São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Reclamações ajudam a mudar cenário

DA REPORTAGEM LOCAL

A psicóloga Tatiana Rolim, 26, gastava sete horas em transporte, seis trabalhando e quatro estudando. Morava em Franco da Rocha (norte da Grande São Paulo), trabalhava em Santo Amaro (zona sul) e estudava em Guarulhos, leste da Grande São Paulo. Tomava trem, ônibus, metrô, mais de uma vez por dia.
"Pedia para as pessoas e elas me carregavam com a cadeira e tudo pela porta traseira do ônibus", conta. "Nos ônibus em que há um ferro no meio da porta, impedindo a cadeira, alguém tinha de me carregar no colo."
Era assim também nas escadas das estações e até na faculdade. "De tanto escrever cartas e exigir providências, foram construindo rampas e retirando algumas barreiras nos ônibus", conta.
Tatiana Rolim ficou cadeirante depois de ter sido atropelada por um caminhão seis anos atrás. Hoje, é uma das psicólogas da AACD de Osasco e mudou-se para uma rua ao lado. É autora do livro "Meu Andar Sobre Rodas" (Editora Áurea).
Cristina Alves de Oliveira, 19, ficou paraplégica após ser atingida por uma bala perdida, três anos atrás. Mora em Pedreira e trabalha em Indianópolis, Planalto Paulista, ambos na zona sul. Toma dois ônibus para ir, dois para voltar. Seu projeto agora é fazer graduação em administração de empresas ou turismo.

Ruas esburacadas
"Nos pontos de ônibus eu peço ajuda e as pessoas me carregam nos braços. Alguns motoristas fazem de conta que não me vêem e passam reto, mas quem me conhece, desce para ajudar."
Para ir de sua casa ao ponto de ônibus, ela precisa de ajuda, porque não há guia rebaixada e o caminho é esburacado. "Já escrevi pedindo providências para a prefeitura, mas não tive resposta", afirmou ela.
São pessoas como Tatiana, Cristina e Andrea que estão mudando, lentamente, o cenário inóspito para os deficientes em São Paulo.
As duas primeiras, que dependem de transporte coletivo, nem acreditam que um dia todos os ônibus serão adaptados com um elevador. "Bastava um ônibus, de 90 em 90 minutos, mas com horário estabelecido", diz Tatiana. "Hoje, esperar ônibus adaptado é como esperar, numa floresta, que passe um elefante branco", diz Tatiana Rolim.
As barreiras e o transporte são obstáculos para todos os portadores de necessidades especiais. Regina Fátima de Oliveira, 50, é deficiente visual e consultora de braile da Fundação Dorina Nowil, a maior instituição voltada para o cego e para a produção de livros especiais do país. Ela mora no Tucuruvi, zona norte, e mescla ônibus e metrô em suas viagens até a Vila Clementino (zona sul).
"O trecho mais difícil é a quadra próxima ao trabalho, onde a calçada é tomada por camelôs, banca de jornais, orelhões. A bengala não consegue ajudar. A gente bate a cabeça."
Outro drama, diz ela, é atravessar a rua. "Ficamos atento ao ruído dos carros e sabemos quando o sinal abriu para os pedestres. Mas é sempre uma travessia arriscada. Na maioria das esquinas, temos que pedir ajuda", afirma a consultora. (AB)


Texto Anterior: Legislação é considerada avançada
Próximo Texto: Há 50 anos: René Coty é novo presidente francês
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.