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MURILLO ANTUNES ALVES (1919-2010)
O jornalista das antigas que obrigou SP a usar cinto de segurança
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando Murillo Antunes
Alves começou no jornalismo, o rádio era, para muitos,
um bicho de sete cabeças.
Em 1948, por exemplo, um
ano após entrar para a rádio
Record, o rapaz saído de Itapetininga, no interior de SP,
entrevistou Monteiro Lobato.
E o que registrou, ali, foi o
estranhamento do escritor ao
falar para um "canudo que
ouve" -assim a engenhoca
conhecida como microfone
pareceu aos olhos do autor de
"Reinações de Narizinho".
"Eu estou falando, e dizem
eles que um aparelho está
gravando e [que] depois vai
repetir ao público minhas bobagens", afirmou, desconfiado, o escritor, que morreria
dias depois da entrevista.
No rádio desde 1938, Murillo -que se formou em direito
pela USP nos anos 1940 -era,
até segunda-feira, um dos jornalistas mais antigos do país e
o funcionário com mais tempo de casa na Record.
Da rádio, transferiu-se para
a TV da empresa, no ano de
sua inauguração, em 1953.
Nela, cobriu a vinda ao Brasil
de Bill Halley e seus Cometas,
o casamento do príncipe
Charles, na Inglaterra, e o enterro de Tancredo Neves.
Ganhador de vários prêmios como radialista, entrevistou ao longo da carreira
políticos como Getulio Vargas, Adhemar de Barros e Jânio Quadros -do qual foi,
anos depois, assessor de gabinete na Presidência.
Apresentou também, até o
fim dos anos 1990, o "Record
em Notícia", apelidado de
"jornal da tosse" devido a idade avançada de seus âncoras.
Na mesma década, foi vereador em SP pelo PMDB e
conseguiu ver aprovado seu
projeto que obrigava o uso do
cinto de segurança na capital.
Chegou ainda a ser o primeiro chefe do cerimonial da
Assembleia Legislativa de SP,
nos anos 1950, e exerceu o
mesmo cargo no governo do
Estado, nos anos 1970, e na
Câmara Municipal de SP.
Era um apaixonado pela
Record, aonde ia todos os
dias, nem que fosse só para almoçar, como conta a família.
Além de um enorme arquivo
em casa, deixou na lembranças dos amigos os trocadilhos
que adorava fazer.
Viúvo há cerca de dez anos,
morreu na segunda, em SP,
aos 90. Foi enterrado anteontem, em Alambari, na região
de Itapetininga. Não resistiu
após passar por uma cirurgia.
Deixa filho, netos e bisneto.
coluna.obituario@uol.com.br
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