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Padre acusa padre de falsidade ideológica
Os dois e pessoas que estavam em velório foram parar em DP
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois padres e parentes de um
morto prestes a ser enterrado
no Cemitério da Quarta Parada, na zona leste de São Paulo,
foram parar na delegacia, no
início da tarde de ontem.
O representante da Igreja
Católica Apostólica Romana,
padre José Florêncio, acusou
Marcos Rodrigues Fontana, da
Igreja Católica Apostólica Reunida no Brasil, de falsidade
ideológica e cobrança por serviços de orações.
Paramentado com batina e
crucifixo, Marcos, 46, teria sido
chamado por um casal de fiéis
para rezar no túmulo de um parente sepultado no Cemitério
da Quarta Parada quando, ao
sair, foi abordado por uma família pedindo que ele fizesse
uma oração pelo ente que estavam velando.
O padre teria dito que era da
Igreja Católica, sem deixar claro que não era a apostólica romana, mas a reunida do Brasil.
Ao entrar no velório, Roberto
Barbosa, ministro da Paróquia
São Carlos Borromeu do Belém, abordou o padre Marcos e
pediu sua identificação. Representantes da Igreja Católica já
desconfiavam de sua atuação e
tinham alertado a administração do cemitério sobre ele.
De acordo com funcionários
do Quarta Parada, o padre é freqüentemente visto no local há
mais de um ano, apesar da Igreja Católica Apostólica Reunida
no Brasil ficar em Guarulhos e
não ter representação na capital paulista.
Ainda segundo funcionários,
ele já teria sido visto abordando
famílias de mortos no estacionamento do local e cobrando
R$ 100 pelas missas de corpo
presente.
O padre José Florêncio, que
foi chamado por Barbosa e acabou indo para a delegacia prestar queixa, afirmou que Marcos
não costumava cobrar um valor
antecipadamente, mas, após fazer a celebração, pedia doações
para a igreja.
"Ele usa de má-fé, confunde
as pessoas dizendo que é da
Igreja Católica e se vestindo como nossos religiosos", afirma o
padre José Florêncio.
"O pior é que, ao pedir dinheiro, mancha nossa imagem.
Para nós, é proibido solicitar
doações nessas cerimônias",
explica.
O bispo José Elias, fundador
da Igreja Católica Apostólica
Reunida no Brasil em 1972, explica que sua entidade não pertence ao Vaticano, mas funciona legalmente no Brasil.
"Usamos roupas parecidas
com as usadas pelos sacerdotes
da Igreja Católica Apostólica
Romana e fazemos batizados,
casamentos e enterros. Nos velórios, não cobramos nada, só
dizemos que contribuições são
aceitas", afirmou ontem à Folha, por telefone.
"O problema é que a Igreja
Católica Apostólica Romana se
acha dona de tudo e causou a
maior confusão."
O bispo José Elias diz que o
padre Marcos só vai ao Cemitério da Quarta Parada quando é
chamado. "Por coincidência,
essa família o interceptou."
Na delegacia, a família que
teria abordado o padre não
confirmou se ele cobrou ou não
algum valor antecipadamente.
A administração do Cemitério da Quarta Parada informou
ontem nunca ter recebido reclamação em relação à ação do
padre Marcos nem saber de
possíveis cobranças pelas missas realizadas por ele.
José Carlos dos Santos, delegado-assistente do 57º DP, para
onde todos foram levados, fez
um termo circunstanciado
(ocorrência) de falsidade ideológica sobre o caso. O documento será encaminhado a um
juiz, que ouvirá os envolvidos.
"Em 35 anos de carreira,
nunca vi um caso assim, de um
padre acusando outro. Vamos
ver como vai terminar", afirmou o delegado-assistente.
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