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Guerra do tráfico mata 13 e invade velório
Traficantes tentaram invadir morro no Rio, e 3 pessoas foram atingidas por balas perdidas; horas antes, em outro tiroteio, polícia matou 6
Polícia Militar prendeu pelo menos sete traficantes que se esconderam em um cemitério; quatro velórios foram suspensos
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
ITALO NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Uma disputa entre facções
criminosas pelo controle de
pontos-de-venda de drogas na
zona central do Rio de Janeiro
-com pelo menos 13 supostos
criminosos mortos e três pessoas atingidas por balas perdidas, uma delas dentro de um
ônibus- levou ao desespero e à
correria centenas de cariocas.
Após a intervenção da polícia, o confronto chegou até a
um cemitério, aterrorizando
dezenas de pessoas que velavam seus parentes.
O tiroteio começou por volta
das 4h, quando um grupo liderado por Thiago de Melo Castro, 23, o Thiaguinho, da facção
CV (Comando Vermelho), invadiu o morro da Mineira com
a ajuda de pelo menos 20 homens de morros "amigos", como a Mangueira e Alemão.
Vestidos com camisetas vermelhas e pretas, buscavam retomar os pontos-de-venda de
drogas do morro da Mineira,
dos quais haviam perdido o
controle para a ADA (Amigo
dos Amigos) em janeiro. De
acordo com os moradores do
morro do Catumbi, a troca de
tiros durou mais de duas horas
de forma quase ininterrupta.
A guerra entre as facções
ocorreu poucas horas após outro tiroteio envolvendo traficantes, em Senador Camará, na
zona oeste. Na ação, a PM matou seis supostos traficantes.
Polícia
A Polícia Militar usou 80 homens, um helicóptero e ao menos dois carros blindados. Onze
supostos traficantes foram presos, tendo seis sido feridos. Foram apreendidos oito fuzis,
quatro pistolas, duas granadas
e seis carregadores de munição.
Diego Felipe Lima, 22, foi a
primeira vítima de bala perdida. Ele foi atingido no tórax em
uma rua do Rio Comprido,
também próxima ao morro.
Encaminhado ao hospital, ele
foi operado e passa bem.
A Polícia Militar tentou intervir e, por volta das 7h, já havia fechado a rua Itapiru, que
circunda parte do morro.
O túnel Santa Bárbara (que
liga a zona sul ao centro) também foi fechado por cerca de 40
minutos. O trânsito na região
ficou ainda mais congestionado
por causa de um acidente envolvendo três ônibus, três carros e um caminhão dentro do
túnel Santa Bárbara, às 6h50.
Pouco depois das 7h, Jorge
Henrique Cruz Santos foi baleado na cabeça dentro do ônibus em que viajava, no viaduto
que dá acesso ao túnel. Ele foi
socorrido pela PM e levado a
um hospital, onde foi atendido
e não corre risco de morte.
Às 9h, novo tiroteio levou pavor aos moradores das redondezas. Pessoas que estavam em
um ponto de ônibus próximo
ao morro choravam, crianças
corriam desesperadas, e a Polícia Militar trocava tiros do asfalto com os criminosos que estavam no alto do morro.
Em seguida, a PM foi em busca de traficantes dentro do cemitério. Ali, prendeu sete. Cinco estavam escondidos em um
caminhão de entulho, com pistolas e fuzis. O sexto se escondia em uma capela, onde um
corpo aguardava para ser velado, e outro nos corredores.
De dentro do cemitério, policiais atiraram em direção ao
morro e os traficantes revidaram, levando medo a dezenas
de pessoas. Quatro velórios foram suspensos.
O "Caveirão", veículo blindado do Bope (Batalhão de Operações Especiais), ficou parte
da manhã posicionado em frente ao cemitério. Depois, participou da coleta de corpos dos criminosos atingidos por balas e
levados para o hospital Souza
Aguiar, no centro.
Em outro momento, numa
fuga, um dos criminosos atravessou as pistas que dão acesso
ao túnel em direção a outro
morro. Estava com um fuzil na
mão e as costas feridas por um
tiro. Foi preso horas depois.
Durante toda a tarde, a PM fez
buscas no morro.
Os tiroteios continuaram e,
às 13h, mais três criminosos foram mortos. A polícia admite
que matou quatro das 13 vítimas. As demais teriam sido
mortas em confronto com traficantes rivais.
O feirante Reginaldo da Silva,
37, foi baleado na barriga quando descia por um dos acessos ao
morro por volta do meio-dia e
levado ao hospital. A faxineira
Michele da Silva, 25, que acompanhava o primo, disse que foi o
pior tiroteio que já presenciou.
"Ele até tinha esperado o tiroteio para descer o morro.
Quando saiu de casa, já tinha
acalmado. Depois, voltou e ele
foi baleado", contou Michele.
Nascida e criada no morro, a faxineira disse que "tem medo de
voltar".
Seis supostos criminosos
também foram feridos por tiros
e atendidos no hospital. Um deles permanecia internado. Apenas três criminosos mortos foram identificados (eles tinham
entre 20 e 25 anos, segundo o
hospital): Tarcísio Edgar da Silva, Alan Duarte Moraes e André Ferreira Costa.
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