São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2001

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SAÚDE

Medida atinge todos os produtos a base de mercúrio; farmácias e laboratórios têm 60 dias para recolher medicamentos

Governo proíbe a produção de Merthiolate

LISANDRA PARAGUASSÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Produtos a base de mercúrio usados para limpar ferimentos, como o mercurocromo e o tiomersal (princípio ativo da marca Merthiolate), estão proibidos de serem produzidos ou vendidos no país a partir de hoje.
Uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que será publicada hoje, suspende a venda dos produtos no país. As farmácias e os laboratórios terão 60 dias para retirar os medicamentos do mercado.
A intenção da Anvisa é diminuir a oferta de remédios que contenham o mercúrio, um metal pesado, na fórmula. Em doses altas, o metal pode provocar intoxicação e outros problemas de saúde.
Os anti-sépticos usados em machucados têm doses muito pequenas de mercúrio e, sozinhos, não fazem mal à saúde. "O problema é a soma de fontes do metal à qual a pessoa está sujeita", afirmou o presidente da Anvisa, Gonzalo Vecina. "Queremos diminuir ao máximo as fontes possíveis de mercúrio", disse.
O mercurocromo e o tiomersal não são mais usados em hospitais desde 1991. Segundo Vecina, a medida foi adotada porque em atendimentos hospitalares normalmente a superfície a ser limpa é grande, o que exige dose maior de mercurocromo, podendo aumentar a absorção do metal.
A Anvisa não sabe quantos produtos a base de mercúrio são vendidos hoje porque não é necessário o registro na agência.
Nos guias de medicamento, aparecem pelo menos 15 produtos contendo mercuriais como tiomersal ou timerosal.
"A suspensão da venda não é uma notícia muito preocupante", afirmou o ministro da Saúde, José Serra. "Um ferimento doméstico pode ser melhor tratado com água e sabão." Segundo o ministro, também existem outros produtos que podem substituir com vantagem a limpeza de ferimentos domésticos. Um exemplo são os anti-sépticos feitos com iodo.
A decisão de proibir os medicamentos a base de mercúrio ocorre depois de o jornalista Boris Casoy levantar, nos últimos dias, o problema no "Jornal da Record".
A resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária será publicada hoje no "Diário Oficial" da União. As empresas que não retirarem seus produtos do mercado nos próximos 60 dias serão autuadas e poderão ser multadas.
Os valores das multas variam de R$ 2.000 a R$ 50 mil, dependendo do tipo de infração.
Uma portaria do Ministério da Saúde, que foi publicada em 1998, já tratava do uso de anti-sépticos e esterilizantes. Segundo a medida, não era recomendada a utilização de fórmulas contendo acetona, éter, clorofôrmio e mercuriais orgânicos, como tiomersal, com a finalidade de anti-séptico. A portaria 2.616 do ministério também estabelece normas para o controle de infecções hospitalares.

Outro lado
O laboratório Eli Lilly, que produz o Merthiolate, divulgou nota ontem à noite informando que cumprirá o "texto da resolução".
"Continuamos a assegurar a eficácia e a segurança da atual fórmula do Merthiolate e estaremos adequando a mesma às novas exigências da Anvisa, como já anteriormente sugerido pela própria Eli Lilly." Segundo a nota do laboratório, o "Merthiolate continuará a existir no mercado, com sua fórmula modificada".
Nos EUA, os mercuriais foram retirados do mercado pelo governo em 1998. Segundo a Lilly norte-americana, a empresa já tinha decidido em 1991, "por questões puramente mercadológicas, retirar o produto daquele mercado".


Colaborou Leila Suwwan, da Sucursal de Brasília


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