São Paulo, terça, 18 de fevereiro de 1997.

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Garotos dizem que escolhiam idosos ou mulheres para evitar possibilidade de perseguição
`Roubava para pagar a dependência'

Antonio Gaudério/ Folha Imagem
Menores carentes do SOS Criança na sala de serigrafia da instituição, no bairro do Brás (centro), onde fazem cursos profissionalizantes


da Reportagem Local

Douglas Barbosa da Silva, 18, diz que roubava para poder se ``destruir nas drogas''.
``Eu roubava para conseguir dinheiro para poder comprar maconha, cocaína e crack'', disse Silva, que passou duas vezes pela Febem (Fundação do Bem-Estar do Menor).
Segundo ele, quando não gastavam em droga, compravam roupas ou cortavam o cabelo. ``Era o único momento em que nos sentíamos mais limpos.''
C.A.S.
``Roubava para pagar a minha dependência'', disse C.A.S., 15.
Ele afirmou que costumava assaltar no vale do Anhangabaú e na praça da Sé, no centro de São Paulo.
``Escolhia homens mais velhos ou mulheres porque não conseguem correr atrás da gente'', afirma
O garoto contou que foi pego pela polícia pela primeira vez depois de tentar assaltar um supermercado.
``Roubei porque tinha de comprar crack'', disse o garoto.
C.A.S. foi encaminhado três vezes para a Febem. ``A maioria das vezes foi por furto, para comprar droga'', diz.
Ele disse que perdeu cinco amigos que morreram de overdose. ``Procurávamos as ruas escuras e pouco movimentadas para pitar (fumar crack)'', afirmou o garoto.
Segundo ele, os garotos de rua pagam entre R$ 5,00 e R$ 10,00 a pedra de crack.
A.B.
``As minhas passagens pela Febem foram por roubo para comprar farinha (cocaína), maconha e crack'', contou A.B., 17.
``Resolvi abandonar as drogas depois que percebi que teria de decidir entre ter de matar ou morrer nas ruas, por causa da violência gerada pela dependência'', afirmou A.B.
Ele disse que fazia cerca de dez roubos por dia no centro de São Paulo com o objetivo de juntar dinheiro suficiente para comprar as pedras de crack.
Hoje os três garotos estão fazendo cursos profissionalizantes no SOS Criança.

Saúde pública
``O menor viciado em crack é uma questão de saúde pública e não apenas do Judiciário. Antes de pensar em soluções jurídicas, temos que pensar em soluções sociais para esse problema'', afirmou o coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Infância e Juventude, Paulo Afonso Garrido de Paula.
``As criança carentes vão buscar o vazio emocional que possuem nas drogas. É preciso proporcionar-lhes atividades pedagógicas, culturais e educacionais que supram essa carência'', disse o coordenador do SOS Criança, Paulo Vitor Sapienza. (AL)

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