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SAÚDE
Medida atinge todos os produtos a base de mercúrio; farmácias e laboratórios têm 60 dias para recolher medicamentos
Governo proíbe a produção de Merthiolate
LISANDRA PARAGUASSÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Produtos a base de mercúrio
usados para limpar ferimentos,
como o mercurocromo e o tiomersal (princípio ativo da marca
Merthiolate), estão proibidos de
serem produzidos ou vendidos
no país a partir de hoje.
Uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), que será publicada hoje,
suspende a venda dos produtos
no país. As farmácias e os laboratórios terão 60 dias para retirar os
medicamentos do mercado.
A intenção da Anvisa é diminuir
a oferta de remédios que contenham o mercúrio, um metal pesado, na fórmula. Em doses altas, o
metal pode provocar intoxicação
e outros problemas de saúde.
Os anti-sépticos usados em machucados têm doses muito pequenas de mercúrio e, sozinhos,
não fazem mal à saúde. "O problema é a soma de fontes do metal
à qual a pessoa está sujeita", afirmou o presidente da Anvisa,
Gonzalo Vecina. "Queremos diminuir ao máximo as fontes possíveis de mercúrio", disse.
O mercurocromo e o tiomersal
não são mais usados em hospitais
desde 1991. Segundo Vecina, a
medida foi adotada porque em
atendimentos hospitalares normalmente a superfície a ser limpa
é grande, o que exige dose maior
de mercurocromo, podendo aumentar a absorção do metal.
A Anvisa não sabe quantos produtos a base de mercúrio são vendidos hoje porque não é necessário o registro na agência.
Nos guias de medicamento,
aparecem pelo menos 15 produtos contendo mercuriais como
tiomersal ou timerosal.
"A suspensão da venda não é
uma notícia muito preocupante",
afirmou o ministro da Saúde, José
Serra. "Um ferimento doméstico
pode ser melhor tratado com
água e sabão." Segundo o ministro, também existem outros produtos que podem substituir com
vantagem a limpeza de ferimentos domésticos. Um exemplo são
os anti-sépticos feitos com iodo.
A decisão de proibir os medicamentos a base de mercúrio ocorre
depois de o jornalista Boris Casoy
levantar, nos últimos dias, o problema no "Jornal da Record".
A resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária será
publicada hoje no "Diário Oficial"
da União. As empresas que não
retirarem seus produtos do mercado nos próximos 60 dias serão
autuadas e poderão ser multadas.
Os valores das multas variam de
R$ 2.000 a R$ 50 mil, dependendo
do tipo de infração.
Uma portaria do Ministério da
Saúde, que foi publicada em 1998,
já tratava do uso de anti-sépticos e
esterilizantes. Segundo a medida,
não era recomendada a utilização
de fórmulas contendo acetona,
éter, clorofôrmio e mercuriais orgânicos, como tiomersal, com a finalidade de anti-séptico. A portaria 2.616 do ministério também
estabelece normas para o controle
de infecções hospitalares.
Outro lado
O laboratório Eli Lilly, que produz o Merthiolate, divulgou nota
ontem à noite informando que
cumprirá o "texto da resolução".
"Continuamos a assegurar a eficácia e a segurança da atual fórmula do Merthiolate e estaremos
adequando a mesma às novas exigências da Anvisa, como já anteriormente sugerido pela própria
Eli Lilly." Segundo a nota do laboratório, o "Merthiolate continuará a existir no mercado, com sua
fórmula modificada".
Nos EUA, os mercuriais foram
retirados do mercado pelo governo em 1998. Segundo a Lilly norte-americana, a empresa já tinha
decidido em 1991, "por questões
puramente mercadológicas, retirar o produto daquele mercado".
Colaborou Leila Suwwan, da Sucursal
de Brasília
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