São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

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Nova chacina ocorre após morte de coronel

7 pessoas foram assassinadas na zona norte de SP; polícia suspeita de ligação entre os crimes, que ocorreram com intervalo de 16 h

Comandante da Polícia Militar na zona norte da capital investigava ação de grupo de extermínio que seria formado por PMs

GILMAR PENTEADO
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Dezesseis horas após o assassinato do comandante da Polícia Militar na zona norte de São Paulo, coronel José Hermínio Rodrigues, 48, que investigava o suposto envolvimento de seus subordinados em chacinas e na atuação de grupos de extermínio, a mesma região voltou a registrar um novo caso de homicídios múltiplos.
Às 2h40 de ontem, sete pessoas -seis homens e uma mulher- foram mortas com dezenas de tiros e outras duas foram feridas na primeira chacina registrada no Estado em 2008. O crime ocorreu no bar Bad Boys, no Jardim Cabuçu (zona norte), região cujo policiamento era comandado pelo coronel.
A Polícia Civil investiga a ligação entre os dois episódios. São duas as principais hipóteses: ou o grupo responsável pela morte do coronel quis demonstrar força cometendo a chacina ou cometeu outro crime para desviar a atenção sobre a morte do oficial.
Quando assumiu o cargo, em janeiro de 2007, o coronel Hermínio começou a participar das investigações sobre o suposto envolvimento de PMs nessas mortes. Ele foi morto em uma emboscada às 10h50 de anteontem, quando passeava de bicicleta. Foi atingido por seis tiros disparados por um motoqueiro. Segundo uma testemunha, o assassino usava coturnos, calçados usados por PMs.
Ontem, no Jardim Cabuçu, testemunhas disseram que dois homens chegaram em uma ou duas motocicletas e começaram a atirar contra as pessoas.
Os disparos duraram pelo menos um minuto, segundo disse um morador à Folha. No total, as sete vítimas que morreram foram atingidas por 35 tiros -um dos mortos chegou a ser atingido por oito disparos.
Foram achadas no local 20 cápsulas de pistola 380 e 16 de pistola 9 mm (uso restrito das Forças Armadas e da polícia).
Três homens foram encontrados mortos na calçada -Marcelo Luiz de Almeida, que completou 38 anos ontem, José Carlos Luziano, 25, e Alexandre Carlos de Souza, 27, que era mudo.
As outras vítimas que morreram -Luciano Barbosa Oliveira, 26, Sueli Francisco dos Santos, 29, Ricardo Basílio, 27, e Luiz Francisco da Silva Filho, 38,- foram encontradas no interior do bar. Outros dois homens -de 31 e 35 anos- foram hospitalizados.
O estado de saúde dos dois era considerado estável. O dono do bar se escondeu embaixo do balcão e escapou ileso. Os três foram ouvidos pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e afirmaram não poder identificar os assassinos. Também disseram ignorar o motivo do crime.
Das nove pessoas atingidas pelos tiros, duas tinham passagem pela polícia, mas apenas por crimes leves. José Carlos Luziano tinha antecedentes por uma tentativa de furto, em 2002. Um dos sobreviventes tem passagem pelo Juizado Especial Criminal (esfera da Justiça que só trata de crimes de menor potencial).
Segundo o delegado Marcos Carneiro Lima, do DHPP, os projéteis encontrados no corpo do coronel Hermínio serão comparados com os localizados nas vítimas da chacina de ontem. Uma pistola 380 foi utilizada nos dois episódios.
Lima disse que a relação dos dois casos ainda está sob investigação. "Isso [a chacina] aí pode ser desde um oportunista querendo aproveitar todo esse clamor até a possibilidade de quem matou o coronel ter se juntado com mais alguém para fazer esse crime para desviar o foco da investigação. Tudo isso é plausível", disse o delegado. "Também pode ser alguém que quer mostrar que, com a morte do coronel, pode-se matar na região", conclui.


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