São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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Militar disputará vaga de civil, diz sargento

Controlador de vôo de Curitiba diz que profissionais da Aeronáutica já treinados vão tentar novo concurso para ganhar mais

Governo anuncia salário de R$ 3.148 para quem passar em seleção para trabalhar como civil, contra R$ 1.600 pagos a militar principiante

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Controladores de vôo militares já treinados devem conquistar a maior parte das 64 vagas para controlador civil, no concurso emergencial aberto pelo Ministério da Defesa para formar um número seguro de profissionais e garantir reposição. Mais bem preparados, devem ficar com 70% das vagas.
Essa é a aposta do primeiro-sargento da Aeronáutica Joelson Antonio Rosa Darte, 37, controlador de vôo em Curitiba há 18 anos. Darte indica a discrepância de salários das duas carreiras como razão da debandada da carreira militar.
Enquanto o governo anuncia salário de R$ 3.148,40 no concurso para controlador civil, a perspectiva de ganho de soldados-candidatos às 60 vagas semestrais disponíveis na Aeronáutica é de R$ 1.600.
O governo banca um curso de formação caro e demorado, segundo o controlador. Preparar um profissional leva três meses. O militar passa antes por dois anos de freqüência em um curso de formação de oficial especialista ou em estágio de adaptação. Mas, sem um salário atrativo, ele abandona as Forças Armadas na primeira oportunidade de trocar de profissão.
Causa de insatisfação dos militares, a discrepância dos ganhos precisa ser discutida para que se chegue ao fim da crise do setor aéreo, defende Darte. Foi essa, segundo ele, a razão de correr o risco de irritar os oficiais superiores por quebrar a hierarquia e conceder esta entrevista à Folha.
""Se tem alguém que carregou este país nas costas nesses anos todos fomos nós [controladores de vôo]'", afirma, defendendo o fim dos ""remendos" para manter o setor funcionando. ""É preciso que se acabe com esse pacto de mediocridade."

Orgulho
Formado em direito e assessor informal da seção de Curitiba da associação nacional dos controladores de vôo, Darte é controlador no Cindacta-2 (Centro Integrado de Defesa e Controle de Tráfego Aéreo) -que vigia o céu do Sul do país- desde 1988, quando se formou aspirante. Diz que não pretende abandonar a carreira. ""Tenho orgulho do que faço."
Afirma que não discorda do salário oferecido a civis, mas que, ""se o governo chama civis a R$ 3.200, a primeira reação [entre militares na atividade] é a insatisfação de ter duas pessoas exercendo praticamente a mesma função e aquela com menos tempo de trabalho ganhando mais que a outra".
Diz também que não será difícil encontrar seções em que o chefe militar ganha o mesmo que o civil estreante. O seu caso é um exemplo do que afirma. Ganha R$ 3.500 brutos depois de quase 20 anos na carreira. Na média, o salário dos mais de 1.800 controladores militares (a maioria) é de R$ 2.500.
Ele nega que os controladores de vôo estejam organizados e diz desconhecer mobilização para uma paralisação dias 22 e 23 para provocar novo apagão aéreo às vésperas do Natal. Darte credita as sucessivas panes nos sistemas que se acumularam depois da queda do vôo 1907 da Gol à falta de investimento e atualização dos centros. ""O paciente está doente há muito e a doença está se agravando", afirma.
Segundo ele, o Cindacta no qual trabalha é o mais obsoleto do país em equipamentos. São os mesmos desde a inauguração, nos anos 1980. ""Se não houver modernização, o sistema vai parar. Isso é fato."
A Folha procurou o centro de comunicação social do Ministério da Aeronáutica na sexta, mas não conseguiu acesso aos comandantes do setor de controle de tráfego aéreo para falar sobre a entrevista.


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