São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2007

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Guerra do tráfico mata 13 e invade velório

Traficantes tentaram invadir morro no Rio, e 3 pessoas foram atingidas por balas perdidas; horas antes, em outro tiroteio, polícia matou 6

Polícia Militar prendeu pelo menos sete traficantes que se esconderam em um cemitério; quatro velórios foram suspensos

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

ITALO NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Uma disputa entre facções criminosas pelo controle de pontos-de-venda de drogas na zona central do Rio de Janeiro -com pelo menos 13 supostos criminosos mortos e três pessoas atingidas por balas perdidas, uma delas dentro de um ônibus- levou ao desespero e à correria centenas de cariocas.
Após a intervenção da polícia, o confronto chegou até a um cemitério, aterrorizando dezenas de pessoas que velavam seus parentes.
O tiroteio começou por volta das 4h, quando um grupo liderado por Thiago de Melo Castro, 23, o Thiaguinho, da facção CV (Comando Vermelho), invadiu o morro da Mineira com a ajuda de pelo menos 20 homens de morros "amigos", como a Mangueira e Alemão.
Vestidos com camisetas vermelhas e pretas, buscavam retomar os pontos-de-venda de drogas do morro da Mineira, dos quais haviam perdido o controle para a ADA (Amigo dos Amigos) em janeiro. De acordo com os moradores do morro do Catumbi, a troca de tiros durou mais de duas horas de forma quase ininterrupta.
A guerra entre as facções ocorreu poucas horas após outro tiroteio envolvendo traficantes, em Senador Camará, na zona oeste. Na ação, a PM matou seis supostos traficantes.

Polícia
A Polícia Militar usou 80 homens, um helicóptero e ao menos dois carros blindados. Onze supostos traficantes foram presos, tendo seis sido feridos. Foram apreendidos oito fuzis, quatro pistolas, duas granadas e seis carregadores de munição.
Diego Felipe Lima, 22, foi a primeira vítima de bala perdida. Ele foi atingido no tórax em uma rua do Rio Comprido, também próxima ao morro. Encaminhado ao hospital, ele foi operado e passa bem.
A Polícia Militar tentou intervir e, por volta das 7h, já havia fechado a rua Itapiru, que circunda parte do morro.
O túnel Santa Bárbara (que liga a zona sul ao centro) também foi fechado por cerca de 40 minutos. O trânsito na região ficou ainda mais congestionado por causa de um acidente envolvendo três ônibus, três carros e um caminhão dentro do túnel Santa Bárbara, às 6h50.
Pouco depois das 7h, Jorge Henrique Cruz Santos foi baleado na cabeça dentro do ônibus em que viajava, no viaduto que dá acesso ao túnel. Ele foi socorrido pela PM e levado a um hospital, onde foi atendido e não corre risco de morte.
Às 9h, novo tiroteio levou pavor aos moradores das redondezas. Pessoas que estavam em um ponto de ônibus próximo ao morro choravam, crianças corriam desesperadas, e a Polícia Militar trocava tiros do asfalto com os criminosos que estavam no alto do morro.
Em seguida, a PM foi em busca de traficantes dentro do cemitério. Ali, prendeu sete. Cinco estavam escondidos em um caminhão de entulho, com pistolas e fuzis. O sexto se escondia em uma capela, onde um corpo aguardava para ser velado, e outro nos corredores.
De dentro do cemitério, policiais atiraram em direção ao morro e os traficantes revidaram, levando medo a dezenas de pessoas. Quatro velórios foram suspensos.
O "Caveirão", veículo blindado do Bope (Batalhão de Operações Especiais), ficou parte da manhã posicionado em frente ao cemitério. Depois, participou da coleta de corpos dos criminosos atingidos por balas e levados para o hospital Souza Aguiar, no centro.
Em outro momento, numa fuga, um dos criminosos atravessou as pistas que dão acesso ao túnel em direção a outro morro. Estava com um fuzil na mão e as costas feridas por um tiro. Foi preso horas depois. Durante toda a tarde, a PM fez buscas no morro.
Os tiroteios continuaram e, às 13h, mais três criminosos foram mortos. A polícia admite que matou quatro das 13 vítimas. As demais teriam sido mortas em confronto com traficantes rivais.
O feirante Reginaldo da Silva, 37, foi baleado na barriga quando descia por um dos acessos ao morro por volta do meio-dia e levado ao hospital. A faxineira Michele da Silva, 25, que acompanhava o primo, disse que foi o pior tiroteio que já presenciou.
"Ele até tinha esperado o tiroteio para descer o morro. Quando saiu de casa, já tinha acalmado. Depois, voltou e ele foi baleado", contou Michele. Nascida e criada no morro, a faxineira disse que "tem medo de voltar".
Seis supostos criminosos também foram feridos por tiros e atendidos no hospital. Um deles permanecia internado. Apenas três criminosos mortos foram identificados (eles tinham entre 20 e 25 anos, segundo o hospital): Tarcísio Edgar da Silva, Alan Duarte Moraes e André Ferreira Costa.


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