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Idosa é presa acusada de chefiar tráfico no Rio
Mãe de traficante que está em prisão "herdou" bocas de fumo do filho na Cidade de Deus, segundo a polícia
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Mãe do chefe do tráfico da
Cidade de Deus, preso há cinco
anos, Denair Martins Gonçalves da Silva, 68, foi presa ontem
pela Polícia Civil do Rio apontada como "herdeira" da quadrilha montada pelo filho. Segundo a polícia, ela orientava os
gerentes de bocas de fumo sobre a venda de drogas e arrecadava com a venda ilegal.
As investigações, de acordo
com os policiais, indicam ainda
que ela cobrou comissões de
moradores em novos conjuntos habitacionais construídos
pela Caixa Econômica na Cidade de Deus. Tentou também
controlar vagas de creches.
"A partir do momento em
que os filhos foram presos, ela
assumiu um status de domínio
na Cidade de Deus, como se
fosse uma propriedade", disse o
delegado João Luiz Costa. Até
ontem, ela não tinha advogado
e não falou com a imprensa.
A Cidade de Deus conta, desde outubro de 2008, com uma
Unidade de Polícia Pacificadora. O contingente de 273 PMs
acabou com o controle armado
da região, mas o tráfico de drogas persiste. As prisões de ontem, feitas no centro da favela,
ocorreram sem trocas de tiros.
Na operação, nove pessoas
(oito com mandados de prisão e
um em flagrante) foram presas.
Apontado como antigo chefe do
tráfico na favela, Ederson José
Gonçalves Leite, o Sam, estava
próximo de obter livramento
condicional, segundo o Ministério Público. Mas com o novo
mandado de prisão, não conseguirá o benefício.
Com o filho preso, Denair assumiu o tráfico de drogas na favela, segundo a polícia. A denúncia do MP afirma que ela
"era beneficiada com o produto
espúrio do comércio ilegal, recebendo um percentual sobre
todo o faturamento".
As investigações da polícia
apontam ainda que Denair,
presidente da associação de
moradores, alterava a destinação de apartamentos do conjunto habitacional Rocinha 2
construído na Cidade de Deus.
Erguidos para abrigar moradores de palafitas da área mais
pobre da favela, o conjunto acabou sendo ocupado, segundo a
polícia, por pessoas que pagavam de R$ 1.000 a R$ 2.000 a
Denair. As pessoas que viviam
nas casas precárias eram transferidas por ela a outros barracos da região. A Caixa, responsável pela ocupação do imóvel,
não comentou o caso.
Na casa de três andares com
eletrodomésticos de luxo onde
Denair vivia, a polícia apreendeu folhas de papel que indicam a intenção da quadrilha de
abrir franquias de lojas para lavagem de dinheiro. Uma das folhas detalha o custo de abertura
de uma franquia de conhecida
loja de produtos naturais com
unidades até no exterior. O investimento inicial seria de R$
190 mil, com capital de giro de
R$ 30 mil, segundo as anotações. Previa-se lucro de 4,5% a
8% da arrecadação bruta.
"As quadrilhas de narcotraficantes estão buscando outros
ativos e investimentos. Buscam
atividades legais para lavagem
de dinheiro", disse o subchefe
da Polícia Civil, Carlos Oliveira.
As prisões sem troca de tiros
serviram para o secretário José
Mariano Beltrame rebater, indiretamente, o relatório da
ONG Human Right Watch, que
indicava indícios de execução
em mortes provocadas em supostos confrontos com a polícia. "Fica provado que a polícia
não confronta. Ela confronta
quando é confrontada."
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