais países. Foi o
que, através de meus latidos, sugeri
muitas vezes. Infelizmente não me
compreendeu. Agora: que apoio ele
teve? Nenhum. Foi por isso que eu
mordi esse jornalista da Reuters.
Foi
a forma de expressar o meu protesto
diante dessa mídia ingrata.
Eu sei que agora já não adianta
muito, sei que em breve a Casa
Branca terá um novo ocupante, esse
senhor Barack Obama. E já ouvi dizer -aqui se sabe de tudo- que ele
trará um novo "primeiro-cão" para
ocupar o meu lugar.
Agora: que cão será esse? Um bicho valente como eu, capaz de agredir os inimigos do meu chefe? Não, o
senhor Obama vai trazer, pelo que
se conta por aí, um poodle. Um poodle! Onde é que se viu? Um bicho
medroso, um bicho que vai se esconder debaixo da cama na primeira
confusão que houver.
Considero esse gesto uma ofensa.
Uma ofensa a meu dono, e uma
ofensa a mim, particularmente. Mas
já aviso: essa coisa não ficará assim.
Voltarei. Nesses anos de Casa Branca descobri muitas passagens secretas, que, pelo menos a um cão
permitem entrar. Quando menos
esperarem, eu voltarei.
E aí o poodle que se cuide. Ele verá
que a nossa tradição guerreira está
viva, e muito bem viva."
MOACYR SCLIAR escreve, às segundas-feiras, um texto
de ficção baseado em notícias publicadas na Folha
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