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Reclamações ajudam a mudar cenário
DA REPORTAGEM LOCAL
A psicóloga Tatiana Rolim, 26,
gastava sete horas em transporte,
seis trabalhando e quatro estudando. Morava em Franco da Rocha (norte da Grande São Paulo),
trabalhava em Santo Amaro (zona sul) e estudava em Guarulhos,
leste da Grande São Paulo. Tomava trem, ônibus, metrô, mais de
uma vez por dia.
"Pedia para as pessoas e elas me
carregavam com a cadeira e tudo
pela porta traseira do ônibus",
conta. "Nos ônibus em que há um
ferro no meio da porta, impedindo a cadeira, alguém tinha de me
carregar no colo."
Era assim também nas escadas
das estações e até na faculdade.
"De tanto escrever cartas e exigir
providências, foram construindo
rampas e retirando algumas barreiras nos ônibus", conta.
Tatiana Rolim ficou cadeirante
depois de ter sido atropelada por
um caminhão seis anos atrás. Hoje, é uma das psicólogas da AACD
de Osasco e mudou-se para uma
rua ao lado. É autora do livro
"Meu Andar Sobre Rodas" (Editora Áurea).
Cristina Alves de Oliveira, 19, ficou paraplégica após ser atingida
por uma bala perdida, três anos
atrás. Mora em Pedreira e trabalha em Indianópolis, Planalto
Paulista, ambos na zona sul. Toma dois ônibus para ir, dois para
voltar. Seu projeto agora é fazer
graduação em administração de
empresas ou turismo.
Ruas esburacadas
"Nos pontos de ônibus eu peço
ajuda e as pessoas me carregam
nos braços. Alguns motoristas fazem de conta que não me vêem e
passam reto, mas quem me conhece, desce para ajudar."
Para ir de sua casa ao ponto de
ônibus, ela precisa de ajuda, porque não há guia rebaixada e o caminho é esburacado. "Já escrevi
pedindo providências para a prefeitura, mas não tive resposta",
afirmou ela.
São pessoas como Tatiana, Cristina e Andrea que estão mudando, lentamente, o cenário inóspito
para os deficientes em São Paulo.
As duas primeiras, que dependem de transporte coletivo, nem
acreditam que um dia todos os
ônibus serão adaptados com um
elevador. "Bastava um ônibus, de
90 em 90 minutos, mas com horário estabelecido", diz Tatiana.
"Hoje, esperar ônibus adaptado é
como esperar, numa floresta, que
passe um elefante branco", diz
Tatiana Rolim.
As barreiras e o transporte são
obstáculos para todos os portadores de necessidades especiais. Regina Fátima de Oliveira, 50, é deficiente visual e consultora de braile
da Fundação Dorina Nowil, a
maior instituição voltada para o
cego e para a produção de livros
especiais do país. Ela mora no Tucuruvi, zona norte, e mescla ônibus e metrô em suas viagens até a
Vila Clementino (zona sul).
"O trecho mais difícil é a quadra
próxima ao trabalho, onde a calçada é tomada por camelôs, banca de jornais, orelhões. A bengala
não consegue ajudar. A gente bate
a cabeça."
Outro drama, diz ela, é atravessar a rua. "Ficamos atento ao ruído dos carros e sabemos quando
o sinal abriu para os pedestres.
Mas é sempre uma travessia arriscada. Na maioria das esquinas, temos que pedir ajuda", afirma a
consultora.
(AB)
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