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SAÚDE
Infecção hospitalar é a causa mais provável das mortes registradas no Hospital Santa Izabel, em Cabo Frio
Rio investiga morte de 80 bebês em 9 meses
FERNANDA DA ESCÓSSIA
enviada especial a Cabo Frio (RJ)
A Secretaria da Saúde do Estado
do Rio abriu auditoria ontem para
investigar a causa das mortes de
pelo menos 80 recém-nascidos internados nos últimos nove meses
no Hospital Santa Izabel, em Cabo
Frio (a 170 km do Rio).
A causa mais provável das mortes é infecção hospitalar. A denúncia foi feita pelos pais das crianças
à Secretaria da Saúde e ao Ministério Público. Eles obtiveram o número de mortes em pesquisa no
cartório de registros civis.
O Hospital Santa Izabel é administrado por uma irmandade católica. As crianças estavam internadas na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) neonatal, arrendada ao pediatra Luiz Cavalcante
Lopes há um ano e meio.
Neste ano morreram 17 bebês.
Um grupo de pais entregou os
atestados de óbito de 48 crianças
ao Ministério Público. Destas, 35
teriam morrido por causa de infecção hospitalar generalizada.
Exames solicitados pelos pais revelam que pelo menos quatro bebês foram infectados pela bactéria
Klebsiella pneumoneae, uma das
responsáveis pelas mortes de 33
bebês em Roraima, em 96.
Segundo o promotor Fador
Sampaio, os pais se queixaram de
falta de higiene do hospital e dos
médicos. Sampaio determinou a
abertura de inquérito.
Nicolas Granzella Eboli foi um
dos bebês infectados pela bactéria.
Ele morreu no dia 16 de setembro
de 96, aos cinco dias de vida.
Segundo o engenheiro César
Eboli, pai de Nicolas, seu filho nasceu prematuro, mas saudável. O
laudo do hospital indicou que o
bebê morreu por causa de infecção
intra-uterina. O engenheiro e sua
mulher, Marcella Granzella, obtiveram laudo fornecido por outro
médico atestando que o garoto
não tinha infecção. Outro exame
comprovou a contaminação pela
Klebsiella pneumoneae.
O diretor da UTI, Luiz Cavalcante Lopes, não forneceu o número
exato de mortes e disse que, desde
a abertura da UTI, houve mais de
500 internações. ``O número de
mortes é normal se comparado ao
volume de internações.''
Em fevereiro, Lopes contratou
uma empresa particular de consultoria médica para inspecionar a
UTI. O laudo foi entregue ontem
ao técnico da Vigilância Sanitária,
Sílvio Carlos Pourchet. Pourchet
disse que a UTI tinha boas condições de higiene. Seis bebês permanecem internados. Segundo Pourchet, técnicos da Secretaria da Saúde visitarão hoje a UTI e colherão
material para análise laboratorial.
Um grupo de pais também denunciou as mortes à Secretaria da
Saúde em dezembro de 96. Duas
inspeções em 96 não verificaram
problemas. O diretor do hospital,
Marco Couto, disse que a clínica
não tem responsabilidade técnica
nem jurídica sobre as mortes.
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