|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Estudo negativo sobre remédios não é publicado, mostra pesquisa
Situação afeta conhecimento do médico, diz pesquisador
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
No desenvolvimento de remédios, os testes com resultados desfavoráveis quase nunca
são publicados em revistas médico-científicas, o que impede
que médicos e pacientes conheçam todas as características dos novos medicamentos. A
conclusão está num estudo que
foi publicado na última edição
da revista médica "The New
England Journal of Medicine".
Entre 1987 e 2004, segundo o
estudo, foram publicados 51
testes em revistas científicas
sobre 12 novos medicamentos
contra a depressão lançados
nos Estados Unidos. Desses
testes, 48 -quase todos- foram favoráveis às drogas.
No período, o FDA (agência
que regula remédios nos EUA)
analisou 74 testes antes de liberar a venda daqueles medicamentos. Do total, 22 -cerca de
um terço- apontavam o lado
desfavorável das drogas e nunca foram publicados.
"Essa seletividade pode levar
a conclusões irreais sobre a efetividade dos remédios", disse à
Folha, por telefone, o médico
Erick H. Turner, do Portland
VA Medical Center, líder da
equipe que fez a pesquisa.
Os médicos normalmente se
mantêm atualizados por revistas científicas. Conhecendo só
o lado positivo de novas drogas,
podem avaliar erroneamente
que uma é melhor que outra, o
que teria reflexos na saúde do
paciente. "A literatura médica é
incompleta", resume Turner.
Segundo especialistas, não se
pode apontar um só responsável. Eles citam os laboratórios
(que patrocinam pesquisas e
não têm interesse em divulgar
aspectos negativos das drogas),
as revistas (que não ganham
publicidade quando publicam
estudos com resultados negativos) e os próprios pesquisadores (que podem fazer trabalhos
inconsistentes, que de fato não
merecem publicação).
Para evitar esse problema, o
médico Álvaro Atallah, professor da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo) e diretor
do Centro Cochrane do Brasil,
sugeriu recentemente ao governo que a Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) -equivalente ao FDA-,
antes de liberar um remédio,
repita os testes clínicos dos laboratórios. O dinheiro para esses testes viria da indústria farmacêutica. "As evidências precisam ser confiáveis e obtidas
de maneira independente."
O vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria,
Luiz Alberto Hetem, frisa que
esses resultados não querem
dizer que falta segurança aos
antidepressivos. "Eles são realmente eficazes, mas talvez não
tão eficazes quanto demonstram os estudos publicados."
Grandes laboratórios farmacêuticos citados pelas agências
internacionais de notícias disseram ontem que tornam públicos todos os seus testes.
Texto Anterior: Adaptações: Justiça nega liminar para fechar o Masp Próximo Texto: Jabaquara: Incêndio em favela da zona sul deixa 40 famílias desabrigadas Índice
|