|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Militar disputará vaga de civil, diz sargento
Controlador de vôo de Curitiba diz que profissionais da Aeronáutica já treinados vão tentar novo concurso para ganhar mais
Governo anuncia salário de
R$ 3.148 para quem passar
em seleção para trabalhar como civil, contra
R$ 1.600 pagos a militar principiante
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
Controladores de vôo militares já treinados devem conquistar a maior parte das 64 vagas para controlador civil, no
concurso emergencial aberto
pelo Ministério da Defesa para
formar um número seguro de
profissionais e garantir reposição. Mais bem preparados, devem ficar com 70% das vagas.
Essa é a aposta do primeiro-sargento da Aeronáutica Joelson Antonio Rosa Darte, 37,
controlador de vôo em Curitiba
há 18 anos. Darte indica a discrepância de salários das duas
carreiras como razão da debandada da carreira militar.
Enquanto o governo anuncia
salário de R$ 3.148,40 no concurso para controlador civil, a
perspectiva de ganho de soldados-candidatos às 60 vagas semestrais disponíveis na Aeronáutica é de R$ 1.600.
O governo banca um curso de
formação caro e demorado, segundo o controlador. Preparar
um profissional leva três meses. O militar passa antes por
dois anos de freqüência em um
curso de formação de oficial especialista ou em estágio de
adaptação. Mas, sem um salário
atrativo, ele abandona as Forças Armadas na primeira oportunidade de trocar de profissão.
Causa de insatisfação dos militares, a discrepância dos ganhos precisa ser discutida para
que se chegue ao fim da crise do
setor aéreo, defende Darte. Foi
essa, segundo ele, a razão de
correr o risco de irritar os oficiais superiores por quebrar a
hierarquia e conceder esta entrevista à Folha.
""Se tem alguém que carregou
este país nas costas nesses anos
todos fomos nós [controladores de vôo]'", afirma, defendendo o fim dos ""remendos" para
manter o setor funcionando.
""É preciso que se acabe com esse pacto de mediocridade."
Orgulho
Formado em direito e assessor informal da seção de Curitiba da associação nacional dos
controladores de vôo, Darte é
controlador no Cindacta-2
(Centro Integrado de Defesa e
Controle de Tráfego Aéreo)
-que vigia o céu do Sul do
país- desde 1988, quando se
formou aspirante. Diz que não
pretende abandonar a carreira.
""Tenho orgulho do que faço."
Afirma que não discorda do
salário oferecido a civis, mas
que, ""se o governo chama civis
a R$ 3.200, a primeira reação
[entre militares na atividade] é
a insatisfação de ter duas pessoas exercendo praticamente a
mesma função e aquela com
menos tempo de trabalho ganhando mais que a outra".
Diz também que não será difícil encontrar seções em que o
chefe militar ganha o mesmo
que o civil estreante. O seu caso
é um exemplo do que afirma.
Ganha R$ 3.500 brutos depois
de quase 20 anos na carreira.
Na média, o salário dos mais de
1.800 controladores militares
(a maioria) é de R$ 2.500.
Ele nega que os controladores de vôo estejam organizados
e diz desconhecer mobilização
para uma paralisação dias 22 e
23 para provocar novo apagão
aéreo às vésperas do Natal.
Darte credita as sucessivas panes nos sistemas que se acumularam depois da queda do vôo
1907 da Gol à falta de investimento e atualização dos centros. ""O paciente está doente há
muito e a doença está se agravando", afirma.
Segundo ele, o Cindacta no
qual trabalha é o mais obsoleto
do país em equipamentos. São
os mesmos desde a inauguração, nos anos 1980. ""Se não
houver modernização, o sistema vai parar. Isso é fato."
A Folha procurou o centro
de comunicação social do Ministério da Aeronáutica na sexta, mas não conseguiu acesso aos comandantes do setor de
controle de tráfego aéreo para
falar sobre a entrevista.
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: "Só fizemos nosso trabalho", dizem os pilotos, recebidos como heróis Índice
|