São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 2005

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Denúncia de morte vira encontro de corpo

DA REPORTAGEM LOCAL

A denúncia anônima já indicava o tipo de crime. Um homem havia sido assassinado e enterrado durante a madrugada, disse uma voz feminina, que ainda informou à polícia o local onde o corpo poderia ser encontrado.
Com enxadas, policiais localizaram o corpo do ajudante-geral Luiz Carlos Norato da Silva, 20. Ele estava enterrado em uma cova rasa em um terreno baldio atrás de uma escola, entre uma árvore uma grande pedra, como a denunciante havia descrito.
O corpo "apresentava um hematoma na cabeça", segundo relato dos policiais que foram ao local escrito no boletim de ocorrência. Mesmo assim, a natureza registrada foi encontro de cadáver. Esse é um dos 14 casos apontados ontem pela Folha.
S., 45, citado no boletim como testemunha, disse que estava nos fundos de casa quando viu passarem os policiais. Eles perguntaram se S. tinha visto algo estranho durante a madrugada porque haviam recebido uma denúncia de que um homem tinha sido morto e enterrado naquele local.
O corpo foi encontrado por volta das 15h, no dia 24 de maio de 2004, em Mauá (Grande São Paulo). S. disse à reportagem que o local onde o corpo foi encontrado é conhecido por ser usado por traficantes para assassinar desafetos.

Tiros na nuca
Segundo laudo Instituto Médico Legal, a vítima recebeu dois tiros na nuca. "Ele foi agredido, e muito", afirma a dona-de-casa Maria Matilde Florêncio Norato, 57, mãe da vítima.
A família só soube da morte dias depois. No IML, parentes dizem que perceberam muitos hematomas pelo corpo. "Desde o início falaram que ele tinha sido executado. Estava visível", afirmou o vigilante José Aparecido Florêncio Norato, 35, irmão da vítima.
Em relação a esse caso, a Secretaria da Segurança Pública negou irregularidades. "No momento do registro, o fato ocorrido foi um encontro de cadáver, tipificação considerada para efeitos de estatística, porém, a investigação teve continuidade e descobriu-se, com base em laudos técnicos, que havia um ferimento na cabeça, definido então a tipificação para homicídio", afirma a nota.

Litoral
Em São Sebastião (litoral norte), em outro dos 14 casos citados, dois homens encapuzados entraram em uma casa e mataram com vários tiros o ajudante Cledilson de Castro Breves, conhecido como Dilsinho, 25, na madrugada do dia 9 de novembro de 2004. O caso foi registrado de forma inusitada com duas naturezas: morte a esclarecer/homicídio. O registro "homicídio" foi escrito à máquina depois da elaboração do boletim.
Dilsinho foi morto na casa de parentes, que pediram para não serem identificados. Por volta da 1h, segundo informações do boletim, dois homens bateram na porta da casa, entraram e foram até o quarto onde o rapaz dormia.
"Entraram na casa e o mataram. O Dilsinho ainda tentou se esconder embaixo da cama. O meu filho, de dois anos, viu tudo", contou Cláudio (nome fictício), parente da vítima.
Ele disse que foi até o plantão da Delegacia Seccional de São Sebastião registrar o caso, mas não ficou com uma cópia do boletim. Ao saber que o caso havia sido registrado como morte a esclarecer, ficou surpreso. "Não sei por que fizeram isso. Só sei que mataram o Dilsinho na minha casa", afirmou Cláudio.
A Secretaria da Segurança Pública informou que o caso foi registrado como homicídio "conforme consta no boletim de ocorrência escrito à máquina. E contabilizado na estatística como crime de homicídio pela Seccional de São Sebastião". Não explicou, porém, por que duas naturezas do crime foram registradas.


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