São Paulo, sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estudo negativo sobre remédios não é publicado, mostra pesquisa

Situação afeta conhecimento do médico, diz pesquisador

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

No desenvolvimento de remédios, os testes com resultados desfavoráveis quase nunca são publicados em revistas médico-científicas, o que impede que médicos e pacientes conheçam todas as características dos novos medicamentos. A conclusão está num estudo que foi publicado na última edição da revista médica "The New England Journal of Medicine".
Entre 1987 e 2004, segundo o estudo, foram publicados 51 testes em revistas científicas sobre 12 novos medicamentos contra a depressão lançados nos Estados Unidos. Desses testes, 48 -quase todos- foram favoráveis às drogas.
No período, o FDA (agência que regula remédios nos EUA) analisou 74 testes antes de liberar a venda daqueles medicamentos. Do total, 22 -cerca de um terço- apontavam o lado desfavorável das drogas e nunca foram publicados.
"Essa seletividade pode levar a conclusões irreais sobre a efetividade dos remédios", disse à Folha, por telefone, o médico Erick H. Turner, do Portland VA Medical Center, líder da equipe que fez a pesquisa.
Os médicos normalmente se mantêm atualizados por revistas científicas. Conhecendo só o lado positivo de novas drogas, podem avaliar erroneamente que uma é melhor que outra, o que teria reflexos na saúde do paciente. "A literatura médica é incompleta", resume Turner.
Segundo especialistas, não se pode apontar um só responsável. Eles citam os laboratórios (que patrocinam pesquisas e não têm interesse em divulgar aspectos negativos das drogas), as revistas (que não ganham publicidade quando publicam estudos com resultados negativos) e os próprios pesquisadores (que podem fazer trabalhos inconsistentes, que de fato não merecem publicação).
Para evitar esse problema, o médico Álvaro Atallah, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e diretor do Centro Cochrane do Brasil, sugeriu recentemente ao governo que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) -equivalente ao FDA-, antes de liberar um remédio, repita os testes clínicos dos laboratórios. O dinheiro para esses testes viria da indústria farmacêutica. "As evidências precisam ser confiáveis e obtidas de maneira independente."
O vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Luiz Alberto Hetem, frisa que esses resultados não querem dizer que falta segurança aos antidepressivos. "Eles são realmente eficazes, mas talvez não tão eficazes quanto demonstram os estudos publicados."
Grandes laboratórios farmacêuticos citados pelas agências internacionais de notícias disseram ontem que tornam públicos todos os seus testes.


Texto Anterior: Adaptações: Justiça nega liminar para fechar o Masp
Próximo Texto: Jabaquara: Incêndio em favela da zona sul deixa 40 famílias desabrigadas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.