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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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DANUZA LEÃO

Mistérios

Um rosto é algo de muito interessante -e estranho. Numa superfície de cerca de um palmo por um palmo, existem variados elementos, todos absolutamente diferentes uns dos outros, e o conjunto, misteriosamente, dá certo.
Começando pelas sobrancelhas: elas são duas, e praticamente iguais. Algumas são espessas, outras ralas, umas pretas, umas castanhas, retas, em arco ou em forma de acento circunflexo, como as de Veronica Lake.
As sobrancelhas são uma espécie de moldura para os olhos, que podem ser de diferentes formas e cores. Existem os grandes, os pequenos, os redondos, os amendoados, os puxados; e ainda têm as cores: todas as gamas de verde e de azul, variados tons de marrom, do quase dourado ao café, os cor de cana e os mais raros: os negros. Não sei bem por que, mas nunca se diz olhos pretos, sempre olhos negros. E os olhos ainda têm uma particularidade: a expressão.
Olhos podem exprimir ódio, indiferença, paixão, piedade; por eles você sabe se a pessoa está sendo sincera ou se está mentindo, e ainda por cima eles enxergam; não é extraordinário?
Eles são dois, geralmente da mesma cor, e como acabamento têm, na parte de cima, bem grudadinho, uma espécie de franja que são os cílios, que podem ser curtos ou longos, retos ou curvos, pretos ou claros.
Aí tem o nariz. Não dá para falar das diferentes formas de nariz, mas só como comentário, um nariz perfeito pode banalizar um rosto e outro, imperfeito, dar personalidade a seu dono, que curioso. Um nariz é uma coisa milagrosa: ele cheira, não é o máximo?
Aí vem a boca, e tem gente que tem e gente que não tem, como Bush, por exemplo. Elas podem ser rosadas, quase vermelhas e, nas mais morenas, praticamente marrons. Uma boca bonita é uma coisa linda, e as dos bebês parecem uma goiaba madura. É através da boca que se sente o sabor dos alimentos, e isso não é maravilhoso?
Dentro da boca, os dentes. Esses podem ser de diversos tons e das mais diversas formas e tamanhos. Pequenos, grandes, claros, menos claros, alguns grandes demais, outros exatamente o contrário. E ainda tem a pele, que pode ser clara, marrom, rosada e até azul marinho, de tão preta; algumas têm pintinhas, umas são finas, outras grosseiras, umas lisas, outras vincadas, e a indústria da beleza gira trilhões de dólares só por causa dela. O que uma mulher não faz por um creme novo? Em volta desse conjunto, os cabelos; ah, os cabelos.
A gente nasce com eles lisos ou cheios de cachinhos, pretos, castanhos, cor de palha ou de cobre; com o tempo costumam acontecer mudanças de cor e eles ficam brancos como a neve; ah, não existe tédio na vida de uma mulher de cabelos compridos e com alguma imaginação. Ah, e ainda tem essa coisa estranhíssima que é a orelha -que, aliás, são duas. Costumam ser iguais e feias, e só se salvam as pequenas -quanto menores, melhor. Como se isso não bastasse, muitas pessoas fazem um furinho em uma ou nas duas para pendurar fios de ouro ou prata com pérolas e pedras preciosas, veja você. E elas escutam: não é fantástico?
É da harmonia desses elementos que surge essa coisa misteriosa que é a beleza, mas que fique claro: mesmo cada um deles sendo perfeito, não há garantia de nada.
Só para lembrar: nos dias de hoje, tudo o que foi citado pode ser transformado, da cor dos cabelos à dos olhos, da forma do nariz à da boca -como as mulheres, aliás, estão exaustas de saber. E tem mais: a não ser no caso de gêmeos idênticos, não existem duas caras iguais no mundo inteiro.
Não é engraçado?
Essa pequena superfície de que falamos -e na qual uma mulher vaidosa usa cerca de dez produtos para sair de casa (sem contar outros dez nos cabelos)- é apenas a parte da frente de uma esfera menor do que uma bola de futebol, e é dentro dela que acontecem as coisas mais surpreendentes: os pensamentos.
Os bons, os ruins, os criativos, os destrutivos, os ódios, as paixões, o caráter, a força de vontade, a fraqueza, tudo; absolutamente tudo.
Muito louco, não?

E-mail - danuza.leao@uol.com.br


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