São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

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Trote faz diretor suspender toda a escola no ABC

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Era algo brutal. Alunas com roupas rasgadas. Rapazes de cuecas. Todos sujos de lama, amarrados e pintados. Cenas dantescas de um filme de terror." Foi assim que o diretor da Faculdade de Medicina do ABC, Luiz Henrique Camargo Paschoal, descreveu o trote aplicado na última segunda-feira pelos veteranos do curso de medicina nos calouros que chegavam para o primeiro dia de aula.
A prática do trote havia sido proibida na faculdade que fica localizada em Santo André (Grande São Paulo). A conseqüência do flagrante que o próprio diretor deu na transgressão dos veteranos foi a suspensão das aulas de todos os 600 alunos dos seis anos do curso de medicina.
"Como havia muitos alunos ali, eu não pude apontar esse ou aquele como responsável pelo trote. Então, suspendi toda a faculdade", conta Paschoal.

"Quase desnudos"
"No ano passado, já havia punido nove alunos pela prática de trote. Eles faziam barbaridades, ficavam quase desnudos. É um caso de psicopatologia grupal, como acontece com as torcidas organizadas de futebol. Recebi e-mails de pais cujos filhos foram praticamente torturados na recepção de calouros. Não quero que a minha faculdade apareça na mídia com a notícia de calouros mortos", diz.
Na tentativa de conscientizar os veteranos da faculdade, Paschoal se reuniu ontem com representantes da atlética e do diretório acadêmico do curso de medicina e estabeleceu que a suspensão será revogada quando os alunos do 1º ao 6º ano levarem "de forma espontânea, dois quilos de alimentos não-perecíveis, a serem doados a entidades carentes, cujos nomes e respectivos endereços forneceremos, bem como vamos agendar a entrega e a visita social ao local". Os alunos também podem doar sangue e apresentar comprovante da doação.
"Na sexta-feira, discutirei com o conselho da faculdade essa problemática para tomar uma medida definitiva e exemplar sobre o trote", afirma o diretor.

Os alunos
Caio Eduardo Valada Pane, 21, presidente da atlética da faculdade, diz compreender a posição do diretor. Ele acha que a resposta de Paschoal ao trote foi drástica "porque ele ficou chocado do presenciar a recepção de calouros". "Talvez ele tenha sido o primeiro diretor a ver isso acontecer."
Pane garante que "não houve agressão física" durante o trote. "Não obrigamos ninguém a fazer nada. Sujamos e pintamos os calouros e amarramos os cadarços de seus tênis. São brincadeiras que integram os alunos novos com os mais antigos", diz.
Segundo Pane, "talvez alguns calouros estivessem um pouco desnudos", como afirmou o diretor. "Mas o trote deste ano foi bem mais leve e tranqüilo que o dos anos anteriores", declarou.


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