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Trote faz diretor
suspender toda
a escola no ABC
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Era algo brutal. Alunas com
roupas rasgadas. Rapazes de cuecas. Todos sujos de lama, amarrados e pintados. Cenas dantescas
de um filme de terror." Foi assim
que o diretor da Faculdade de Medicina do ABC, Luiz Henrique Camargo Paschoal, descreveu o trote aplicado na última segunda-feira pelos veteranos do curso de
medicina nos calouros que chegavam para o primeiro dia de aula.
A prática do trote havia sido
proibida na faculdade que fica localizada em Santo André (Grande
São Paulo). A conseqüência do
flagrante que o próprio diretor
deu na transgressão dos veteranos foi a suspensão das aulas de
todos os 600 alunos dos seis anos
do curso de medicina.
"Como havia muitos alunos ali,
eu não pude apontar esse ou
aquele como responsável pelo
trote. Então, suspendi toda a faculdade", conta Paschoal.
"Quase desnudos"
"No ano passado, já havia punido nove alunos pela prática de
trote. Eles faziam barbaridades, ficavam quase desnudos. É um caso de psicopatologia grupal, como
acontece com as torcidas organizadas de futebol. Recebi e-mails
de pais cujos filhos foram praticamente torturados na recepção de
calouros. Não quero que a minha
faculdade apareça na mídia com a
notícia de calouros mortos", diz.
Na tentativa de conscientizar os
veteranos da faculdade, Paschoal
se reuniu ontem com representantes da atlética e do diretório
acadêmico do curso de medicina
e estabeleceu que a suspensão será revogada quando os alunos do
1º ao 6º ano levarem "de forma espontânea, dois quilos de alimentos não-perecíveis, a serem doados a entidades carentes, cujos
nomes e respectivos endereços
forneceremos, bem como vamos
agendar a entrega e a visita social
ao local". Os alunos também podem doar sangue e apresentar
comprovante da doação.
"Na sexta-feira, discutirei com o
conselho da faculdade essa problemática para tomar uma medida definitiva e exemplar sobre o
trote", afirma o diretor.
Os alunos
Caio Eduardo Valada Pane, 21,
presidente da atlética da faculdade, diz compreender a posição do
diretor. Ele acha que a resposta de
Paschoal ao trote foi drástica
"porque ele ficou chocado do presenciar a recepção de calouros".
"Talvez ele tenha sido o primeiro
diretor a ver isso acontecer."
Pane garante que "não houve
agressão física" durante o trote.
"Não obrigamos ninguém a fazer
nada. Sujamos e pintamos os calouros e amarramos os cadarços
de seus tênis. São brincadeiras
que integram os alunos novos
com os mais antigos", diz.
Segundo Pane, "talvez alguns
calouros estivessem um pouco
desnudos", como afirmou o diretor. "Mas o trote deste ano foi
bem mais leve e tranqüilo que o
dos anos anteriores", declarou.
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