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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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EDUCAÇÃO

Menina conta que, por conta do brincadeiras preconceituosas dos colegas, pensou até em abandonar os estudos

Ana Lúcia, 10, mudou de escola duas vezes

DA SUCURSAL DO RIO

Por causa de brincadeiras preconceituosas dos colegas de classe, a estudante negra Ana Luiza Monteiro, 10, teve que mudar duas vezes de escola até achar um colégio particular que tomasse uma atitude para acabar com os comentários racistas.
Ana Luiza é filha de uma família de classe média de Mesquita (cidade na Baixada Fluminense) e sempre estudou em colégios particulares. Por onde passou, ela teve que conviver com o fato de ser a única negra da classe ou até mesmo da escola.
Como os professores e a escola nada faziam para mudar essa situação, ela diz que chegou a perder o interesse pelos estudos. "Falavam que eu tinha cabelo duro, de Bombril. Eu reclamava com os professores, mas eles não faziam nada. Uma professora me disse que eu não tinha que ligar para as brincadeiras porque eu era uma menina linda e que isso [o preconceito] ia acontecer durante toda a minha vida. Mas eu queria é que ela mandasse eles pararem", conta Ana Luiza.
Ao ouvir o relato da estudante, sua mãe, a técnica de laboratório Fátima Monteiro, 35, tentou conversar com a direção dos colégios para que alguma atitude fosse tomada. Ela conta, no entanto, que apenas na escola atual de Ana Luiza a direção demonstrou sensibilidade para trabalhar com o tema.
"Nas outras escolas, eu cheguei a afirmar que, se eles não tomassem uma atitude, eu iria tomar. Mas, desta vez, a professora fez um trabalho de conscientização e as coisas melhoraram muito."
Apesar da situação enfrentada pela filha, Monteiro se sentiu orgulhosa com a postura de Ana Luiza. "No meu tempo de estudante, voltava para a casa chorando, sem dizer nada. Mas ela aprendeu a se defender e conversa comigo e com os professores quando se sente discriminada."
Ana Luiza dá a sua receita para agir em caso de preconceito: "Quando fazem isso comigo eu vou lá e falo que racismo é crime e que eu vou processar e reclamar com a diretora".


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