São Paulo, sábado, 18 de março de 2000


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CRISE NO RIO
Acusações feitas em público por Luiz Eduardo Soares foram consideradas como quebra de confiança
Garotinho demite pela TV assessor que denunciou "banda podre" da polícia

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
O governador do Rio, Anthony Garotinho, durante entrevista em que comentou a crise na área de Segurança Pública


FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

O governador Anthony Garotinho (PDT) demitiu ontem pela TV seu coordenador de Segurança e Cidadania, o antropólogo Luiz Eduardo Soares, idealizador dos principais projetos de segurança do governo e autor das últimas denúncias sobre a existência de uma "banda podre" infiltrada no comando da polícia.
Soares estava em São Paulo e só foi informado oficialmente da decisão mais de três horas depois. "Chegou ao limite. Ficou inviável a permanência dele. Tá demitido", disse Garotinho, pela TV.
É uma mudança radical nos rumos da política de segurança, embora Garotinho afirme que as idéias de Soares serão mantidas. "São as minhas idéias também."
A demissão foi uma vitória do secretário da Segurança Pública, Josias Quintal, desafeto do ex-coordenador e seu superior. Ele havia pedido a saída de Soares. Saiu vitorioso também o chefe da Polícia Civil, Rafik Louzada.
"O coronel Josias me procurou hoje pela manhã (ontem) e disse que não havia mais clima de trabalho entre ele e o Luiz Eduardo. Disse que a permanência dele seria um fator de desestabilização permanente na secretaria", afirmou Garotinho.
O secretário não aceitou o fato de seu subordinado ter levado denúncias contra policiais ao Ministério Público e não a ele. Alegou quebra de confiança e disse que se sentiu "traído". O governador também se irritou com a atitude de Soares, porque achou que ele expôs sua administração.
O anúncio da demissão foi feito depois de uma reunião entre Garotinho, Quintal e Louzada, que chegou a levantar a possibilidade de entregar o cargo. O governo não admite, mas temia que os policiais, irritados com Soares, iniciassem uma "operação tartaruga" para não investigar os casos.
Garotinho afirmou que as denúncias feitas por seu ex-assessor serão investigadas. Disse que ele não foi demitido pelas denúncias, mas pela quebra de confiança.
"Cargo de confiança, o nome já diz, é de confiança. Eu não posso tê-lo num cargo de confiança se ele não tem a confiança do superior dele, que é o secretário."
A queda-de-braço entre Soares e Quintal se arrastava havia pelo menos seis meses. Com a saída do coordenador, o secretário vai acumular as duas funções. Presidirá também a comissão que vai apurar as denúncias contra policiais.
As declarações de Soares levaram à demissão do corregedor da Polícia Civil, Waldyr Arruda. Para o seu lugar foi indicado ontem o delegado José Vercillo Filho.
A equipe de Soares na subsecretaria de Pesquisa e Cidadania -função que ele acumulava com a de coordenador- se demitiu em conjunto. Entre os que deixaram os cargos está a ouvidora Julita Lemgruber. Ela reclamou da lentidão e do corporativismo das corregedorias, encarregadas de apurar denúncias contra policiais.
Ela disse que, em um ano de existência, a Ouvidoria -implantada por Soares- recebeu 1.988 denúncias de crimes cometidos por policiais. Dessas, de 20% a 25% são comprovadas. As principais denúncias contra a Polícia Militar são de homicídios e desaparecimentos de pessoas. Contra a Polícia Civil, de extorsão.
Garotinho nomeou ontem para assumir a Ouvidoria a promotora Maria Aparecida Dias. Será enviada no mês que vem à Assembléia Legislativa uma mensagem propondo a unificação das corregedorias da Polícia Civil e da PM, com coordenação de alguém de fora do meio policial.



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