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Os 10 mandamentos do paulistano no verão
Habitantes da capital seguem conduta comum no litoral: muita tralha, amigos na areia e nenhuma vontade de voltar
ADRIANA KÜCHLER
DA REVISTA DA FOLHA
Diante do medo dos efeitos da crise financeira e da chuva que
gerou tragédia em Santa Catarina, muitos paulistas que viajariam
nas férias para longe decidiram ficar por aqui e explorar seu próprio litoral. Isso se traduz em mais muvuca na praia, longas filas no
trânsito e preços mais altos no comércio litorâneo.
A Folha desceu a serra por uns dias e visitou seis das praias
mais procuradas. Da badalada Maresias, de festas e gente bonita, a
Camburi, referência para os surfistas e para os fãs de restaurantes
charmosos, passando por Boiçucanga, com sua infraestrutura. E
das democráticas Enseada e Pitangueiras, no Guarujá, à urbanizada e luxuosa Riviera de São Lourenço, em Bertioga.
Após o passeio, apresentamos aqui as divertidas leis que regem
os sortudos que, no verão, trocam o asfalto pela areia.
1
Levar o máximo de tranqueiras possíveis
Entre os "artigos básicos"
levados por quem se instala à
beira-mar estão biquíni, canga e prancha, é claro, mas
também DVD, computador e
outros cacarecos. Um grupo
de sete jovens de São Bernardo do Campo incluiu pick-ups
de DJ profissional e o jogo
"Guitar Hero". "Assim, a gente não sente falta de nada", diz
Felipe Prata, 32, que alugou
com o grupo uma casa em Boiçucanga, no litoral norte.
2
Reclamar dos turistas acidentais
Na casa da galera de Boiçucanga, outro item indispensável é... a piscina. O recurso entrou para o "kit praia" como
opção aos dias de muvuca.
"Fiz questão da piscina para
não passar nervoso na praia",
diz Sergio Daneluz, 27, em
tarde de passeio do grupo por
Maresias. Na vizinha Camburi, o mar não está para peixe-turista. "Turista só de verão a
gente já olha torto. Só destrói", diz Francisco Doria, 30.
3
Fazer feira em SP e sentir falta do comércio de lá
Para evitar filas quilométricas e os preços salgados dos
supermercados do litoral, a
família do empresário Carlos
Alberto Coelho, 47, trouxe de
SP as compras do mês em
uma das quatro viagens necessárias para a mudança para
a filial dos Coelho na Riviera
de São Lourenço. A bagagem
ficou completa com dois cachorros, um passarinho, uma
cacatua e o filho do casal.
4
Exercitar-se para compensar a comilança
Praia e sol combinam com
cerveja, petiscos, sorvete e...
quilinhos a mais? Para evitar a
fórmula de insucesso, os
praianos se veem obrigados a
manter ao menos uma atividade da rotina: os exercícios.
Mas é difícil combinar força
de vontade com o calor. O casal Maria do Carmo, 45, e Edmilson Sinigaglia, 45, tenta
impor as caminhadas sobre a
dupla caipirinha-tapioca.
5
Fazer amizade com vizinhos como nunca fez em SP
"Moramos há nove anos no
mesmo edifício em São Paulo
e é só "bom dia" e "boa noite".
Aqui, a gente senta, conversa... Acho que é o contexto,
que deixa todo mundo distraído, relaxado." É assim que Edmilson Sinigaglia, 45, hospedado em Pitangueiras, no
Guarujá, tenta explicar esse
fenômeno tão estranho quanto comum que são as amizades com os vizinhos de praia.
6
Voltar para São Paulo para resolver uns probleminhas
Apesar do apego ao mar,
Francisco e Giuliana Doria, 29
se veem forçados a voltar à cidade grande para resolver algumas pendências. Ele tenta
liquidar o máximo de problemas por telefone e pela internet, mas às vezes é inevitável.
Giuliana, pega a estrada para
levar Luan, de cinco meses, ao
pediatra. Já Gabriel, 5, tem
como sonho ficar em Camburi. Permanentemente.
7
Não se desconectar e não abrir mão da mordomia
Enquanto Rose Coelho, 46,
aproveita para colocar as leituras em dia e praticar seus
dotes de aprendiz de fotógrafa, com o filho Alexandre, 15,
na Riviera de São Lourenço,
ela e o marido Carlos Alberto
tem que tomar medidas drásticas para desligar o menino
da tomada: confiscam o cabo
do videogame para que ele
também se conecte um pouco
com a praia e com a família.
8
Ter criatividade para os momentos de chuva
"Aonde um vai, o outro vai
atrás" é o lema de Carlos
Puerta, 43, e dos outros 12
membros de sua família enquanto ocupam todo um andar de uma pousada em Maresias. O grupo que viaja para o
litoral todo verão encontra
sempre uma dificuldade: administrar a escolha da praia-sede em cada temporada.
"Com Maresias, consegui chegar a um consenso", conta.
9
Sofrer de tensão pré-São Paulo
O ano mal começou, mas não
foram poucos os momentos de
chuva estraga-prazeres dos veranistas. Entre as opções mais
comuns encontradas pelos
paulistanos para fugir do temporal (sem sair do litoral) estão
passeios em shoppings, jogos
de baralho e filmes na TV. Mas
algumas famílias encontraram
formas particulares de driblar o
pé-d'água, como a de Carlos
Puerta. "Se chove, a gente corre
atrás do sol em outras praias."
10
Andar em bandos
Se há uma única lei comum
que rege todos os paulistanos
que se mudam para a praia no
verão, é o desespero de voltar
para o trânsito, a poluição e as
obrigações. Maria do Carmo e
Edmilson Sinigaglia, já começam a contabilizar os prejuízos.
"Para voltar, precisamos planejar um horário ideal", diz ele.
Sem vontade de regressar, o casal usa os últimos momentos
no litoral para refletir sobre alternativas "para não entrar naquela adrenalina de novo". Pelo
menos, não tão rápido.
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