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SEGURANÇA
Presidentes do STF e do STJ, além de advogados e professores, criticam o projeto que eleva prisão para 40 anos
Aumento de pena é apontado como ineficaz
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais uma medida ineficaz de
combate ao crime. Foi assim que
os presidentes do STF e do STJ,
além de advogados criminalistas e
especialistas em segurança pública ouvidos pela Folha, classificaram projeto aprovado pelo Senado que prevê o aumento do tempo máximo de prisão previsto no
Código Penal de 30 para 40 anos .
O projeto também eleva a pena
para homicídios qualificados, que
passa de 12 a 30 anos para de 20 a
40 anos. A proposta ainda será votada na Câmara dos Deputados.
Marco Aurélio de Mello, presidente do STF (Supremo Tribunal
Federal), e Nilson Naves, que preside o STJ (Superior Tribunal de
Justiça), dizem que o aumento do
tempo máximo de prisão previsto
no Código Penal não irá prevenir
ou evitar a criminalidade.
"Desde quando lei exacerbada
evita criminalidade? Nos Estados
Unidos há pena de morte e ainda
assim há muita criminalidade. O
que o Brasil precisa é gerar 1,3 milhão de empregos por ano. O Estado tem cuidado muito mais do
controle inflacionário do que de
política social", disse Marco Aurélio, do STF.
Já para Naves, do STJ, o cumprimento da pena é que precisaria
ser mais rigoroso. "É preciso que
a pena seja cumprida com rigor,
evitando privilégios. O endurecimento de penas não contribui para a prevenção", afirmou.
Para o presidente da OAB-SP,
Carlos Miguel Aidar, o projeto é
"mais uma cortina de fumaça", e
o aumento das penas não resulta
em diminuição da criminalidade.
"Isso não é solução. É mais uma
medida, mais um jogo de cena. O
que precisamos é ter uma aplicação efetiva da legislação vigente,
retirando do criminoso a sensação de impunidade que ele tem
perante a lei e o sistema. Os bandidos não vão deixar de agir pela
existência de uma pena maior."
Segundo Fernando Castelo
Branco, professor de processo criminal da PUC-SP, a sociedade
não deve acreditar que um aumento das penas vá solucionar e
combater a criminalidade.
"Se estivermos acreditando nisso, estaremos sempre andando no
caminho errado. O criminoso não
age pela extensão da pena, mas
sim pela inércia do Estado", diz.
O presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim), Marco Antonio Rodrigues
Nahum, afirma que o projeto é
"demagógico". Ele lembra que, há
alguns anos, houve mudanças na
legislação do sequestro -que
passou a ser classificado como
crime hediondo -e que, nem por
isso, houve redução nas estatísticas e números de casos.
Além de aumentar o tempo da
pena, o projeto eleva a gravidade
do crime de homicídio contra
magistrados, membros do Ministério Público, jurados e policiais.
Essa questão divide a opinião dos
especialistas. Alguns dizem que
ela é apenas uma "resposta emocional" aos casos dos assassinatos
dos juízes em Presidente Prudente (SP) e em Vila Velha (ES), no
mês passado. Já o coronel José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança Pública, acredita que haja eficácia nesse ponto
do projeto e propõe também a inclusão de oficiais de Justiça.
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