São Paulo, segunda-feira, 17 de dezembro de 2001

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ADMINISTRAÇÃO

Prefeitura está prestes a selar acordo com o Santander para ficar com prédio tradicional e instalar nova sede no centro

Marta supera Alckmin e leva "Banespinha"

SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A Prefeitura de São Paulo planeja para março a mudança de sede, do Palácio das Indústrias para o edifício Patriarca, conhecido como "Banespinha", no viaduto do Chá. Simbólica, a transferência mostra como o poder municipal passou à frente do Estado na transferência para o centro. Há três anos, o prédio era tido como o futuro endereço do governador.
A transação entre a prefeitura e o Banco Santander, que arrematou o Banespa há dois anos, é conduzida em sigilo pela equipe do secretário das Finanças, João Sayad. A Folha apurou que o negócio está praticamente fechado.
O Santander cederia o "Banespinha" à prefeitura, e, em troca, ficaria com a possibilidade de conquistar as contas-correntes dos funcionários públicos municipais. Só de servidores ativos, são cerca de 105 mil novos clientes.
O negócio não custaria nada aos cofres do município. Bastaria que a prefeitura passasse a pagar os salários pelo Banespa/Santander. Hoje, os servidores recebem pelo Banco do Brasil.
Já para a instituição financeira, ganhar 105 mil correntistas vale muito. Quando o Santander comprou o banco estatal, este possuía cerca de 2,7 milhões de clientes.
Ambos os governos firmaram compromisso de transferir secretarias e gabinetes para o centro histórico de São Paulo com o objetivo de revitalizar a região. A idéia foi lançada há cerca de dez anos pela Associação Viva o Centro, quando foi fundada.
Em sete anos de governo do PSDB, o Estado vai para a segunda transferência. Depois da Secretaria da Cultura, muda-se hoje, para a rua Líbero Badaró, a Secretaria da Segurança Pública. Já a prefeitura, em menos de um ano, caminha para a quinta mudança para o centro.
Nas sondagens do governo do Estado, o "Banespinha" era considerado o melhor imóvel para abrigar o gabinete do governador Geraldo Alckmin.
Há pelo menos três anos, a administração estadual estuda deixar o Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi. Não só porque abraçou primeiro a idéia de revitalização do centro, mas também porque a atual sede é distante da área central (cerca de 20 km), que dispõe de infra-estrutura superior à verificada no bairro da zona sul.
Segundo Eduardo Izumino, coordenador-técnico do programa Revive São Paulo, que, entre outras funções, cuida das mudanças de secretarias, o "Banespinha" era, na verdade, uma das opções para abrigar o gabinete do governador. "Entraram na discussão também o Palácio dos Campos Elíseos, na avenida Rio Branco, e o Colégio Caetano de Campos, na praça da República, atual sede da Secretaria da Educação", diz.
No entanto o "Banespinha" foi o único que mereceu, do governo, um estudo arquitetônico, encomendado ao escritório Piratininga Arquitetos Associados em 1999. "Eu, particularmente, considero o Caetano de Campos, que tem um ar de Casa Rosada (sede do governo argentino), melhor opção que o Patriarca", considera Marco Antonio Ramos de Almeida, presidente da Viva o Centro.
Já a administradora regional da Sé, Clara Ant, diz que o Campos Elíseos seria uma ótima idéia. "É uma construção lindíssima."
Para a prefeitura, as mudanças para o centro histórico representam também economia de recursos. A Secretaria da Saúde, por exemplo, poupou cerca de R$ 1 milhão anuais ao deixar, em junho, um imóvel alugado na avenida Paulista para outro, do município, na rua General Jardim. Ao trocar a avenida Paulista pelo edifício Martinelli, a Secretaria do Planejamento baixou as despesas de aluguel e condomínio de R$ 126.629,19 para R$ 55.840. Economia anual de R$ 849.470,28.
Além da economia, as novas sedes de secretarias têm poder para requalificar a vizinhança. A transferência da Secretaria Municipal da Cultura para o prédio que abriga o antigo cinema Olido é o melhor exemplo. A mudança está praticamente certa, e, além de abrigar o órgão, o imóvel deverá virar um centro cultural.
Repleta de cinemas e teatros de sexo explícito, o início da avenida São João, onde está o Olido, é a imagem mais bem-acabada da decadência do centro histórico. A duas quadras da futura sede da secretaria, na rua 24 de Maio, estará um novo centro cultural do Sesc. Com isso, deverá mudar o perfil de frequentadores do calçadão que liga os dois endereços.



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