São Paulo, sábado, 18 de março de 2000


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VIOLÊNCIA
Outros camelôs que também denunciaram esquema temem ser as próximas vítimas de atentados
Caso Nicéa acirra ameaças, diz camelô

SORAYA AGÉGE
da Reportagem Local

Testemunhas do esquema de corrupção envolvendo a Prefeitura de São Paulo e vereadores da cidade afirmaram ontem que passaram a sofrer novas ameaças de morte na última semana, desde que a ex-primeira-dama Nicéa Pitta apresentou suas denúncias.
Dois líderes dos ambulantes, que estão sem proteção especial, se consideram as próximas vítimas fatais da máfia da propina. Ambos já foram vítimas de antentados quando denunciaram o caso, na semana passada.
Gilberto Monteiro da Silva, presidente da Associação dos Camelôs de São Paulo, morto anteontem, teria se decidido a manter o teor de suas denúncias em investigações futuras e estava sendo ameaçado novamente após as denúncias de Nicéa. Há dois meses, Silva inocentou o deputado cassado Hanna Garib, expulso do PPB.
A diretora do Sindicato dos Camelôs Independentes de São Paulo, Ana Maria Gasques, 52, disse ontem à Folha que na véspera do assassinato de Silva recebeu vários telefonemas com ameaças.
"Eles davam gargalhadas e depois desligavam, durante toda a madrugada. Também ligam e dizem: "Você vai morrer'", disse.
Ana Maria tem um "bina" (aparelho que detecta a origem do telefonema) acoplada ao telefone de sua casa e disse que registrou números de orelhões e de um celular de São José dos Campos (97 km de São Paulo). "Vou levar o número para a polícia, mas eu já liguei e um homem disse que tinha emprestado o celular."
De acordo com a sindicalista, as ameaças têm sido constantes. "Há uma semana, eles fecharam o cerco contra o Gilberto. Eu e o Afonso (Afonso José da Silva, presidente do sindicato) também passamos a ser ameaçados. Recebi cerca de 40 telefonemas", disse.
Ana Maria afirmou que chegou a se reunir com Silva e Afonso para discutir o caso. "Quando a Nicéa abriu a boca, falando o que tínhamos dito havia um ano, o chumbo começou."
Segundo ela, ficou combinado entre os líderes dos camelôs que as denúncias já apresentadas ao Ministério Público Estadual seriam mantidas. "O Gilberto disse: "Agora eu sei que vou morrer de qualquer jeito. Então, é melhor falar o que é preciso'", disse.
O promotor de Justiça Carlos Cardoso, do Provita (Programa de Proteção às Vítimas e Testemunhas Ameaçadas), disse que os ambulantes não se inscreveram no programa. "Mas se forem incluídos, terão que seguir normas rígidas". disse.

As denúncias
Ana Maria, em conjunto com Afonso José da Silva, denunciou um esquema de cobrança de barracas no Brás e de "caixinha" entre comerciantes da região para expulsar camelôs. O esquema envolveria Garib e o então presidente da Associação dos Comerciantes do Brás, Wehbe Dawalabi, que está foragido.



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