São Paulo, terça-feira, 17 de novembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Obras apressadas e apreçadas

WALTER CENEVIVA
COLUNISTA DA FOLHA

Pelo padrão usual, quando a "rigorosa investigação" estiver concluída, ninguém lembrará do que aconteceu com as vigas do Rodoanel. Por exceção, todavia, os fatos parecem transparentes: é tempo de campanha. É necessário apresentar obras, com urgência. Meras formalidades legais ou técnicas devem ser esquecidas. "Depois a gente resolve", é a regra.
Apagões são assuntos encerrados, diz um lado político. Os responsáveis pelas vigas serão responsabilizados, diz outro lado. A revisão veicular é essencial, afirmavam ontem. A revisão veicular pode ser afastada, asseguram hoje.
Para o leitor, uma só informação é essencial: quando o serviço púbico não é prestado pela própria administração, são abertas licitações, concorrências, seleções de fornecedores e assim por diante.

Desacerto
A síntese de tudo está no artigo 37 da Constituição. Condições expressas constam de leis e editais. Assinados, os contratos tornam-se imutáveis.
Com frequência desagradável, falhas grosseiras matam e ferem pessoas, perturbam a vida de muitos. Às vezes, de milhões de brasileiros.
As palavras do título resumem a verdade: antes das eleições, a pluralidade de obras -algumas delas até necessárias- vai a toque de caixa, do anúncio à realização.
Descuram-se cuidados. É o apressamento, ou seja, o de agir com pressa, sem tanto cuidado. Alteram-se preços e pagamentos. É o ato de apreçar, isso é, de discutir, de regatear, de pechinchar no ajuste do preço. "Depois a gente acerta."
Resultado: é o que se vê, sem muita distinção entre os políticos de todos os naipes.
Quando o Ministério Público promove as primeiras medidas, há muita notícia.
Quando os processos chegam ao fim, não só as notícias são menores, como os resultados dão a impressão de não terem punido os culpados, já então no passado remoto, por obras muito apressadas e mal apreçadas.
Nesse caso, a culpa será do Judiciário lento, afinal, uma desculpa que tem servido para todos os administradores.
Suspender as obras até que os laudos definitivos sejam aprovados, a curto prazo, é o melhor caminho.


Texto Anterior: Dersa tem prazo de dez dias para explicar acidente
Próximo Texto: Vistoria: TCU afirma que Dnit é responsável por fiscalizar obra
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.