São Paulo, quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

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MURILLO ANTUNES ALVES (1919-2010)

O jornalista das antigas que obrigou SP a usar cinto de segurança

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando Murillo Antunes Alves começou no jornalismo, o rádio era, para muitos, um bicho de sete cabeças.
Em 1948, por exemplo, um ano após entrar para a rádio Record, o rapaz saído de Itapetininga, no interior de SP, entrevistou Monteiro Lobato.
E o que registrou, ali, foi o estranhamento do escritor ao falar para um "canudo que ouve" -assim a engenhoca conhecida como microfone pareceu aos olhos do autor de "Reinações de Narizinho".
"Eu estou falando, e dizem eles que um aparelho está gravando e [que] depois vai repetir ao público minhas bobagens", afirmou, desconfiado, o escritor, que morreria dias depois da entrevista.
No rádio desde 1938, Murillo -que se formou em direito pela USP nos anos 1940 -era, até segunda-feira, um dos jornalistas mais antigos do país e o funcionário com mais tempo de casa na Record.
Da rádio, transferiu-se para a TV da empresa, no ano de sua inauguração, em 1953.
Nela, cobriu a vinda ao Brasil de Bill Halley e seus Cometas, o casamento do príncipe Charles, na Inglaterra, e o enterro de Tancredo Neves.
Ganhador de vários prêmios como radialista, entrevistou ao longo da carreira políticos como Getulio Vargas, Adhemar de Barros e Jânio Quadros -do qual foi, anos depois, assessor de gabinete na Presidência.
Apresentou também, até o fim dos anos 1990, o "Record em Notícia", apelidado de "jornal da tosse" devido a idade avançada de seus âncoras.
Na mesma década, foi vereador em SP pelo PMDB e conseguiu ver aprovado seu projeto que obrigava o uso do cinto de segurança na capital.
Chegou ainda a ser o primeiro chefe do cerimonial da Assembleia Legislativa de SP, nos anos 1950, e exerceu o mesmo cargo no governo do Estado, nos anos 1970, e na Câmara Municipal de SP.
Era um apaixonado pela Record, aonde ia todos os dias, nem que fosse só para almoçar, como conta a família.
Além de um enorme arquivo em casa, deixou na lembranças dos amigos os trocadilhos que adorava fazer.
Viúvo há cerca de dez anos, morreu na segunda, em SP, aos 90. Foi enterrado anteontem, em Alambari, na região de Itapetininga. Não resistiu após passar por uma cirurgia.
Deixa filho, netos e bisneto.

coluna.obituario@uol.com.br


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