São Paulo, quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

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Idosa é presa acusada de chefiar tráfico no Rio

Mãe de traficante que está em prisão "herdou" bocas de fumo do filho na Cidade de Deus, segundo a polícia

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Mãe do chefe do tráfico da Cidade de Deus, preso há cinco anos, Denair Martins Gonçalves da Silva, 68, foi presa ontem pela Polícia Civil do Rio apontada como "herdeira" da quadrilha montada pelo filho. Segundo a polícia, ela orientava os gerentes de bocas de fumo sobre a venda de drogas e arrecadava com a venda ilegal.
As investigações, de acordo com os policiais, indicam ainda que ela cobrou comissões de moradores em novos conjuntos habitacionais construídos pela Caixa Econômica na Cidade de Deus. Tentou também controlar vagas de creches.
"A partir do momento em que os filhos foram presos, ela assumiu um status de domínio na Cidade de Deus, como se fosse uma propriedade", disse o delegado João Luiz Costa. Até ontem, ela não tinha advogado e não falou com a imprensa.
A Cidade de Deus conta, desde outubro de 2008, com uma Unidade de Polícia Pacificadora. O contingente de 273 PMs acabou com o controle armado da região, mas o tráfico de drogas persiste. As prisões de ontem, feitas no centro da favela, ocorreram sem trocas de tiros.
Na operação, nove pessoas (oito com mandados de prisão e um em flagrante) foram presas. Apontado como antigo chefe do tráfico na favela, Ederson José Gonçalves Leite, o Sam, estava próximo de obter livramento condicional, segundo o Ministério Público. Mas com o novo mandado de prisão, não conseguirá o benefício.
Com o filho preso, Denair assumiu o tráfico de drogas na favela, segundo a polícia. A denúncia do MP afirma que ela "era beneficiada com o produto espúrio do comércio ilegal, recebendo um percentual sobre todo o faturamento".
As investigações da polícia apontam ainda que Denair, presidente da associação de moradores, alterava a destinação de apartamentos do conjunto habitacional Rocinha 2 construído na Cidade de Deus.
Erguidos para abrigar moradores de palafitas da área mais pobre da favela, o conjunto acabou sendo ocupado, segundo a polícia, por pessoas que pagavam de R$ 1.000 a R$ 2.000 a Denair. As pessoas que viviam nas casas precárias eram transferidas por ela a outros barracos da região. A Caixa, responsável pela ocupação do imóvel, não comentou o caso.
Na casa de três andares com eletrodomésticos de luxo onde Denair vivia, a polícia apreendeu folhas de papel que indicam a intenção da quadrilha de abrir franquias de lojas para lavagem de dinheiro. Uma das folhas detalha o custo de abertura de uma franquia de conhecida loja de produtos naturais com unidades até no exterior. O investimento inicial seria de R$ 190 mil, com capital de giro de R$ 30 mil, segundo as anotações. Previa-se lucro de 4,5% a 8% da arrecadação bruta.
"As quadrilhas de narcotraficantes estão buscando outros ativos e investimentos. Buscam atividades legais para lavagem de dinheiro", disse o subchefe da Polícia Civil, Carlos Oliveira.
As prisões sem troca de tiros serviram para o secretário José Mariano Beltrame rebater, indiretamente, o relatório da ONG Human Right Watch, que indicava indícios de execução em mortes provocadas em supostos confrontos com a polícia. "Fica provado que a polícia não confronta. Ela confronta quando é confrontada."


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