São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2009

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Os 10 mandamentos do paulistano no verão

Habitantes da capital seguem conduta comum no litoral: muita tralha, amigos na areia e nenhuma vontade de voltar

ADRIANA KÜCHLER
DA REVISTA DA FOLHA

Diante do medo dos efeitos da crise financeira e da chuva que gerou tragédia em Santa Catarina, muitos paulistas que viajariam nas férias para longe decidiram ficar por aqui e explorar seu próprio litoral. Isso se traduz em mais muvuca na praia, longas filas no trânsito e preços mais altos no comércio litorâneo.
A Folha desceu a serra por uns dias e visitou seis das praias mais procuradas. Da badalada Maresias, de festas e gente bonita, a Camburi, referência para os surfistas e para os fãs de restaurantes charmosos, passando por Boiçucanga, com sua infraestrutura. E das democráticas Enseada e Pitangueiras, no Guarujá, à urbanizada e luxuosa Riviera de São Lourenço, em Bertioga.
Após o passeio, apresentamos aqui as divertidas leis que regem os sortudos que, no verão, trocam o asfalto pela areia.

1
Levar o máximo de tranqueiras possíveis
Entre os "artigos básicos" levados por quem se instala à beira-mar estão biquíni, canga e prancha, é claro, mas também DVD, computador e outros cacarecos. Um grupo de sete jovens de São Bernardo do Campo incluiu pick-ups de DJ profissional e o jogo "Guitar Hero". "Assim, a gente não sente falta de nada", diz Felipe Prata, 32, que alugou com o grupo uma casa em Boiçucanga, no litoral norte.

2
Reclamar dos turistas acidentais
Na casa da galera de Boiçucanga, outro item indispensável é... a piscina. O recurso entrou para o "kit praia" como opção aos dias de muvuca.
"Fiz questão da piscina para não passar nervoso na praia", diz Sergio Daneluz, 27, em tarde de passeio do grupo por Maresias. Na vizinha Camburi, o mar não está para peixe-turista. "Turista só de verão a gente já olha torto. Só destrói", diz Francisco Doria, 30.

3
Fazer feira em SP e sentir falta do comércio de lá
Para evitar filas quilométricas e os preços salgados dos supermercados do litoral, a família do empresário Carlos Alberto Coelho, 47, trouxe de SP as compras do mês em uma das quatro viagens necessárias para a mudança para a filial dos Coelho na Riviera de São Lourenço. A bagagem ficou completa com dois cachorros, um passarinho, uma cacatua e o filho do casal.

4
Exercitar-se para compensar a comilança
Praia e sol combinam com cerveja, petiscos, sorvete e... quilinhos a mais? Para evitar a fórmula de insucesso, os praianos se veem obrigados a manter ao menos uma atividade da rotina: os exercícios. Mas é difícil combinar força de vontade com o calor. O casal Maria do Carmo, 45, e Edmilson Sinigaglia, 45, tenta impor as caminhadas sobre a dupla caipirinha-tapioca.

5
Fazer amizade com vizinhos como nunca fez em SP
"Moramos há nove anos no mesmo edifício em São Paulo e é só "bom dia" e "boa noite". Aqui, a gente senta, conversa... Acho que é o contexto, que deixa todo mundo distraído, relaxado." É assim que Edmilson Sinigaglia, 45, hospedado em Pitangueiras, no Guarujá, tenta explicar esse fenômeno tão estranho quanto comum que são as amizades com os vizinhos de praia.

6
Voltar para São Paulo para resolver uns probleminhas
Apesar do apego ao mar, Francisco e Giuliana Doria, 29 se veem forçados a voltar à cidade grande para resolver algumas pendências. Ele tenta liquidar o máximo de problemas por telefone e pela internet, mas às vezes é inevitável. Giuliana, pega a estrada para levar Luan, de cinco meses, ao pediatra. Já Gabriel, 5, tem como sonho ficar em Camburi. Permanentemente.

7
Não se desconectar e não abrir mão da mordomia
Enquanto Rose Coelho, 46, aproveita para colocar as leituras em dia e praticar seus dotes de aprendiz de fotógrafa, com o filho Alexandre, 15, na Riviera de São Lourenço, ela e o marido Carlos Alberto tem que tomar medidas drásticas para desligar o menino da tomada: confiscam o cabo do videogame para que ele também se conecte um pouco com a praia e com a família.

8
Ter criatividade para os momentos de chuva
"Aonde um vai, o outro vai atrás" é o lema de Carlos Puerta, 43, e dos outros 12 membros de sua família enquanto ocupam todo um andar de uma pousada em Maresias. O grupo que viaja para o litoral todo verão encontra sempre uma dificuldade: administrar a escolha da praia-sede em cada temporada. "Com Maresias, consegui chegar a um consenso", conta.

9
Sofrer de tensão pré-São Paulo
O ano mal começou, mas não foram poucos os momentos de chuva estraga-prazeres dos veranistas. Entre as opções mais comuns encontradas pelos paulistanos para fugir do temporal (sem sair do litoral) estão passeios em shoppings, jogos de baralho e filmes na TV. Mas algumas famílias encontraram formas particulares de driblar o pé-d'água, como a de Carlos Puerta. "Se chove, a gente corre atrás do sol em outras praias."

10
Andar em bandos
Se há uma única lei comum que rege todos os paulistanos que se mudam para a praia no verão, é o desespero de voltar para o trânsito, a poluição e as obrigações. Maria do Carmo e Edmilson Sinigaglia, já começam a contabilizar os prejuízos. "Para voltar, precisamos planejar um horário ideal", diz ele. Sem vontade de regressar, o casal usa os últimos momentos no litoral para refletir sobre alternativas "para não entrar naquela adrenalina de novo". Pelo menos, não tão rápido.


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